Italo Ferreira, de 27 anos, fincou sua prancha no Olimpo de vez, na madrugada desta terça-feira, 27 de julho. Nas ondas da praia de Tsurigasaki, onde ocorreram as disputas do surfe na Olimpíada de Tóquio-2020, o potiguar conquistou a primeira medalha de ouro da modalidade, estreante em Jogos Olímpicos. Atual campeão mundial, Ítalo dominou a final contra o incansável japonês Kanoa Igarashi, vencendo por 15,14 a 6,6. O bronze quase ficou com o também brasileiro Gabriel Medina, mas terminou no peito do australiano Owen Wright, que venceu Medina por 11,97 a 11,77 na disputa.
A seguir, listamos as melhores lições da carreira do novo campeão olímpico.
1. Com cinco minutos da bateria final, Italo voou bonito mas, na aterrissagem, viu sua prancha explodir e partir ao meio. Agarrado a um cotoco de fibra para chegar à areia, Italo recebeu a prancha reserva de sua equipe, uma branca. O campeão não se deixou afobar pela pressa e pelo incidente: olhou a prancha, e pediu outra, a preta. Com meia hora ainda para respirar e surfar, deu tudo certo.
2. Após conquistar o título mundial em dezembro de 2019, ano em que chegou a surfar com um tornozelo contundido, na etapa de Bali em maio, o surfista brasileiro precisou descansar. A comemoração com a família e o repouso em casa, em Baía Formosa, Rio Grande do Norte, não durou uma semana inteira. A mente já estava em Tóquio.
3. O primeiro destino da pré-temporada em 2020 foi Saquarema, no Rio de Janeiro, para onde Italo viajou duas vezes em busca de ondas maiores que na sua cidade. Os treinos depois seguiram nas Maldivas, Havaí e Portugal: “Queria ondas mais pesadas”, conta o medalha de ouro. “Fiz bons treinos e evoluí meu surfe. Eu estou sempre na atividade. Isso é bom porque mantenho meu ritmo. Quando a competição recomeça, acredito que isso me deixa um passo à frente dos adversários”.
4. Italo está sempre atento a seus pontos fracos. Após as etapas, ele reconhece o que outros surfistas têm de qualidades que ele precisa aprimorar. No caso de Italo, o aspecto menos forte de seu jogo é seu desempenho nas ondas tubulares, que ele treinou bastante na pré-temporada.
5. O potiguar não gosta de gastar tempo excessivo na análise dos adversários. Isso, pensa o campeão, tira o foco de seu próprio surfe. Por isso, Italo Ferreira prefere às vezes nem assistir a seus rivais na água.
6. Sem provocação: certa vez, durante semifinal de etapa que disputou contra a lenda americana Kelly Slater, ele diz que até evitou olhar diretamente nos olhos do onze vezes campeão mundial. Sua tática nessas horas é a de se fechar no seu próprio mundo e pensar apenas no que ele precisa executar.
7. “Meu mantra é não tentar ser melhor que ninguém, tento apenas mostrar para mim mesmo que eu consigo”, ensina o campeão olímpico no Japão.
8. Filho de pescador, Italo Ferreira começou a surfar aos 8 anos em Baía Formosa, praia em que, nas palavras do craque, “a onda não é tão legal, ela é pequena e só dá quando tem vento.” Foi o berço perfeito para uma lenda do esporte.
9. O pequeno Italo tentava surfar em tábuas, “pegando espuminha com um pedaço de madeira, só que não dava para ficar em pé”. Até que ele ganhou uma prancha: a tampa da caixa de isopor onde o pai, Luiz, guardava os peixes. A primeira prancha oficial ele só ganharia em 2004, depois dos 10 anos, com uns 120 reais suados dos pais. No mesmo ano, venceu seu primeiro campeonato de surfe na sua cidade.
10. Em 2015, em sua primeira temporada na elite do surfe, a Liga Mundial de Surfe (WSL), Italo terminou como sétimo melhor do mundo e venceu o prêmio de Novato do Ano. A partir daí, não deixou o ritmo de treino cair jamais, até conquistar seu sonho dourado.