O professor Lúcio “Charly Brown” Fernandes saiu da Paraíba para buscar, em Long Beach, seu título mais importante na carreira que começou em 1996.
No Mundial Master & Sênior de Jiu-Jitsu, realizado no último fim de semana na Califórnia, o faixa-preta da Gracie Barra venceu o meio-pesado sênior 1, categoria que tinha Eduardo Telles e outras pedreiras.
O caminho até o pódio foi de fato complicado. Lúcio teve problemas com a alimentação, com o hotel e seu inglês não ajudava. Depois de tantos perrengues, o paraibano resolveu descontar nos oponentes, no torneio da IBJJF. Confira o que aprendemos ao papear com a fera, um ex-açougueiro que encontrou seu dom ao ensinar para a garotada em João Pessoa.
GRACIEMAG: Como foi essa peripécia para se entender nos EUA e achar um hotel?
LÚCIO CHARLY BROWN: Foi perrengue, com a confusão acabei comendo mal e perdi cinco quilos antes de lutar. O que houve foi que a agência de viagem errou na data da hospedagem, e quando cheguei ao hotel não tinha vaga. Eram oito da noite em Long Beach, e fiquei andando sem saber para onde ir. Tive então a ideia de parar alguns taxistas e tentar descobrir um que falasse espanhol. Na terceira tentativa o taxista me entendeu e entrei no carro. Saímos à procura de um hotel, até encontrar um restaurante mexicano. Um atendente do restaurante me levou até um hotel e deu tudo certo. Pude descansar e enfim comer bem para lutar. Eu só pensava em atacar o tempo inteiro sem errar. Eu vinha da Paraíba e não podia voltar sem medalha.
Após quatro lutas, você ficou com o ouro. Mas ainda precisou superar um triângulo arrochado faltando 20 segundos. Como foi a final contra Fabio Alexandre, da Barbosa Jiu-Jitsu?
Desde o início eu estava pensando em como parar Eduardo Telles, mas o Fabio fez uma ótima estratégia e venceu o Telles na semifinal. Assisti à luta e pensei em colocá-lo para baixo e acelerar. Dito e feito, derrubei na baiana e fiz duas vantagens tentando ir para as costas. Mas, a 20 segundos do fim da luta, ele encaixou um triângulo sem o braço. Pensei em desistir, mas naquele momento pensei em minha família, no meu pai que sempre me apoiou, em tudo que eu tinha passado para estar ali e segurei para vencer. Quando o juiz levantou minha mão, me emocionei.
O que passou na sua cabeça?
Quando pendurei a medalha no peito, lembrei de quando deixei tudo de lado para dar aulas de Jiu-Jitsu, em 1998. Nessa época ninguém sabia pronunciar o nome da nossa arte. Até hoje estou em João Pessoa, na Paraíba. Plantamos uma semente em cima de uma laje e hoje colhemos os frutos, com humildade e garra. Por isso uso sempre meu chapéu de couro, um símbolo que traduz a força, resistência e perseverança do povo nordestino.
Você é um veterano que gosta muito do giro para não ser raspado, em especial na guarda-aranha. O que pode nos ensinar?
Ao jogar por cima, a movimentação é tudo na minha concepção. Seu oponente pode tentar raspar, mas nada vai frustrar mais seu rival do que aquele bate-e-volta, sem conseguir a raspagem. O guardeiro está acostumado a jogar e o passador aceitar, mas eu sempre me antecipo e jogo meu corpo antes que ele se movimente. Outro antídoto é manter a mão sobre o joelho dele, para poder baixar a perna do guardeiro.