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A divisão peso-galo do MMA é uma das mais empolgantes do esporte. Ao contar com lutadores que pesam até 61,2kg, a categoria é caracterizada pela combinação da velocidade dos moscas (56,7kg) com o poder de nocaute dos penas (65,8kg). Uma divisão que sempre proporcionou combates acelerados e emocionantes.
No UFC, a categoria foi inaugurada com a soberania inicial de Dominick Cruz, que já chegou ostentando o título do extinto WEC. Uma série de lesões acabou por tirar o título de Cruz e o trono dos galos passou a ser do brasileiro Renan Barão. O galo de briga da equipe Nova União conquistou o cinturão interino em 2012, sobrepujando Urijah Faber, líder da Alpha Male. O título interino foi transformado em cinturão linear após nova vitória contra Faber em fevereiro de 2014.
Com um cartel de 32 vitórias seguidas (e apenas uma derrota em sua estreia como profissional em 2005) parecia que não havia ninguém para derrubar Barão do poleiro. Por isso, quando foi anunciado que TJ Dillashaw seria o desafiante no UFC 173, o brasileiro era esmagadoramente favorito nas bolsas de apostas.
Tylor Jeffrey Dillashaw era da equipe Alpha Male e considerado um pupilo de Urijah Faber. Chegou ao UFC após o reality show “The Ultimate Fighter 14” e foi nocauteado por John Dodson em menos de dois minutos na final do torneio. Convenhamos que não foi um bom cartão de visitas. TJ emendou então algumas boas vitórias e chegou à disputa de cinturão com o pouco impressionante cartel de nove vitórias e duas derrotas. Diante desse quadro, entende-se porque poucos apostadores puseram seus suados dólares no galo mirrado Dillashaw contra o imponente galo Barão. Todavia, esses poucos loucos ou corajosos mostraram-se visionários e se deram muito bem.
No UFC 173, em maio de 2014, o que se viu foi uma das atuações mais surpreendentes e dominantes da história do evento. TJ entrou na luta com uma movimentação alucinante e aplicou um knockdown em Renan logo no primeiro round. Barão sentiu e ficou desnorteado o restante da luta, recebendo impressionantes 140 golpes significativos até ser nocauteado, no quinto assalto.
Uma zebra inacreditável, diziam alguns. Vários tentaram justificar a derrota acachapante de Barão por uma suposta falha no processo de perda de peso ou pela sorte de Dillashaw ao encaixar um golpe potente logo no início. Todo esse menosprezo e desconfiança acabariam no UFC on Fox: Dillashaw vs Barão II, em julho de 2015. No evento, o americano destruiria mais uma vez o ex-campeão, nocauteando-o com uma sequência de socos avassaladora no início do quarto round. Ninguém ousava cacarejar mais nada.
Foi então que tudo começou a desandar no terreiro da Alpha Male. Dillashaw recebeu uma polpuda proposta para ser a estrela principal de uma nova equipe na Califórnia. Pensando em sua segurança financeira nessa vida tão inconstante de lutador profissional, bem como na chance de sair da sombra de Faber, TJ aceitou a proposta e deixou o time. Levou consigo o único cinturão da academia que o revelara, treinara e ensinara tudo o que sabia sobre MMA. Para piorar, Dillashaw passaria a ser treinado por Duane Ludwig, antigo treinador que saíra brigado da Alpha Male algum tempo antes.
Imediatamente, Dillashaw passou a ser visto como um traidor. No mundo da luta, ele passou de galo rei para cobra jararaca. Não faltaram memes retratando-o como uma serpente ou usando a cena de “Star Wars: Episódio VII” em que um soldado grita: “Traidor”! O saudoso mestre Carlson Gracie, confesso entusiasta das rinhas de galo, diria que o campeão se tornara um “creonte da pesada”.
Por isso, não faltou quem aplaudisse quando TJ perdeu seu cinturão, por decisão dividida, em espetacular disputa contra Dominick Cruz – de volta após longa inatividade.
Mesmo que Dominick fosse um dos principais antagonistas da equipe Alpha Male, ele ainda era menos odiado por lá do que a cobra criada Dillashaw. O time de Faber teria ainda mais motivos para sorrir quando o novo prodígio da equipe, Cody Garbrandt, dominou Cruz e trouxe de volta o cinturão do peso-galo.
Nesse ínterim, mesmo execrado publicamente, TJ foi humilde e continuou trabalhando arduamente. Vitórias contra os duríssimos Raphael Assunção e John Lineker lhe garantiram a chance de enfrentar seu sucessor. Para a Alpha Male, era a chance de coroar a desforra e esmagar a cabeça da serpente. O jovem Garbrandt passou a cantar de galo, provocando e atacando Dillashaw sempre que podia. TJ mantinha-se sereno. Cody parecia não conhecer o antigo dito popular: “Não se mexe com galo que está quieto”.
O confronto entre Garbrandt e Dillashaw ocorreu no antológico UFC 217 e foi uma das melhores lutas da história do peso-galo. Cody ciscou e bicou algumas vezes, chegando a aplicar um knockdown em TJ no primeiro round. O galeto ficou arrogante, passou a bater constantemente as asas para provocar e acabou levando uma bicada mortal. Em emocionante troca aberta de socos, Dillashaw acertou um cruzado de direita na ponta do queixo de Garbrandt e o derrubou, seguindo com uma sequência de golpes no solo até o juiz interromper a luta aos 2min41s do segundo round. TJ cocoricou de emoção: soltou um grito visceral do fundo do peito, repudiando todos os que o chamavam de traidor e mostrando quem mandava no terreiro.
Sem se dar por vencido, Garbrandt continuou provocando após a derrota e pedindo a revanche. Assim como já havia feito contra Renan Barão, Dillashaw repetiu a atuação na revanche e nocauteou novamente o oponente, dessa vez no primeiro round da luta principal do UFC 227.
Agora, reconhecido por muitos comentaristas como o melhor peso-galo da história, TJ buscará um feito inédito no dia 19 de janeiro de 2019. Vai descer de categoria para enfrentar Henry Cejudo, campeão dos moscas. Nunca antes um campeão baixou de peso para tentar unificar cinturões do UFC. Galo, cobra ou mosca, não importa. O que importa é que TJ Dillashaw parece maduro para nos proporcionar mais um espetáculo.
E para você, fiel leitor, quem foi o melhor peso-galo do UFC até hoje? Comente com a gente!