Campeão absoluto do Asiático festeja, mas não revela “segredo de família”

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Lutador e treinador reconhecido no Japão, o faixa-preta meio paulista, meio japonês Marcos Souza não é um ilustre desconhecido dos leitores. Filho de mestre Adilson Souza, mestre e fundador da Bon Sai, Marcos é de linhagem nobre, que ainda conta com o irmão faixa-marrom, a fera Roberto Satoshi Souza.

Mesmo assim, Marcos não era o favorito para vencer o Asiático de Jiu-Jitsu, que terminou no último dia 12 de setembro. Com uma lesão no pé, aliás, ele quase não se inscreveu.

No fim, meteu-se entre as feras Abmar Barbosa, Mike Fowler e Jonathan “JT” Torres, e mostrou o valor da mistura Brasil-Japão – conquistou o peso pesado e o absoluto da competição da IBJJF. E ainda teve gás para responder de bate-pronto a cinco perguntas do GRACIEMAG.com.

Marcos Souza comemora vitória sobre JT no absoluto. Foto: Kinya Hashimoto.

O Asiático 2010 foi seu título mais importante?

Sim, teve um gostinho especial. Há dois anos, na final do mesmo campeonato, eu estava ganhando de 15 a 2, e restando 40 segundos eu quis finalizar meu adversário de qualquer jeito. Me deixei levar pela emoção e fui finalizado no braço faltando apenas 20 segundos para acabar… Este ano eu queria provar que perder aquele Asiático tinha sido uma fatalidade.
Este ano ganhei todos os eventos que lutei aqui no Japão, peso e absoluto. Copas como o Internacional Dumau, o Aichi Open, West Japan, All Japan, a Seletiva Asiática para Abu Dhabi…

Como foi a luta contra JT, ele que é uma das sensações da temporada?

Todos comentavam aqui que seria uma luta interessante, talvez a mais esperada do absoluto. Ele vem ganhando muito espaço no Jiu-Jitsu, já venceu muitos atletas duros e merece respeito. A guarda dele é muito ofensiva, vinha pegando todo mundo que encontrava pelo caminho, mas eu acreditei no meu jogo. Passei a guarda dele e pus o joelho na barriga, vencendo por 5 a 0. Ele é muito forte para o peso leve, e ainda por cima muito rápido. Fiquei feliz.

Aí veio a final do absoluto. Por que você e Abmar Barbosa optaram por não lutar?

No ano passado, o Abmar veio competir no Japão e ficou na minha casa, treinamos juntos e desde então somos grandes amigos. Ele falou que como ajudei-o ano passado, ele este ano iria retribuir o que fiz por ele.
O curioso foi que, no sábado, ele me disse que não lutaria o absoluto, porque queria assistir ao Mundial de Judô. Eu então brinquei com ele, perguntei se ele estava com medo de alguém, e pus pilha dizendo que o título tinha que ficar com algum brasileiro. Além das ameaças japonesas, tinha o JT e o Mike Fowler, um de cada lado da chave, e o perigo de os dois fecharem existia. Ficamos brincando que cada um de nós ia tirar um deles do caminho, o que acabou acontecendo.

O professor da Bon Sai meteu 5 a 0 em Torres. Fotos: Kinya Hashimoto.

Você quase não competiu no Asiático. Como se machucou?

Foi mês passado, na final do All Japan. Machuquei meu pé contra um adversário de 170kg! Foi logo no início da luta, acabei vencendo mas não consegui treinar desde então. Eu já tinha conversado com meus alunos e patrocinadores que não ia lutar, pois estava destreinado. Mas a vontade foi maior, e como estava em Tóquio para acompanhar os alunos, decidi me inscrever nos últimos dias. Superei a dor e o medo de lutar destreinado.
Aproveito para agradecer aos patrocinadores, Bull Terrier Fightwear, Dragão Kimonos, Brutal Company. E, claro, aqueles que torcem por mim, é por vocês que eu tento ser melhor a cada dia.

Seu irmão foi campeão absoluto marrom, finalizando todas as lutas. Como são esses treinos aí?

Meu irmão tem um foco e uma responsabilidade invejáveis. Ganha um campeonato e no dia seguinte já está treinando como se fosse lutar de novo.
Ele inclusive agora vai disputar um GP de Jiu-Jitsu contra outros sete lutadores, para provar quem é o melhor até 75kg do Japão.
Confiamos muito um no outro, nos revezamos no córner e sabemos exatamente o que o outro está fazendo na luta. Nós treinamos toda terça, quinta e sábado na nossa academia Bon Sai Hamamatsu, todos perguntam quem finaliza quem, mas isso é um segredo de família! (Risos).

Como é a rotina de vocês no Japão?

Eu dou aulas de segunda a sábado, enquanto meu irmão puxa o treino na Bon Sai Iwata. Somos três irmãos aqui no Japão, no início trabalhávamos numa fábrica, foi um tempo difícil. A comida era ruim e o trabalho pesado, e pior, não tínhamos tempo para treinar. Hoje temos três filiais aqui, fora as 14 no Brasil, que a gente visita sempre. Outubro, por exemplo, estou de volta aí para ficar com a família.

O irmão faixa-marrom Roberto: agora na luta para saber quem é o melhor leve do Japão.

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