Os planos originais eram outros. Mas, após ir para a Austrália com a esposa para uma incrível lua-de-mel, a rota de Lucas “BamBam” Sachs mudou de pernas para o ar.
O professor de Jiu-Jitsu e ex-presidente da Federação Gaúcha foi ensinar na terra dos cangurus, junto com seu mentor Alex Prates, e colaborou no treinamento de vários astros das artes marciais, como Robert Whittaker, Jacob Malkoun e Isi Fitikefu.
Sachs comentou com o GRACIEMAG.com sobre os planos para o futuro próximo. Confira!
GRACIEMAG: Como está a vida aí no outro lado do planeta?
LUCAS SACHS: Perfeita. Desde sempre, morar fora do Brasil era um sonho meu. Originalmente, meu objetivo eram os Estados Unidos, mas o destino tinha outros planos. Em 2018, minha esposa e eu escolhemos a Austrália para a lua-de-mel. Na viagem, tive a oportunidade de dar um treino na escola do Bruno Panno, que eu conhecera em Porto Alegre. E foi lá, ainda no tatame, que recebi a proposta para trabalhar em Sydney. Dez meses depois, eu e minha esposa desembarcávamos na Oceania, prontos para transformar um sonho em vida nova.
Dizem que a Austrália lembra muito o Brasil: clima, litoral, povo amistoso e guerreiro. E o amor pelo Jiu-Jitsu? É parecido?
Sim. E foi justamente essa combinação que me conquistou. A Austrália é um país desenvolvido e multicultural, com uma gastronomia diversa e um estilo de vida simples. É um lugar acolhedor para imigrantes, onde a natureza e o esporte estão presentes na vida de todos. Há um apoio massivo ao esporte, que se reflete no estilo de vida da população e desenvolve a alta performance, onde os resultados são muitos positivos nas conquistas em competições mundiais e olímpicas. É uma vida nova e divertida por aqui.
Como foi o seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu? Ainda lembra?
Como se fosse ontem! Foi em agosto de 1995, em meio ao bum inicial do UFC com Royce Gracie. Meus amigos e eu, todos fascinados, começamos a treinar Jiu-Jitsu. Naquele primeiro treino, aos 14 anos, aprendi uma raspagem de tesoura, uma americana e um estrangulamento ezequiel – um movimento que, mesmo depois de tantos anos, ainda lembro e volta e meia eu uso.
Quando percebeu que viveria do e em prol do Jiu-Jitsu?
Embora sempre tenha sido apaixonado por esportes, durante minha adolescência me destaquei mais no futebol. Joguei pelo Grêmio até os 17 anos, inclusive. No entanto, a incerteza de uma carreira esportiva me levou a escolher o Direito e, depois, uma carreira no Citibank. Mas a sensação de que faltava algo persistia.
Faltava o Jiu-Jitsu…
Pois é. Em 2009, após competir no World Pro em Abu Dhabi, decidi seguir o que realmente amava e me dedicar de corpo e alma ao Jiu-Jitsu. A partir daí minha vida mudou – meus mestres me convidaram a coliderar a equipe, e nunca mais olhei para trás.
Seus mestres Waltinho Mattos e Mario Sperry e seu ex-sócio Fernando Paradeda eram organizadores de grandes eventos. O que você aprendeu com eles ao promover torneios em Gramado e outras cidades?
Desde jovem eu já ajudava nos campeonatos organizados pela Federação Gaúcha de Jiu-Jitsu, onde tive a chance de aprender muito. Com o Paradeda, formei uma parceria sólida, aprendi muito e organizamos diversos torneios no Brasil e nos EUA.
E agora, na Austrália?
Desde 2022 na Austrália fundamos a Global Sports Australia, com o Thiago Braga e Caio, e hoje temos orgulho de produzir os maiores eventos de Jiu-Jitsu da Austrália e Nova Zelândia, como representantes da AJP e a AFBJJ. Em breve produziremos dez eventos, levando atletas para representar a Oceania no torneio mundial de Abu Dhabi.
Que luta marcou você como espectador?
Tive o privilégio de presenciar lutas épicas, mas duas finais em particular marcaram minha vida. Primeiro, a final do Mundial da IBJJF, no absoluto faixa-preta em 1998, entre meu mestre Zé Mario e Roleta no Tijuca. E a final de 2013, entre o Buchecha e p Rodolfo na Pirâmide. Quem estava lá sabe do que estou falando!
Verdade. E onde você vê sua equipe daqui a cinco anos?
Hoje, nossa equipe conta com três filiais da Braddah na Austrália e uma no Brasil. Posso afirmar que ao meu lado tenho um time de craques. No comando, há o meu parceiro em tudo Martin Melecchi. O Rogério Santos lidera o Brasil. O Antonio Dias, um general no time. E o Raphael Moraes, que fecha essa nossa base forte para todo crescimento que ainda está por vir. Daqui a cinco anos, visualizo a Braddah triplicando seu número de academias.
Planeja abrir franquias?
Temos um modelo de negócio diferente, onde o crescimento será com o próprio time e não com licenças externas e franquias. Queremos inovar e transcender o Jiu-Jitsu, dando oportunidade aos que fazem parte da equipe. O futuro promete.
O Jiu-Jitsu continua a mudar vidas?
Sim, todos os dias. Um dos exemplos que mais me emocionou foi de um pai e seu filho que começaram a treinar conosco. O menino sofria com insegurança e bullying, mas ao longo do tempo, o Jiu-Jitsu o transformou, desenvolvendo sua autoconfiança e autoestima. Hoje, eles treinam juntos e até viajam para participar de campeonatos. É incrível ver como o Jiu-Jitsu não apenas fortaleceu um jovem, mas uniu uma família em uma jornada de superação e conexão.
Como tem visto o crescimento do Jiu-Jitsu na Austrália e Oceania, Lucas?
A Austrália está em viés crescente. Muitas equipes fazem um trabalho fantástico, e os atletas já se destacam em âmbito nacional e mundial. Creio que, em menos de cinco anos, já veremos um local australiano no alto dos principais pódios, como campeão mundial na faixa-preta.
E na equipe, com está a chuva de medalhas?
Na Braddah, estamos fazendo um trabalho forte na base, como aprendi no Sul do Brasil. Nossos faixas-brancas e azuis começaram a colher ótimos resultados nas competições daqui, e em breve vão aparecer no cenário mundial. Recentemente, tivemos um dos nossos professores, o Antônio Dias, no topo do pódio. Antônio venceu o absoluto faixa-preta e sua categoria, no Pan Pacific 2024, da IBJJF, em Melbourne. Tenho certeza que vem muita coisa boa ainda. Oss…