À frente da Bill Jiu-Jitsu Academy, na Flórida, Aparecido Bill defende a importância da auto-confiança para um bom desempenho no Jiu-Jitsu, e do amor ao que faz para alcançar voos ainda maiores, superando adversidades. Em papo com GRACIEMAG, o faixa-preta falou sobre seus primeiros contatos com a arte suave, sua transição de atleta para professor e suas metas para fazer do BJJ uma forma de melhorar a vida de seus alunos, dentro e fora dos tatames. Confira!
GRACIEMAG: Como você conheceu o Jiu-Jitsu? Se encantou pelo esporte de primeira?
APARECIDO BILL: Comecei em 1985, mais ou menos. Estava com a minha mãe, entramos na academia e ela disse: “Quero inscrever meu filho”. Nesse dia meus olhos brilhavam muito, foi um dia marcante para minha vida. Minha mãe tirou um dinheiro que nós usaríamos para comprar comida para poder fazer a minha inscrição. Quando chegamos em casa, meu pai perguntou se tinha corrido tudo bem e também ficou feliz quando soube. Sofri muito bullying por ser magrinho e os garotos maiores gostavam de empurrar, então meu pai, que era amigo do mestre, me incentivava a aprender a defesa pessoal. Na aula, eu tinha muita raça, sempre lutava com garotos maiores e isso ajudou muito a minha auto-confiança. Com o Jiu-Jitsu, eu nunca precisei machucar alguém, sempre fui bem orientado pelos meus pais e pelo mestre, e hoje em dia eu passo essa mesma orientação para as crianças que treinam comigo.
Assim que começou a prática, já teve interesse em competir? Como foram seus primeiros anos nas faixas coloridas?
Naquela época não havia competições como hoje em dia. O mestre fazia campeonatos na própria academia, chamava as crianças, dava medalhas e era só alegria. Uma vez por ano tinha uma copa em um centro de treinamento que juntava as academias locais, incluindo o pessoal da academia Gracie. Como eu sempre gostei de competição, eu participava.
Os exames de faixa eram diferentes. Passei da branca para amarela e depois para azul, sem pegar a laranja e a verde. Eu não entendia e não fazia questão de pegar todas as faixas, eu confiava que o mestre faria da forma correta, gostava mesmo era de treinar. Recebi a azul no Mello Tênis Clube, após o falecimento do meu antigo mestre, o Monir Salomão, e segui meu treinamento na academia do mestre Wendell Alexander, que ainda não havia ingressado na Nova União.
Em que ano você pegou a faixa-preta e das mãos de quem? Qual a melhor memória deste dia?
Recebi minha faixa-preta no ano de 2000, das mãos do mestre Dell. Eu lutava pela Nova União e a equipe foi campeã no Brasileiro de Equipes, na Ilha do Governador. Estava no pódio dos leves, junto comigo estavam Rodrigo Feijão, Robson Moura, Léo Santos, BJ Penn e outros grandes nomes do Jiu-Jitsu. Na época não era comum encontrar um telefone celular com câmera, então eu nem sei se existe uma foto desse momento marcante.
Como foi a mudança de competidor para professor? Quais foram as principais barreiras?
A cabeça de atleta é uma e a do professor tem que ser outra. Existe uma terceira opção, que é o empreendedor, que precisa ter outra mentalidade já que lida com negócios. Como dono de academia, digo que é difícil. A minha cabeça continua competindo, só que longe dos tatames. A competição agora é dar o meu melhor no dia a dia, pra minha família e pra comunidade. Transitar de atleta para professor aconteceu de forma natural, começou no Brasil e se concluiu quando cheguei aqui nos Estados Unidos, onde moro atualmente. Além de ser uma coisa que eu amo, a transição também foi feita por necessidade. Antes, uma das minhas principais fontes de renda era a venda de camisas de Jiu-Jitsu. Nessa época, eu trabalhava na rua, sem chefe e sem cartão de crédito, e com o dinheiro obtido, eu pagava os campeonatos. Às vezes até conseguia um patrocinador que pagava a inscrição e botava o nome no kimono. Foi uma fase difícil, mas valeu a pena.
Como professor, eu apenas faço o que eu amo. Procuro ensinar, dedico a minha vida a isso. Direciono as minhas atitudes para demonstrar que existem pessoas do bem, me mantenho focado nos objetivos, mas sem perder o respeito e a humildade. Claro, ninguém é perfeito e eu não sou exceção. Apesar de cometer erros, eu sempre busco acertar, acho que esse é o ponto mais importante. Sempre chego aos tatames com energia e amor para fazer o meu melhor.
Qual o melhor ensinamento da sua época de atleta que você sempre passa aos seus alunos?
Eu ensino aos alunos e a todos que já passaram pelo meu tatame a importância de acreditar em si mesmo. Essa crença é algo que te eleva e que é gerada a partir da fé. Outro ponto importante é amar o que você faz. Fazer algo somente pelo dinheiro não te permite desfrutar da sua vida de forma completa e pode afetar o seu desempenho. Quando você faz algo que ama para viver, o financeiro fica em segundo plano e até mesmo um “obrigado” se torna uma vitória. Ao meu ver, a combinação entre esse amor e acreditar em si mesmo é a formula para o sucesso.
Quais são as metas do professor para forjar uma equipe ainda mais forte e se destacar como referência no ensino do Jiu-Jitsu e formação de campeões?
A meta é seguir trabalhando, fazendo o que eu amo e seguir satisfeito com a minha equipe. Me mantenho aberto também para as oportunidades que forem surgindo, como parcerias ou filiais. Eu consigo visualizar essas possibilidades, mas não tenho pressa em realizar essas metas. Eu estou tranquilo e quero me manter assim. Dar a minha aula em paz, focar nos meus alunos, na comunidade e buscar sempre ser um bom exemplo sempre foram os meus maiores objetivos. Deixar uma boa impressão nessa existência para que as próximas gerações possam se guiar pelos meus passos e fazer o bem.