O dia 1 de abril vai ficar na memória de Rafael Mendes.
Apesar de ser mundialmente conhecido como o dia da mentira, o que aconteceu nesse domingo, no último dia do Pan 2012, foi bem real, apesar de parecer inacreditável.
Desde 2009, quando se enfrentaram pela primeira vez, toda vez que Rafael Mendes e Rubens Cobrinha pisaram na mesma área de luta atraíram os olhos de todos e proporcionaram pelejas emocionantes.
O placar geral do confronto já era amplamente favorável a Mendes, mas faltava algo e Rafa sabia disso.
No ADCC 2009, o que faltava quase aconteceu, mas Cobrinha, sempre valente e incansável, resistiu.
Depois disso, veram uma série de duelos equilibrados, decididos nas vantagens ou por pequena margem de pontos.
Então, na final dos penas do Pan 2012, eles ficaram novamente frente a frente.
O que pretendia fazer com Cobrinha, Rafael já tinha feito com seus outros três oponentes no peso, inclusive o bicampeão mundial Mário Reis.
Rafael queria finalizar!
A luta se iniciou com os dois puxando para a guarda, parecia que cairia na conhecida troca de raspagens.
Mas, não.
Em um giro em busca das costas do adversário, Rafael capturou um braço.
O armlock já nasceu encaixado, mas você não finaliza um tetracampeão mundial e panamericano assim tão fácil.
Cobrinha usou toda a sua técnica e força para resistir, girando o corpo na tentativa de reduzir o arrocho.
A expressão do seu rosto, porém, indicava que a situação era crítica.
Em um dado momento, Cobra quase escapou, mas era apenas uma falsa bonança antes da tempestade final.
Girando o punho de Cobrinha, Rafael deu a torção derradeira e não restou outra alternativa.
A finalização era fato!
Saindo da área de luta, Rafel deixou escapar para André Galvão, que fazia as vezes de coach: “Falei que ia pegar, não falei?!”
Explicou a certeza depois: “Acho que essa foi a minha melhor atuação em campeonatos. Soltei meu jogo e busquei finalizações diferentes. Executei um Jiu-Jitsu moderno, que já está influenciando muita gente”.
Caio Terra, outro campeão do dia, intrometeu-se e afirmou:”Rafael é hoje, para mim, o melhor do mundo no Jiu-Jitsu! Treinei com ele e fiquei deprimido. Não consegui fazer nada. Acho inclusive que ele ganharia se lutasse o absoluto!”.
Outras histórias de Jiu-Jitsu no Pan
O Pan viu ainda a consolidação de dois nomes ascendentes: Marcus Vinícius Buchecha e Antônio “Cara de Sapato” Barbosa, pupilos de Rodrigo Cavaca que fecharam o absoluto e mandaram avisar que já estão prontos para lutar de igual para igual com os medalhões.
Kron Gracie saiu de Irvine com dois bronzes, no aberto e no médio, mas voltou a encantar a todos com um Jiu-Jitsu para frente, sem medo e sem amarras. Um jogo que inclusive o pune com derrotas por pontos cedidos na busca incessante da finalização. Se o filho de Rickson vier a equilibrar seu ímpeto de finalizador com um jogo por vezes mais estratégico, temperando isso com o imenso talento que tem, é certeza que os resultados passarão a fazer jús ao seu valor como lutador.
Kayron Gracie voltou depois de um ano longe das grandes competições por contusão e navegou tranquilamente no meio-pesado. Com a conhecida guarda quase intransponível e ataques justos, o Gracie ainda prometeu que quer alçar vôos maiores: “Lutar o absoluto é um objetivo meu! Talvez no Mundial eu entre”.
Bruninho Malfacine decidiu não lutar com a balança e se deu bem. O carioca entrou no pluma para se testar e saiu com o ouro pendurado no pescoço. Na final, bateu Guilherme Mendes em luta cheia de estratégia, mas prometeu que volta para o galo: “Joguei de acordo com o jogo dele, que é muito justo. Queria soltar, mas não consegui. No fim, tudo deu certo”.
Caio Terra definiu a final do galo como uma ação entre amigos. Brincando, disse: “Se eu perder para ele, vou ficar feliz, mas vou ficar mais feliz ainda se eu ganhar!”. Pensando na felicidade maior, Terra foi para cima de Rafael Barata e pegou no leg lock. Foi fácil lutar o galo sem Malfacine? “Malfacine está um nível acima dos outros, por isso nossas lutas são sempre equilibradas, mas não tem facilidade na faixa-preta”, analisou, agora sério.
Bernardo Faria estava ferido no domingo. Não fisicamente, mas em seu orgulho. O campeão mundial da Alliance perdeu a semifinal do absoluto no sábado para Cara de Sapato, mas não aceitou bem o revés: “Acho que fui vitima de um grave erro de arbitragem, mas reconheço o valor do Cara de Sapato, que já havia me derrotado antes”. Então, quando se encontraram de novo na final do superpesado, Faria sabia que o final tinha que ser diferente. “Fiz a mesma luta hoje que eu tinha feito ontem. Nossas lutas serão sempre equilibradas!” Se usou a mesma estratégia que no sábado, Bernardo foi mais eficiente no domingo. Perdendo de 5 x 0, pegou as costas duas vezes e com uma raspagem venceu por 10 x 5.
A final do leve foi um primeiro encontro! Leandro Lo nunca havia enfrentado Lucas Lepri. Uma raspagem deu o título também inédito ao paulista da Cicero Costha. O placar baixo revela que a luta foi estratégica e estudada: “Raspei no início e consegui evitar que ele me raspasse. Contra um atleta como o Lepri,, você não pode errar e ainda bem que eu não errei”.
A final do pesadíssimo apresentou uma situação estranha para Rodrigo Cavaca. Como Alexander Trans e Buchecha são da mesma equipe, mas não treinam juntos, o líder da Check Mat foi uma espécie de coach duplo. Ficou a maior parte do tempo em silêncio, mas de vez em quando gritava o tempo de luta em português e depois em inglês. Em alguns momentos, não se aguentou e deu instruções para Buchecha, afinal o brasileiro é seu pupilo. Quando Buchecha raspou no final para vencer, Cavaca apenas sorriu pela eficiência do aluno.
No médio, luta na 50/50 e pouca ação além das tentativas de se pegar um pé ou outro. Claudio Calasans raspou uma vez a mais do que Victor Estima e ficou com o bicampeonato. “Venci porque consegui imprimir meu ritmo e ficar na frente do placar o tempo todo. O Victor é muito duro”, analisou Calasans.
Confira abaixo uma galeria de fotos exclusiva das semifinais e finais da faixa-preta no Pan 2012
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Fotos: Ivan Trindade