Arthur Dib e o Jiu-Jitsu que protegeu Lewis Hamilton

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Dib com seu professor, Marcos Barbosinha. Foto: Divulgação

Após décadas de Jiu-Jitsu, o professor Arthur Dib tem se tornado uma referência em defesa pessoal e treinamento de seguranças em São Paulo.

Competidor casca-grossa, além de instrutor de defesa pessoal, o professor da equipe B9JJ conversou com GRACIEMAG sobre seu trabalho e sobre suas ideias. Dib, em novembro, acompanhou de perto o vitorioso piloto Lewis Hamilton antes e depois de uma vitória épica no Grande Prêmio do Brasil.

GRACIEMAG: Sua reputação como segurança e instrutor de defesa pessoal o levou a cuidar dos craques da Fórmula-1 no Brasil. Como foi proteger o Lewis Hamilton em novembro?

ARTHUR DIB: Ao trabalhar com pessoas e eventos de grandes notoriedade temos um contrato para sempre manter em sigilo tudo que envolve o trabalho, afinal ficamos 24 horas em torno dos campeões, o que inclui dormir no mesmo hotel. Eles também são muito reservados e focados, afinal a pressão em ganhar a corrida é enorme. Para mim, o que sempre vale é saber que o trabalho foi bem executado, inclusive recebi uma carta da F-1 agradecendo a todo empenho, em especial por não ter ocorrido nenhuma situação de risco iminente aos pilotos, aos organizadores e ao público.

Qual foi a última vez em que o Jiu-Jitsu salvou seu dia?

Todos os dias. Mas em junho de 2020 precisei usar a técnica numa situação de vida ou morte. Estava com minha esposa na frente de um bar quando, não sei por que motivo, um rapaz sacou a faca e começou a ameaçar duas pessoas ao meu lado. Pelos berros, percebi a situação e pedi para minha esposa ir para dentro do bar. Comecei a ir para trás do rapaz da faca e, enquanto ele discutia e se distraiu – uma janela de oportunidade – consegui agir na hora precisa, imobilizar o braço da faca e direcionei a cabeça dele para o chão. Dobrei o punho do indivíduo, ele largou a faca e com uma americana invertida me posicionei com um joelho na cabeça e a outra perna no quadril, travando-o até a chegada da Polícia Militar, que deu continuidade na condução dos envolvidos para a delegacia.

Quando você percebeu que viveria em prol e para a arte suave, professor?

Foi ali por 2009. Eu tive de fechar meu comércio e nada me ajudou tanto a superar as dificuldades como os treininhos. Venci estresse, depressão e minha mente clareou. A partir daquele ano em diante, decidi viver em prol e para arte suave, para retribuir a tudo que ela me fez. E ajudar as pessoas a também serem mais tranquilas mentalmente.

E que lembrança você tem do dia em que foi graduado faixa-preta?

A preta é aquele objetivo almejado desde o primeiro dia de treinos, né? E o grande dia veio em 2007, pelas mãos do mestrão Barbosa. Foi uma grande alegria mas logo deixada para trás, pelas faixadas e amassos que vieram juntos no mesmo dia (risos). Valeu muito a pena, a sensação é incrível pois você se sente concluindo um ciclo de muito esforço, muito sacrifício e muito estudo. Também sou faixa-preta de krav-magá. O mais importante é não parar só porque completamos aquele ciclo, afinal só estamos a começar outro. Como eu falo, quanto mais informações vamos buscar, melhor ficamos. Não somente como lutadores mas principalmente como seres humanos.

Dib e família. Foto: Acervo Pessoal

Qual o maior erro que o pessoal comete em relação à defesa pessoal hoje nas academias?

Acho que é a mente fechada para os treinos. É preciso treinar todas as situações com todas as técnicas que temos à disposição. Por exemplo: se eu for para o chão e houver vários agressores em volta, como agir? O aluno precisa sair do treino confiante e completo. Eu trato a defesa pessoal ao pé da letra, ou seja: você tem de estar preparado para qualquer coisa em qualquer lugar. Vejo que cada escola hoje ensina defesa de um jeito ou mesmo nem ensinam. Eu gosto de examinar cada detalhe, ensinar o aluno a estar atento às pessoas em volta, em locais fechados ou abertos; ter uma visão periférica do que pode ser utilizado para um ataque ou defesa; pensar em rotas de fuga; e, por último, o combate corpo a corpo e as técnicas. Estas situações acima não fazem parte do treinamento da arte marcial como esporte, mas são pura defesa pessoal. Outro dia o próprio Buchecha comentou como o Jiu-Jitsu como defesa pessoal possui uma amplitude enorme, capaz de englobar muita coisa.

E você usa muitas outras técnicas e detalhes de outras artes, inclusive bastões. O que aprendeu sobre usos de objetos no ofício de segurança pessoal?

Eu faço uso do bastão kubotan e posso dizer que é um instrumento que só enriquece o Jiu-Jitsu como defesa pessoal. Aprendi a utilizá-lo nas aulas de krav-magá e estou tentando popularizar seu uso na segurança pública. Hoje é uma arma de defesa muito usada na segurança de autoridades internacionais, e comprovadamente trata-se de uma arma que se utiliza de um mínimo esforço para máxima eficiência, já que mantém o pessoal indesejado distante sem maiores problemas. Os policiais precisam estar cada vez mais bem treinados para não cometer nenhum excesso. No treinamento, o que ensinamos é a arte de manusear o equipamento, quais os pontos sensíveis e como é possível manter agressores à distância com eficiência. E até imobilizar ou por alguma pessoa mais violenta fora de combate.

Qual é a sua primeira memória no Jiu-Jitsu?

Em 1995, eu fui assistir àqueles vale-tudos pioneiros em São Paulo. Na escola onde estudava alguns amigos já treinavam com o Ryan Gracie e na academia Behring. Acabei indo treinar na Fight Factory, que ficava perto de casa. O que me motivou foi mesmo aquela guerra entre Macaco e Pelé no Maksoud Plaza. Na academia já havia uma galera brava, puxada pelo mestrão Roberto Godói, e volta e meia aparecia o Macaco, Barbosa, Fepa e mais uma galera sinistra.

 

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