Certa vez, os irmãos Rickson e Royler Gracie saíam da academia de Jiu-Jitsu prontos para uma missão definitivamente suave: caçar boas ondas.
Com as pranchas no teto do carro, deixaram o kimono na Gracie Humaitá e zarparam, para encontrar um trânsito daqueles rumo às praias da Barra da Tijuca.
Quarenta anos depois, eles ainda se lembram da conturbada viagem. E da lição que aquele dia que rendeu.
Ocorreu que Rickson estava ao volante, e acabou por se distrair e fechar inadvertidamente um táxi amarelinho.
O piloto de praça, sem saber que dupla aquele velho carro transportava, não se segurou dentro das calças. Começou a buzinar feito louco, até conseguir emparelhar e disparar todos os xingamentos que conhecia, e mais alguns.
Até para desopilar.
Rickson virou-se para a janela do carro, respirou e mandou o seguinte ao motorista em fúria:
– Me desculpe, irmão. Não foi proposital. Me perdoe – disse o jovem Rickson, enquanto o carro amarelo seguia viagem.
O diálogo que se seguiu na caranga dos Gracie foi o seguinte:
– Peraí Rickson! O cara xingou você de um monte de nomes. Por que você pediu desculpas?
– Royler… Você é capaz de imaginar o inferno que é a profissão desse cara? Trabalhar em meio ao trânsito maluco do Rio de Janeiro, morar longe, rodar toda cidade…
– Mas o cara não pode falar assim.
– Você e eu estamos indo surfar, após um dia maravilhoso de treinos contra vários caras duríssimos. Eu vou ganhar o quê, parando o carro para me embolar com ele aqui na rua? O homem é velho, totalmente fora de forma. Acha sinceramente que vale a pena brigar com um cara assim só porque ele me xingou de um monte de nomes? Nada melhor do que perdoá-lo. Ele que brigue com a vida, não comigo. Perdoe o homem. Deixemos isso para lá.
No banco do carona, Royler se pôs pensativo. No fim das contas, as ondas estavam de fato ótimas e o mar, relaxante. Tempos e tempos depois, o ídolo peso-pena admitiu ao irmão mais velho:
– Rickson, ainda lembra aquele dia quando apareceu o taxista? Aquele seu recado me acertou em cheio no coração. Aprendi ali que a gente não precisa provar nada para os outros, nem para si mesmo. Eu sei que posso facilmente castigar o sujeito que vier me ofender. Manter a calma, no fim, é a verdadeira vitória.
E você, já aprendeu a perdoar como os mestres Rickson e Royler, após tantos anos de Jiu-Jitsu? Mesmo no trânsito insano da sua cidade?
Bons treinos e bons aprendizados, sempre.