* Escrito por: Victor Oliveira
Você costuma dizer que dar aulas de Jiu-Jitsu é o seu grande talento e propósito de vida, certo? Quais os benefícios que um professor de Jiu-Jitsu oferece à comunidade onde ele atua?
FABRÍCIO LOPES: Exatamente! Eu sei que compartilhar conhecimento é o meu propósito de vida. Professores, de um modo geral, são os verdadeiros influenciadores da sociedade, têm um papel importante na formação do ser humano, um referencial. Assumindo a responsabilidade de orientar seu aluno numa jornada mental e física, o trabalho coerente tem o poder de impactar gerações. Defendo que o Jiu-Jitsu é uma ferramenta extraordinária para a transformação da personalidade de qualquer indivíduo, sobre o olhar que tem sobre si mesmo e sobre sua interação com os demais, o Jiu-Jitsu te apresenta ferramentas para viver. Todas as experiências no tatame – vitórias, derrotas, frustrações, conquistas – nos põem em nosso devido lugar de eterno aprendiz com a necessidade de buscar constante aprimoramento.
Além de professor, você tem uma carreira vitoriosa como competidor. Quais foram as suas principais conquistas e o que você aprendeu com elas? Ainda tem algum título que pretende conquistar?
Eu venho competindo desde a faixa-branca, tenho alguns títulos relevantes nas faixas coloridas e na faixa-preta. Algumas conquistas nacionais e outras internacionais. Esse ano fiz duas temporadas de competição nos EUA e ganhei alguns “Opens da IBJJF” competindo com e sem kimono. Investi bastante em conhecimento, principalmente nos campeonatos sem kimono. Sempre gostei de me testar. Sobre experiências em competições, gosto de lembrar de uma em especial, que me trouxe um aprendizado absurdo. O ano era 2009 e o campeonato foi o “Brasileiro de Equipes da CBJJ”. Aquele era meu quarto ano na faixa-roxa e não tinha nenhum título que considerasse relevante até então. As equipes estavam empatadas no placar e eu faria a última luta da rodada, para determinar quem passaria de fase. Havia a pressão sobre mim para ajudar meu time a passar de fase, e o pior, era contra um atleta pra quem eu havia perdido duas vezes naquele ano. A adrenalina e pressão estavam me consumindo… Comecei perdendo, o placar chegou a ser 5 a 0 e no último minuto consegui virar e finalizar. Conclusão: ajudei minha equipe a passar de fase e tirei um caminhão das minhas costas. Provei a teoria de que “a luta só acaba quando o tempo termina”. E o mais especial: aquela foi a primeira vez que consegui ganhar de alguém que era melhor do que eu. Quanto ao título que desejo conquistar, eu diria o “Mundial de Masters da IBJJF”. Este ano fui parado nas oitavas de final por uma torção severa no joelho. No próximo ano estarei lá, feliz e bem preparado para apresentar um bom Jiu-Jitsu.
Voltando ao trabalho à frente de um dojô, qual é o segredo para transformar um atleta mediano num grande campeão?
Partindo do princípio de que existe comprometimento de ambas as partes – professor/atleta – acredito que a metodologia irá determinar o caminho para a evolução desejada. Ainda na faixa-roxa, me aproximei do meu professor com o interesse de auxiliar nas aulas. Esse foi meu estágio no tatame, diria. Além disso, tenho licenciatura plena em Educação Física. Fiz alguns cursos de especialização na área de metodologia de treinamento. E, quanto mais eu estudo e vivo as experiências de tatame, acredito que a especificidade no treinamento é o caminho para a excelência.
Você está sempre treinando com ótima performance contra a garotada da sua equipe. Quais são os macetes para os atletas da divisão Master fazerem bonito contra os atletas adultos?
Metodologia e especificidade de treinamento são a chave para o bom desempenho. De acordo com as pesquisas e aplicações práticas, acredito não haver mais espaço para o método empírico, onde o conceito era treinar até a exaustão… e quando cansar continuar a treinar. A chance do atleta/praticante quebrar antes de atingir a performance desejada é grande.
Outra coisa que gostaria de enfatizar é a necessidade de trabalhar o Jiu-Jitsu defensivo. À medida que se envelhece, nossas valências físicas – força, potência, mobilidade, flexibilidade, etc. – entram em curva decrescente. Tudo isso é treinável, mas obviamente em escala proporcional à idade. E o Jiu-Jitsu defensivo, com a ação de visibilidade, antecipação, bloqueio e prevenção de movimentos dos companheiros de treino mais jovens é o que irá nos permitir ter longevidade nos treinos com os juvenis e adultos.
Qual é a frase motivacional que você gosta de repetir para você mesmo quando está passando por uma situação difícil na carreira?
Tem uma frase do Tom Brady, ex-quarterback da NFL, que foi bem sucedido no esporte e hoje é bem sucedido no mundo dos negócios, que traduzindo seria: “Não reclame, não explique, apenas apareça e faça o seu melhor.” Tenho grandes sonhos e objetivos na vida. E quem representa isso sou eu, com esforço e inteligência na ação.
Como você se define como professor de Jiu-Jitsu?
Sou amante do esporte, dedicado, estudioso, comprometido, atento, disciplinado. Você não conseguirá olhar para mim e fazer uma dissociação da minha pessoa e do Jiu-Jitsu, porque eu vivo isso 100% do tempo. Esse é o meu estilo de vida. Eu vivo para isso.
Posto isso, para falar da filosofia que permeia o trabalho que desenvolvo, você tem a sensibilidade de olhar para um grande grupo de alunos/companheiros de treino, enxergar, respeitar e atender a individualidade de cada um. Não se deve olhar para um grupo de maneira homogênea, pois cada um tem uma história e um objetivo em particular. Mesmo aqueles que querem ser competidores profissionais têm seu tempo e realidade.
Aos que assim como eu desejam viver do Jiu-Jitsu compartilhando conhecimento e contribuindo para a formação do indivíduo de forma integral, seja humilde e ponha-se na posição de eterno aprendiz. O Jiu-Jitsu é uma fonte i-nes-go-tá-vel de conhecimento!
Quando alguém hesita em treinar Jiu-Jitsu, o que você costuma dizer para convencer essa pessoa a vestir o kimono e começar a jornada na arte suave?
O slogan da escola em que me desenvolvi e pertenço é “JIU-JITSU PARA TODOS”. Uma das minhas missões é mostrar para uma pessoa com receio, dificuldade ou a errada ideia de não ser capaz de praticar esse esporte, é mostrar que o Jiu-Jitsu é tão grande, tão incrível, uma Arte Marcial, e antes de se tornar um especialista na luta, essa pessoa irá desenvolver uma série de habilidades físicas e psíquicas. Digo que o Jiu-Jitsu é uma ferramenta poderosíssima para o desenvolvimento físico e cognitivo. Alguns alunos ficarão felizes com medalhas conquistadas em campeonatos, outros se alegrarão com as vitórias nos desafios do cotidiano. E o professor realizado por ter feito parte da conquista dos objetivos do seu aluno.