A pedido da equipe GRACIEMAG, Luciano Ribeiro, o bravo fundador do Projeto Social Gurizada/Alliance Mário Reis em Porto Alegre, enumera a seguir os dez principais passos para quem sonha em treinar crianças de áreas carentes. Aprenda, a seguir, com nosso GMI, um dos primeiros instrutores do programa GRACIEMAG Indica.
Ensina, professor:
1. Espaço. O primeiro passo para montar um projeto social é buscar um espaço. Muitas academias não estão dispostas a ceder o local em função da inexistência de renda. A dica é buscar um local junto a associações, escolas ou ONGs, instituições geralmente receptivas a esse tipo de trabalho, e que ainda podem gerar benefícios ao seu projeto.
2. Área de luta. Geralmente as academias substituem os antigos tatames rasgados ou estragados por novos, e se alegram em doá-los, até para desocupar o espaço. Distribuidoras ou fábricas, às vezes, doam ou vendem com valores acessíveis as peças que estão fora do padrão. Caso opte por montar tatame de lona, é fácil conseguir as raspas em empresas de recapagem e pneu, fábricas e borracharias. Lonas são sempre doadas por empresas de transporte que descartam as rasgadas.
3. Kimonos. Os trajes geralmente são a parte fácil do projeto, pois você certamente terá companheiros de treino que possuem kimonos que não utilizam mais, e vão adorar colaborar. Algumas fábricas, após acompanhar o desempenho do projeto, fornecem kimonos infantis como forma de patrocínio, mas isso vem com os resultados em campeonatos.
4. Jovens. Gosto de me referir às crianças como atletas, pois deixa o trabalho mais sério e profissional. Os primeiros atletas geralmente são familiares de praticantes de Jiu-Jitsu. É legal com o tempo ir buscar crianças em escolas próximas e em associações. Aqui em Porto Alegre buscamos crianças abrigadas em entidades do governo, afinal essas possuem geralmente energia e disposição para gastar nos tatames.
5. Legislação. Para conseguir benefícios do governo é necessário que o projeto seja legalizado. A forma mais comum é criar uma associação ou uma ONG, e a partir daí se cadastrar junto a prefeituras e secretarias de esporte. Mesmo com todas as formalidades cumpridas, não é tão fácil receber apoio de órgãos públicos, pois a burocracia atrasa muito as ajudas governamentais. É o que leva os professores a desistir no meio do caminho.
6. Seriedade. Procure manter desde o início o máximo de seriedade. Algumas decisões são importante para que seu trabalho ganhe força, como manter-se afastado de padrinhos políticos – pode ser que isso não seja bem visto aos olhos das pessoas que realmente querem ajudar, principalmente quando envolver valores. Manter proximidade com os familiares dos atletas é fundamental, pois há sempre campeonatos em outros estados, e os familiares precisam possuir confiança no seu trabalho. Tenha sempre a mente aberta para solucionar os obstáculos que venham a aparecer.
7. Faixa etária: Escolha uma faixa etária para ensinar. No Projeto Social Gurizada trabalhamos com jovens de 4 a 18 anos. Aconselho, com o tempo, a separar o treino em três níveis: iniciante, intermediário e competidor. Conheço bons projetos que separam por idade, ministrando turmas em horários diferentes.
8. Campeonatos. Torneios são fundamentais como sistema motivacional para as crianças, mas muitas vezes são caros, e poucos dão abatimento na inscrição. Não se deixe desistir por esses entraves, inicie com campeonatos regionais, nos quais organizadores disponibilizam vagas para projetos sociais. Não esqueça que o campeonato é termômetro do seu trabalho. Mostre a seus pupilos os frutos do Jiu-Jitsu, e incentive-os a sonhar, mostrando a trajetória dos grandes campeões profissionais.
9. Patrocínio. Não inicie o projeto pensando nisso. Às vezes pequenas empresas ajudam com pequenas doações, mas não chegam a possibilitar o crescimento do trabalho. A forma mais fácil de conseguir apoio é com seriedade e resultados, ninguém tem interesse em investir num projeto que não está presente em competições, muito menos em crianças – geralmente escolhem atletas de ponta. Por isso a necessidade de estar nos campeonatos e ir aparecendo aos poucos.
10. Não desista. Você sempre vai encontrar dificuldades, mas persista, pois o trabalho é recompensador. É normal ver talentos se perderem, enquanto outros vão se transformar para sempre graças ao Jiu-Jitsu. Continue competindo para servir como exemplo, e busque constantemente a evolução para manter seus alunos atualizados. Não se deixa levar pelo orgulho e muito menos por tentações. Mantenha boas relações com outros projetos e equipes, que unidas são mais fortes. Em países desenvolvidos, o investimento inicia-se nas bases, por isso tenha certeza que com os anos seu projeto terá uma base competitiva. Por fim, jamais pense em desistir!
E você, tem ou conhece um projeto social bacana ligado ao Jiu-Jitsu?