Os atletas dos Estados Unidos agora tem a chance de treinar com o craque Jefferson Moura, faixa-preta de Jiu-Jitsu internacionalmente reconhecido pelas suas conquistas e que, após anos de carreira como atleta, vem despontando como líder de novos talentos do Jiu-jitsu. Inicialmente, Jefferson manteve sob sua supervisão atletas brasileiros premiados, e agora esta atuando também como treinador de atletas americanos que o escolheram devido a sua grande experiencia e reconhecimento nas artes marciais.
Depois de ganhar o Mundial duas vezes como faixa-preta e liderar a mais tradicional escola da Gracie Barra, professor Jefferson abraçou a missão de atracar em Chicago, tocando a GB Aurora, sempre com a mesma missão de fazer do Jiu-Jitsu uma ferramenta transformadora na vida das pessoas. No Brasil, com a sua cultura mais voltada à arte marcial criada pelos Gracie, o trabalho já estava encaminhado pelo mestre Carlos Gracie Jr, Márcio Feitosa e outros bambas da equipe. Nos EUA, porém, o trabalho é a longo prazo, mas a expectativa e alto astral do professor Jefferson seguem inabaláveis.
Após um longo papo com o time de GRACIEMAG, Jefferson pode detalhar sua escalada com o Jiu-Jitsu, que passou de hobby para profissão, seus objetivos traçados e conquistados como competidor, e como essas lições nos tatames fizeram dele um professor e gestor melhor, recebendo da equipe e do mestre Carlinhos Gracie grandes responsabilidades, sempre encaradas pelo professor Jefferson como grandes ondas a serem superadas.
“Vim para Chicago com objetivo de transformar com o Jiu-Jitsu”, frisou Jefferson. “Colocar o melhor do Jiu-Jitsu numa comunidade legal e mostrar que o esporte pode fazer toda diferença na vida dessas pessoas. A missão será sempre levar o Jiu-Jitsu além.”
Confira nas linhas abaixo:
GRACIEMAG: Como você conheceu o Jiu-Jitsu e como foram seus primeiros passos no esporte?
JEFFERSON MOURA: Conheci o Jiu-Jitsu no bairro da Freguesia, em Jacarepaguá. Eu estudava naquela região e no caminho do ponto de ônibus tinha uma placa: “Jiu-Jitsu da Linha Gracie / Carlos Augusto”. Aquilo me chamou a atenção, pesquisei e fui experimentar. Eu tinha 15 anos de idade nessa época e sempre gostei muito de esportes. Meus pais sempre me incentivaram, comecei na natação, depois pratiquei judô e também handball. Sempre competindo e me saindo bem. Depois me joguei em outras lutas, como muay thai, boxe, capoeira. Então sempre ocupei meu tempo livre com esportes.
Você já sentia um certo talento no começo ou foi algo que cresceu em você ao longo dos treinos?
Ouvi dos meus professores que eu tinha certa facilidade de aprender. Isso, contudo, não significa que foi fácil. Lembro que meu professor Carlos Augusto ficava em cima de nós, alunos, para repetir as posições, fazer os ajustes certos. A maneira como você entende o Jiu-Jitsu facilita a sua trajetória, mas sem dedicação para treinar e aperfeiçoar as técnicas as dificuldade virão até para aqueles que são talentosos.
Em que momento você reparou que viveria do Jiu-Jitsu e para o Jiu-Jitsu? Houve um divisor de águas?
Sabia que queria viver de esportes, não de Jiu-Jitsu necessariamente. Me formei em Educação Física e trabalhava numa academia que era próxima da Gracie Barra Matriz, no Rio de Janeiro. Dava aulas de musculação, era Personal Trainer, e depois de trabalhar ia treinar na GB. Um dia, conversando com o Carlos Gracie Jr, recebi a oportunidade de dar aulas naquela GB, e foi aí que comecei a viver do Jiu-Jitsu. O esporte pra mim, além do quesito saúde, para mim era para eu ter comigo a segurança da defesa pessoal, meus pais me incentivaram a buscar a luta para formar o meu caráter, disciplina. E uma coisa levou à outra. Subi para a direção regional da Gracie Barra no Rio de Janeiro, mas o real divisor de águas foi partir para os EUA, com a missão de usar o Jiu-Jitsu como ferramenta para mudar as pessoas, melhorar a vida delas, e melhorar o mundo.
Em que ano você recebeu a faixa-preta, das mãos de qual professor e o que você lembra desse dia?
Recebi a faixa-preta do meu primeiro professor, o Carlos Augusto, que foi formado pelo Reylson Gracie, em 1997. Lembro que ele chamou meu nome e amarrou a faixa na minha cintura, meu pensamento era de missão cumprida até aqui. Minha primeira parte no Jiu-Jitsu terminava ali para começar a segunda, no qual a missão é se manter ativo, motivado, integrado na filosofia do esporte, passar isso para outras pessoas e ainda assim seguir aprendendo cada vez mais. É outra responsabilidade, mas chegar na faixa-preta te traz um grande suspiro de alívio, de realização. Só quem chega sabe a dificuldade de ter o seu professor amarrando a faixa na sua cintura. É um mérito, não tem como pedir a faixa-preta. Viver com essa ansiedade de passar de etapa no Jiu-Jitsu é algo te ensina para a vida, também. Você sempre busca o seu melhor, para alcançar o sonhado mérito. Ser faixa-preta traz muita responsabilidade, as pessoas esperam muito mais de você, em todos os aspectos.
