Semana passada estava lendo um artigo sobre a próxima luta de Anderson Silva, no dia 6 de julho, contra o desafiante Chris Weidman e, na seção de comentários dos leitores, me deparei com essa frase: “Agora a farsa Anderson Silva será desmascarada”.
Farsa? Estamos falando do mesmo Anderson Silva? Do maior campeão da história do UFC? Do detentor da maior sequência de vitórias do esporte? Daquele que constantemente nos surpreende com golpes inéditos e atuações insuperáveis? Daquele que venceu todos os desafiantes em sua categoria de peso? Sério?
É impressionante a capacidade de muitos brasileiros de desmerecer seus compatriotas. Especialmente através da internet, muitas vezes por meio de comentários grosseiros e raivosos. Nossos “corajosos de teclado” rotulam e desprezam os lutadores e sua história. Para eles, Vitor Belfort é um “playboy”, Lyoto Machida é um “fujão”, Wanderlei Silva tem “queixo de vidro” e só enfrentava “galinhas-mortas” no Japão, Minotauro é um “saco de pancadas”, Cigano “já era”…
Os comentários acima são só alguns dos ataques gratuitos contra atletas brasileiros, proferidos por brasileiros. Isso é um reflexo da nossa triste tendência de nos mostrarmos como um povo sem memória, que não valoriza seus próprios feitos. Muitos brasileiros vangloriam intensamente um atleta nacional quando está vencendo e, subitamente, passam a menosprezá-lo quando este mesmo atleta perde. Como se uma derrota anulasse toda uma carreira vitoriosa. Ou então, achincalham mesmo quem está ganhando e torcem para que perca. Torcem para “mostrar a todos” que ele, internauta, estava o tempo todo certo quando dizia que aquele ídolo “não era tudo isso”. Uma espécie de complexo que só a psicologia explica.
Não estou aqui defendendo um ufanismo cego ou que os fãs não possam tecer críticas. Só acho que as críticas deveriam ser baseadas em situações concretas, respeitando o trabalho árduo de cada lutador. A estupidez gratuita, afinal, é o golpe mais baixo que um atleta pode sofrer. Especialmente os guerreiros brasileiros do UFC que fazem questão de ressaltar o amor por seu país, muito mais do que os lutadores de outros países ou atletas de outros esportes.
Fico feliz ao ver as recentes manifestações populares brasileiras e torço para que sejam o início de uma mudança mais ampla de mentalidade. Vamos focar no que é importante e deixar de lado as picuinhas. Vamos criticar o que precisa ser criticado, não com o intuito de reclamação vã, mas com a vontade de contribuir para uma melhoria. Vamos valorizar quem representa positivamente nosso país, seja no esporte ou no trabalho diário. Vamos deixar os ataques para quem merece: aqueles que subtraem nossas riquezas, praticam a corrupção, estimulam o preconceito e ignoram as necessidades da sociedade.
Mas essa é só a opinião deste cronista. Se você não concorda, pode começar a me detonar em 3, 2, 1…