Vitor Belfort constantemente refere a si mesmo como um dinossauro. Pode parecer um exagero para um atleta de 36 anos. Mas, como ensinou Indiana Jones, “não é a idade, é a quilometragem”. E Vitor tem quilometragem de sobra.
Lutando no UFC há mais de 16 anos, ele já viu e passou por todas as eras do evento. Durante a pré-história do UFC, com apenas 19 anos, Belfort venceu um título no extinto formato de Grand Prix, derrotando dois oponentes pesos pesados na mesma noite e recebendo o apelido de “O Fenômeno”. Depois, enfrentou o folclórico Tank Abbott, foi derrotado pela lenda Randy Couture, lutou o primeiro UFC no Japão e o primeiro no Brasil.
Quando o Pride passou a ser a principal organização de MMA do mundo, o faixa-preta de Jiu-Jitsu não abandonou Dana White e passou a alternar suas participações entre os dois eventos. Nessa segunda era, tornou-se uma das principais atrações da organização americana, juntamente com os rivais Couture, Chuck Liddell e Tito Ortiz. O tempo passou e Vitor é o último desses ainda em atividade.
Alternando vitórias e derrotas, sofrendo com lesões e tragédias pessoais (o desaparecimento de sua irmã, Priscila), Belfort foi então relegado a organizações menores, como o Cage Rage e o Affliction. Na atual era de monopólio, profissionalismo e auge de popularidade do UFC, foi chamado, em 2009, para uma terceira passagem pelo octagon. Longe de ser uma unanimidade entre os fãs, Vitor conseguiu então tornar-se novamente uma peça fundamental da organização.
Para tal, venceu convincentemente grandes adversários, foi o primeiro técnico da edição brasileira do reality show “The Ultimate Fighter”, junto com Wanderlei Silva, e só conheceu a derrota pelas mãos (e pés e cotovelos) dos campeões Anderson Silva e Jon Jones.
Se Vitor é mesmo um dinossauro, devemos estar presenciando um evento semelhante ao filme “Jurassic Park”, no qual dinossauros são recriados, no auge de sua forma física e ferocidade, a partir de amostras genéticas congeladas em âmbar. Em 2013, o “Fenômeno” parece ter sido reinventado. Nas lutas contra Michael Bisping (janeiro) e Luke Rockhold (maio), além do seu sempre perigoso boxe e do Jiu-Jitsu de Carlson Gracie, pareciam estar lá a paciência do brontossauro, a noção de distância do pterodátilo, a velocidade do velociraptor e a voracidade do tiranossauro. Motivado como nunca e treinado ao extremo, Vitor incorporou belíssimos chutes na cabeça que antes não faziam parte de seu arsenal.
Até o estilo “bad boy” que Vitor Belfort ostentava na década de 1990 foi ressuscitado e atualizado em um ameaçador moicano, passando a intimidar seus oponentes antes do combate. Alguns detratores insinuam que, assim como em “Jurassic Park”, a ciência tem influência na mudança de Belfort, através do tratamento de reposição hormonal a que ele declaradamente se submete. Mas, como o próprio Rockhold disse na coletiva de imprensa em Jaraguá, “testosterona não ensina chutes”. Se anabolizante fosse sinônimo de vitória, Alistair Overeem seria invencível.
Eu prefiro acreditar que Vitor reconstituiu “o Fenômeno” que estava congelado em âmbar, adaptado para o século XXI e mais ameaçador do que nunca.
* Mauro Ellovitch é faixa-marrom de Jiu-Jitsu, promotor de Justiça em Minas Gerais e escreve sobre MMA em GRACIEMAG.