Os benefícios do Jiu-Jitsu para crianças com autismo, com o GMI Felipe Nilo

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Felipe Nilo, em foto de seu acervo pessoal. Foto:

Pioneiro no trabalho exclusivamente voltado ao autismo por meio do Jiu-Jitsu, o GMI Felipe Nilo exerce papel fundamental no desenvolvimento de diversas de crianças. O ex-atleta profissional de MMA, que já treinou com consagrados nomes da modalidade, como Rodrigo Minotauro e Anderson Silva, pendurou as luvas e buscou conhecimento para transformar milhares de vidas.

À frente do Espaço Felipe Nilo, o faixa-preta é o idealizador de cursos práticos direcionados a professores, praticantes de artes marciais e pais de crianças com autismo, com o intuito da aplicação de conhecimento em situações reais. Em bate-papo com a equipe do GRACIEMAG.com, Felipe explicou os benefícios do Jiu-Jitsu às pessoas com autismo, abordou a dificuldade dos professores em lidar com crianças dentro do espectro autista e disse o que o motivou a começar este trabalho.

GRACIEMAG: Quais são os benefícios da prática Jiu-Jitsu para as crianças com autismo?

FELIPE NILO: Um dos benefícios é o combate ao estresse, já que a pessoa com autismo tem a rotina de terapia muito intensa e pode se estressar. Outra questão importante é o aumento da autoconfiança porque o Jiu-Jitsu estimula bastante essa sensação ao praticante. É válido ressaltar o aumento de resistência física e o ganho de massa muscular, pois algumas pessoas com autismo têm problemas de hipotonia, então o esporte tem papel importante nesse ganho. O desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina e a melhora da parte relacional também podem ser citados, porque algumas pessoas com autismo têm dificuldades de interação social e formação de um ciclo de pessoas próximas, e o Jiu-Jitsu as auxilia a criar vínculos e amizades. Então podemos falar que o esporte ajuda o praticante a estabelecer um contato visual, que é uma das características de alguns dentro do espectro. Quando se fala em autismo, muitos pais pensam no bullying, que realmente existe. Mas o Jiu-Jitsu oferece a possibilidade da autodefesa. Digo, não ensinamos a criança a bater no colega, mas a saber se defender, se impor e a falar mais firme.

Poderia explicar em que consiste o seu curso Neurodesenvolvimento: Psicomotricidade, Esportes e Autismo?

Nosso curso Neurodesenvolvimento: Psicomotricidade, Esportes e Autismo foi elaborado com o intuito de desmistificar a teoria da prática. O objetivo do nosso curso é auxiliar professores, instrutores, praticantes e pais de crianças com autismo a obter conhecimento em situações reais, tanto no atendimento e no cotidiano com crianças com autismo. Abordamos também a questão introdutória da psicomotricidade, comportamento esperado para cada faixa etária do neurodesenvolvimento infantil e estruturas psicomotoras, que são formas de lidar com as crianças. Então, o propósito do curso é trazer esse conhecimento. Vale destacar que não é voltado apenas aos praticantes. Muitos professores vêm aprender, já que agrega valores no atendimento nas aulas de Jiu-Jitsu. Temos ocurso Módulo 1, específico a professores de artes marciais e vamos lançar o Módulo 2 em novembro.

Quais foram os grandes aprendizados ao longo desses anos?

O maior aprendizado é valorizar pequenos ganhos. No dia a dia normalizamos muitas situações e não damos o real valor. Depois que eu migrei para o desenvolvimento infantil através do esporte, aprendi a valorizar pequenas ações, como a execução de um golpe simples. Não tem preço ver uma criança sorrindo no tatame. É importante ter um olhar único e exclusivo a cada atendimento. Costumo dizer que precisamos aproveitar cada aula como se fosse a última e sempre darmos o nosso melhor.

Quando você iniciou o seu trabalho do Jiu-Jitsu com o autismo? E o que te motivou a tomar essa decisão?

Iniciei o trabalho com crianças com autismo em 2013. Antes, eu treinava MMA com o Rodrigo Minotauro e o Anderson Silva, cheguei a competir profissionalmente, mas perdi patrocínios e voltei a dar aulas por necessidade. Numa das aulas, me deparei com uma criança autista no grupo e não consegui fazer nada com ela, me senti desafiado. Comecei a estudar o autismo assim que cheguei em casa e logo percebi que as dificuldades que essas pessoas tinham poderiam ser trabalhadas através do Jiu-Jitsu. Foi aí que começou a minha busca pelo conhecimento. Mas, ao mesmo tempo, tive uma decepção: não existia profissionais no mundo que desenvolvessem um trabalho 100% voltado ao autismo por meio do esporte. Foi aí que passei a frequentar os maiores centros de desenvolvimento infantil para desenvolver métodos de aula. E hoje somos os pioneiros a ter essa dedicação exclusiva às crianças com autismo através do esporte. Tive que escolher entre o alto rendimento e o trabalho com as crianças. E eu não abri mão do meu sonho de ser um atleta do UFC ou do Bellator, ele apenas se transformou em outro, que era fazer a diferença na vida de jovens que precisavam de ajuda. Meu sonho era viver do esporte, e hoje faço isso. Transformo vidas com cursos, aulas e palestras ao redor do mundo.

Qual é a maior dificuldade que você percebe na abordagem dos professores com crianças com autismo?

A maior dificuldade que eu percebo é a falta de conhecimento. Já escutei muito de faixas-pretas que gostariam de começar a dar aula para crianças com autismo e tinham muitos anos como professor. Com todo respeito, isso não significa nada. Digo que quando elaboramos um trabalho para crianças e jovens com autismo é preciso deixar a faixa-preta de lado, colocar a faixa-branca e aprender do zero. Não existe nenhum autista igual ao outro. A maior dificuldade entre os professores na abordagem é a falta de estudos e aprimoramento constante. É preciso fazer uma abordagem correta com o aluno, criar um ambiente acolhedor e prestar atenção nos detalhes: entender se ele tem alguma questão sensorial, auditiva, verbal ou comunicativa prejudicada.

Que dicas você passaria para o professor acalmar o aluno com autismo?

O primeiro passo é descobrir o que antecedeu esse comportamento do seu aluno e começar a trabalhar a partir daí. É importante que o professor não aumente a voz com seu aluno, mesmo que seja na tentativa de ser ouvido por ele, e diminua as demandas. É interessante que ele fique perto da criança, sempre na altura dos olhos dela, e proteja-a se estiver se sacudindo. Além disso, é crucial que o mestre retire quaisquer objetos que possam machucá-las no caminho e crie um ambiente acolhedor. Não tente evitar os movimentos repetitivos (Estereotipias). No entanto, se a criança estiver machucando a si mesma, faça o seu melhor para fazê-la parar com isso.

Quais são os seus próximos objetivos à frente dos seus projetos?

Tenho muitos projetos grandes pela frente. Um deles é o curso com o Rodrigo Cavaca. Nosso objetivo é treinar e capacitar o maior número de professores pelo mundo, porque dessa maneira teremos academias preparadas para a inclusão de qualidade. O Jiu-Jitsu está espalhado em todo o mundo. Se conseguirmos capacitar um professor em cada cidade, vamos fazer a diferença na vida de milhões de pessoas com autismo e outras síndromes.

 

 

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