E sobre o seu envolvimento com a Gracie Barra, time que defendeu e defende há tantos anos? Você sempre se identificou com os preceitos da escuderia?
Estou há mais de 20 anos com a faixa-preta na cintura e minha ligação com a Gracie Barra vem desde a época que eu treinava com o meu primeiro professor, o Carlos Augusto. Competia por vezes pela Gracie Barra e sempre fui próximo do Carlinhos Gracie. Assim que eu foi graduado pra faixa-preta o Carlos Augusto me disse para migrar de vez para a GB, e ao chegar lá me senti abraçado. Sem contar que o Carlinhos sempre levou muito conhecimento a nós, alunos, nos fins de treinos. Sobre tudo, filosofia, a missão do Jiu-Jitsu no mundo e na vida das pessoas. Todas essas diretrizes e conceitos me fizeram seguir e estar lado a lado com a Gracie Barra até hoje, defendendo o time sempre.
Você chegou ao ápice competitivo em 2003, ao conquistar o Mundial da IBJJF. Esse foi o seu título mais importante?
O título em 2003 marcou uma sequência de temporadas no qual eu estava entre os melhores. Entre 2001 e 2004 eu estive no pódio do torneio mais disputado do mundo do Jiu-Jitsu, com uma medalha de prata, uma de bronze e duas de outro, já que além de 2003 eu fechei o pódio com o Fabio Leopoldo em 2002. Estar entre os melhores durante esses quatro anos foi gratificante demais. Chegar lá e ganhar o Mundial mostra que você alcançou uma nova etapa da sua vida. Você pode olhar para trás e ver o quanto suou, se sacrificou e treinou para estar naquele nível competitivo. Sem falar que por mais que seja um conquista individual esportivamente existiu e existe uma equipe muito dedicada somando, uma legião de cascas-grossas treinando e te puxando sempre ao limite. Além de ter o suporte do Carlinhos Gracie e do Carlos Augusto, que me treinaram para eu evoluir e chegar onde cheguei.
Quais aspectos do seu tempo de competidor você levou para a vida de instrutor, empresário e, digamos, e gestor de pessoas nas academias que dá aulas?
Ser competidor me ajudou muito nesta fase que eu estou agora. Nunca tive a previsão de ser lutador a vida toda, mas sempre busquei alguns objetivos: chegar na faixa-preta e ganhar os principais campeonatos na faixa-preta, como Pan, Europeu, Mundial, Brasileiro, Estadual, Brasileiro por Equipes. Completei essa missão agora vamos para a próxima etapa, que era ter uma escola de sucesso, gerenciar bem meus alunos, e eu tinha uma experiência nisso. Sempre gostei de lidar com outras mentes. E esse meu lado competitivo de nunca desistir, de aprender com as derrotas e assimilar que não existe perder, na verdade você sempre ganha, crescendo com elas. Levo tudo isso comigo na minha vida, como pessoa e como profissional. Inclusive, na hora de dar aulas e incentivar os alunos.
A questão da vitória e derrota é indispensável na construção da pessoa, certo?
No Jiu-Jitsu, principalmente, são dois no tatame. Um vai ganhar e um vai perder. Você tem que saber lidar com isso. Lutar muitos campeonatos te abre essa margem, você pode ganhar e perder alternadamente em todos eles. Se você não souber absorver positivamente, voltar para academia e corrigir para ficar melhor, pode complicar sua chegada no objetivo. Todo esse caminho percorrido competitivamente me ajuda na vida como instrutor e gestor.
Como foi receber a responsabilidade de tocar umas das escolas da GB mais conceituadas do mundo, a GB Matriz, o berço da equipe? O que você visava passar ao alunos como essência da equipe?
Ao receber essa missão eu tinha certeza que seria um grande desafio. Era chumbo grosso. Estávamos transformando o Jiu-Jitsu para um formato de esporte para todos, foi num momento de transição. Minhas atribuições passam por implementar a metodologia de ensino da GB, uniformizar a galera, organizar aulas e quadro de horários meus e dos demais instrutores, tinha que fazer a coisa funcionar. Eram de 30 a 40 faixas-pretas para treinar, além dos faixas coloridas, e fazer os alunos absorverem e aceitarem tais mudanças. Ou seja, foi uma experiência prazerosa, sempre guiado pelo mestre Carlinhos e pelas diretrizes de união, família, respeito. Mostrar as mudanças e contar com a ajuda dos alunos, que um de cada vez foram abraçando a causa e fazendo tudo se organizar.
Quais são os próximos passos do professor Jefferson? Levar os benefícios do Jiu-Jitsu para novas fronteiras, ensinar nosso lifestyle em outras culturas, de repente formar um novo time de elite competitiva sob a chancela da GB?
Vim para Chicago com objetivo de transformar com o Jiu-Jitsu, colocar o melhor do Jiu-Jitsu numa comunidade legal e mostrar que o esporte pode fazer toda diferença na vida dessas pessoas. A escola está bombando, cheia de alunos, tenho relatos positivos, de melhoria na qualidade de vida, perda de peso, espírito de equipe, união de pessoas como se fossem família são alguns deles. Chegar aqui e superar essa fronteira cultural, usando o Jiu-jitsu como ferramenta de mudança, está funcionando. Agora é manter o trabalho, são longos os anos para formar um time forte, não é do dia para a noite. Em breve teremos grandes faixas-pretas campeões formados na GB Aurora, em Chicago. Isso sem falar nos nossos faixas coloridas, azuis e roxas, que já estão ganhando campeonatos e se destacando. A missão será sempre levar o Jiu-Jitsu além.