No último dia 25 de janeiro, Carlos Gracie Jr. abriu o sorriso para dar uma aula diferente. Pela primeira vez em sua longa jornada como professor, o mestre fundador da Gracie Barra recebia, no clássico dojo azul, pouco mais de 140 praticantes para um treino exclusivo para mulheres, na GB Florianópolis, em Santa Catarina.
Flavio Almeida, o Cachorrinho, um dos líderes da equipe, estava presente para testemunhar o treinão, e reparou:
“Quem começou a treinar Jiu-Jitsu ali pela década de 1990 sabe bem o quão exclusivo era o nosso esporte. O Jiu-Jitsu era para poucos…”, refletiu Flavio. “A mentalidade era outra, e o objetivo era outro. A motivação básica era ser melhor que alguém. Melhorar a nós mesmos vinha apenas como pano de fundo. Isso mudou: a visão do Jiu-Jitsu para todos fez que a arte se tornasse um esporte inclusivo, onde lutadores de elite convivem com pessoas de rotina comum que buscam nos treinos o aperfeiçoamento pessoal.”
Hoje, o Jiu-Jitsu é do campeão que sua pela medalha de ouro e do empresário – ou empresária. E da criança, do ex-sedentário e da dona de casa. É uma arte deles e delas, como o mestre da GB fez questão de reforçar em Floripa.
A professora Nika Schwinden, faixa-preta da GB Curitiba, não podia perder esta, e tratou de alugar um ônibus e uma van para levar suas alunas para o aulão. Além da técnica e das lições, ela guardou o carinho e a atenção de mestre Carlinhos para todas as moças.
“Promovemos uma verdadeira caravana, com um ônibus, uma van e vários carros”, vibrou Nika. “E eu realizei um sonho ao vivenciar aquele momento, depois de tantos anos de luta e trabalho duro. Éramos quase 150 mulheres naquele tatame, reunidas para ver um dos maiores formadores de campeões e professores da história do esporte lecionar com maestria, num treino apenas para mulheres. Percebi que faço parte de uma família especial, e de uma equipe na qual nós mulheres não precisamos mais lutar pelo nosso espaço – pois ele já nos pertence.”
Para Nika, a luta continua, mas com objetivos renovados:
“A filosofia do Jiu-Jitsu para todos é uma poderosa ferramenta de transformação, e que também ajuda na nossa busca de equidade, de respeito e de segurança para as mulheres. Temos profunda consciência de que longas batalhas ainda estão pela frente quando se fala de Jiu-Jitsu feminino. Mas, como mulher, mãe e professora de Jiu-Jitsu, tenho certeza que as mudanças só dependem da gente”, comentou a professora. “Cada mulher que deseja treinar deve buscar uma academia que tenha um ambiente acolhedor, que atenda suas necessidades e respeite as diferenças. Esse é o primeiro passo”.
Ao fim do seminário, Carlos Gracie Jr. deixou as presentes com palavras de empatia, de solidariedade e dever para com o outro. E coroou o discurso de encerramento com uma frase que marcou:
“Antes eu tinha um exército só de homens; agora tenho um exército de mulheres!”