O faixa-preta Tarcísio Jardim não teve vida fácil no último fim de semana, no Complexo Esportivo Rozendo Vasconcelos Lima, em Florianópolis. No Sul-Americano da CBJJ, o professor da Checkmat na Paraíba venceu o absoluto, mesmo contra a concorrência sempre dura do local Alexandre Souza (AS Team) e de Thiago Gaia (GFTeam), o finalista do absoluto.
Na final do peso, no entanto, Tarcísio deixou o ouro escapar no fim. Ele contou o que aprendeu, na vitória e na derrota.
GRACIEMAG: Qual foi seu maior obstáculo no absoluto do Sul-Americano?
TARCÍSIO JARDIM: Foi um campeonato diferente. Quase nem fui competir por conta de um problema nas passagens, e ainda me apareceu um furúnculo na perna direita [risos]. Pensei em não lutar, mas pelo Sul-Americano ser a última competição do ano não queria perder essa, o que me deixaria seis meses sem competir. Em julho me submeti a uma cirurgia no nariz e voltei a treinar na metade do mês passado. Mas devido ao apoio e incentivo dos meus patrocinadores, minha noiva, minha mãe e alunos, trinquei os dentes e fui para o campeonato. Graças a Deus foi uma competição inesquecível.
Sua melhor luta foi precisamente na final do absoluto, contra o Thiago Gaia (GFTeam), o campeão dos pesadíssimos, certo?
Foi, fiz tudo bem certinho, joguei guarda junto com ele e esperei que ele subisse, e na hora certa raspei e segurei o placar. Fiquei atento aos giros de omoplata dele, pois sabia que é sua posição mais forte. Gaia é muito pesado, uns 25kg a mais que eu, então não podia errar – seria complicado reverter o placar. Para raspar, segurei na guarda 50/50 até mais da metade da luta, tentando atacar o pé dele. Do meio para o fim da luta, abri a guarda fazendo uma pegada na perna e outra no braço, para ele não se levantar e subi. Ganhei dois pontos e venci. Tinha conversado com meu professor Léo Vieira a respeito de uma estratégia, ele me deu alguns toques e disse para pontuar primeiro. Ordens são ordens [risos]. Fui lá, executei o plano e para felicidade de todo mundo, fui campeão. Daí foi só festa.
E o que deu errado na final do peso pesado contra o Cássio Francis, da Gracie Barra?
Na final fiz tudo certo. Estava à frente do placar e agindo nos erros dele, mas no finzinho da luta, faltando um minuto, ele tentou me raspar e eu defendi ficando em pé. Com isso, acabamos saindo da área de luta e o juiz voltou o combate para o meio, com ele nas minhas costas e abraçando minha cintura – ao meu ver, errado. Era para o árbitro ter dado a vantagem ou até os dois pontos ao Cássio e voltar a luta em pé. Nessa hora ele deu um bote para pegar minhas costas, defendi os ganchos mas, faltando 20 segundos, ele me pegou no pescoço. Infelizmente não deu para segurar, méritos para ele que mereceu e sagrou-se campeão.
Como foi a semifinal do absoluto, contra o Alexandre Souza?
Ele é um cara de quem sempre fui fã, é um ótimo ser humano, bastante educado e cordial. Tracei um plano de luta para o Souza e pus em prática. No fim da luta parti para encaixar uma botinha nele, e ao tentar defender ele infelizmente machucou o joelho.
Que lições tirou do Sul-Americano?
Duas coisas fizeram a diferença nessa competição. Primeiro, a autoconfiança. Eu deixava a desejar nessa parte, acreditava em mim mas com limites, e isso é o pior adversário que existe. É preciso acreditar, confiar em você e em sua capacidade, ir para a luta com qualquer um e cair para dentro. Em segundo lugar, a cobrança. O professor de Jiu-Jitsu quer mostrar resultados para seus alunos e só pensa em não perder, e isso é muito ruim, trava você na hora da luta e termina dando tudo errado. Nesse Sul-Americano fiz tudo certo, confiei e falava para mim mesmo o tempo todo que iria levar peso e absoluto, que não me intimidaria com ninguém. Eu não me cobrei, sabe. Soltaria o jogo e lutaria em qualquer posição que caísse. Acho que todo mundo treina, todos acertam e erram, e comigo não seria diferente. Se fosse perder, perderia por mérito do adversário, e não por omissão minha.