Grande mestre Carlos Gracie (1902–1994) nasceu num dia 14 de setembro em Belém do Pará, onde teve uma infância agitada. Primogênito de oito irmãos, o irrequieto Carlos só serenou o espírito quando o pai Gastão, um comerciante que estudara na Alemanha, o levou para as aulas com Mitsuyo Maeda, professor japonês que se tornou seu mentor e maior influência.
Encantado com a eficácia das alavancas e técnicas do Jiu-Jitsu, Carlos zarpou para o Rio de Janeiro aos 19 anos, quando começou a propagar a arte pelo país. Em delegacias e academias de polícia em Minas Gerais, São Paulo e no Rio, o Gracie fez demonstrações e deu cursos sobre como o Jiu-Jitsu servia para todos, e era capaz de imobilizar qualquer fortão com o máximo de eficiência e o mínimo de energia. Foram muitos os incrédulos que o menosprezaram, pagaram para ver e terminaram dominados ou finalizados.
Seus primeiros pupilos, claro, foram os irmãos – os mais novos Osvaldo, Gastão Jr, George e Helio –, todos seus assistentes na primeira academia Gracie, na rua Marquês de Abrantes, no bairro do Flamengo, inaugurada nos anos 1920 e que começou a longa tradição da família de ensinar políticos, diplomatas, jornalistas e poetas, de ambos os sexos.
Para comprovar a eficácia do Jiu-Jitsu num tempo em que as feiras de amostras e festas ao ar livre popularizavam a luta marmelada, Carlos encarou desafios gigantes, e enfrentou hábeis japoneses como Geo Omori, em 1924, e o capoeira Samuel, em combate onde os organizadores precisaram saber: “Quais são as regras, então?”. Carlos foi sucinto e definiu: “Vale tudo”.
Nasceu, assim, uma modalidade, uma legião de praticantes e a fama do Jiu-Jitsu como o sistema de lutas mais eficiente já inventado, que o mundo abraçaria de vez em 1993, com o UFC 1 e o triunfo arrebatador do sobrinho Royce. “Criei o vale-tudo por ser a única forma de provar a eficiência do Jiu-Jitsu para os mais teimosos”, ensinava.
Num de seus combates mais famosos, Carlos enfrentou novamente o japonês Geo Omori, em duelo sem regras que terminou em empate, no dia 5 de janeiro de 1930, em São Paulo. Carlos arrochou o armlock, mas Omori não desistiu e teve o braço quebrado, numa atitude valente que repercutiria na família – e entre seus alunos – por décadas a fio.
“Com o Jiu-Jitsu aprendi, sobretudo, a grande lição, que foi a de me conhecer profundamente.”
“É quando os lutadores cansam que a luta começa realmente a ser travada.”
“Comer errado é o pior dos venenos.”
“Emprega o maior tempo no aperfeiçoamento de ti mesmo, e nenhum tempo em criticar os outros.”
“Promete a ti mesmo ser grande demais para sentir desassossego, nobre demais para sentir cólera, forte demais para sentir temor e feliz demais para sentir contrariedades.”