Paulo Miyao, amplo favorito para o título dos plumas no Mundial de Jiu-Jitsu 2015, tinha luta marcada para o sábado, mas seu oponente não apareceu. Sem mudar suas feições, o faixa-preta paranaense de 24 anos parou de aquecer, guardou as coisas na mochila e se retirou. Quando foi anunciado para receber sua homenagem, como um dos dez atletas mais bem ranqueados do mundo na faixa-preta, nem foi lá buscar sua placa ofertada pela IBJJF. O foco estava na medalha de ouro, e nada o distrairia.
Na manhã de domingo, 31 de maio, Paulo começou sua campanha contra Vitor Paschoal (Brasa), no mesmo instante em que seu irmão João vencia Koji Shibamoto no ringue 2, ao lado. Paulo terminou a luta mais rápido, ao berimbolar e finalizar nas costas.
Na semifinal, Miyao enfrentou Kim Terra, um estudioso do Jiu-Jitsu que conseguiu raspar e se fechar bem na defesa – mas não a ponto de eliminar Paulo. No fim, 8 a 2 para o aluno de Cícero Costha, que novamente pegou as costas.
Na final, era hora da modernidade contra a experiência, do berimbolo contra Beleza. O cearense Daniel Beleza (SAS), gabaritado competidor que não demonstra os 39 anos que tem, estava confiante em si, após eliminar Thomas Lisboa, Samuel Braga e o parceiro dos Miyao José Tiago, na semifinal.
De fato, Daniel é faixa-preta desde 2000, quando Paulo Miyao nem sabia o que era Jiu-Jitsu. Mas nem ele foi capaz de segurar um rato de tatame como Miyao, que até pouco tempo comia e dormia no tatame.
Em três minutos, Paulo Miyao berimbolou e foi para as costas com a mão funda na gola, e não havia nada que Daniel Beleza pudesse fazer. Quem esperava as lágrimas de praxe de Paulo, se surpreendeu: a comemoração foi mais contida do que de costume, graças a um sabor amargo.
“Estou de boa. Após a luta eu ainda estava bem chateado com a final do meu irmão João, mas agora estou feliz, de boa. Consegui o título que queria, mas agora é treinar mais, para tentar conseguir mais um ano que vem, e o segundo é sempre mais difícil”, disse Miyao, com um sorriso tímido e apressado de sempre, doido para dar as costas para o repórter e evitar a entrevista. Vida longa ao novo rei dos plumas.