Aos 35 anos, o faixa-preta de Jiu-Jitsu Cristiano Marcello completou 15 anos de carreira no MMA este ano.
Com 18 lutas nas costas, o lutador formado na Gracie Humaitá acumula 13 vitórias como atleta – além de dois pódios em Mundiais de Jiu-Jitsu, alunos como Wanderlei Silva, Mauricio Shogun e Cris Cyborg na Chute Boxe, e uma certa experiência no mundo do esporte.
Recuperando-se de um joelho lesionado, o peso leve do UFC recomeça os treinos a todo vapor na semana que vem, e pretende lutar antes do fim do ano.
Dono de uma academia em Curitiba com cerca de 200 alunos, entre eles 40 lutadores de MMA, a CMSystem, Cristiano bateu um papo com GRACIEMAG sobre o Jiu-Jitsu no UFC e o que aprendeu na carreira de faixa-preta até aqui. Aprenda com ele.
GRACIEMAG: Você viu o UFC Rio de camarote, literalmente. Gostou do Jiu-Jitsu do Serginho Moraes, Thales Leites & cia?
CRISTIANO MARCELLO: O pessoal arrebentou, o Serginho foi perfeito. Nosso Jiu-Jitsu hoje está muito bem servido, na minha opinião. A renovação está em curso, com Demian Maia, Serginho, Thales, Rafael dos Anjos, Léo Santos, Fabricio Morango, Fabricio Werdum, Vinny Pezão, ao lado dos mais veteranos Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro, eu e outros tantos. A maior dificuldade dos lutadores de chão ainda é o wrestling. No solo nossa superioridade é imensa, o problema é como chegar lá. Aqui no CMSystem temos o Marcelo Zulu como treinador, e trouxe também dois jovens wrestlers como sparring, o Mike e o Ken Jackson, de Oklahoma. Para dar uma ideia, o Jiu-Jitsu está para o Rio assim como o wrestling está para Oklahoma.
Os fãs dos Gracie já estão na expectativa pela estreia de Kron no MMA, o que pode ocorrer já no ano que vem. Que conselhos você daria a ele, e a outros jovens talentos do Jiu-Jitsu que flertam com o MMA?
Quem quer brilhar no MMA tem de manter a mente aberta. O MMA requer curiosidade para provar novas experiências. Recomendo competir em esportes como o boxe e luta olímpica, sentir o tempo de cada modalidade, as dores de cada uma, ver seu corpo se moldando para cada luta. É o caminho para chegar completo a um grande evento. Grande parte do meu Jiu-Jitsu vem do Rickson, que é um Jiu-Jitsu sem firula e sem falhas. Em relação ao chão, portanto, acho que o Kron está feito. É talentoso, tem nossa torcida e com aquela guilhotina e o leque de golpes que possui, a finalização seria natural no chão. Mas é importante conhecer outras modalidades, para ele saber o que está vindo do outro lado, para aumentar seu poder de trocar cartas com o oponente. É preciso que o faixa-preta hoje não fique apenas querendo botar para baixo, o que resulta em lutas monótonas e ainda cansa.
O MMA é muito mais explosivo e você usa muito mais a força, mesmo que você seja um cara muito técnico no chão. É de fato o triatlo das artes marciais, não há tempo para relaxar e você precisa atacar o tempo todo. Hoje, vejo que não adianta ter um grande técnico de determinada modalidade sem excelentes sparrings que a pratiquem bem. Você tem de aprender como se derruba, mas necessita de um bom material humano para treinar isso. Bons sparrings vão oferecer o treino explosivo que o atleta do UFC necessita. É uma questão de ir na raiz de cada modalidade, como faz o GSP. É treinar o wrestling de sapatilha mesmo, na essência da coisa, se aprofundar para evoluir. O atleta tem de buscar a excelência em todos os aspectos.
Os campeões com gás de sobra no UFC hoje são os que fazem sete, dez rounds nos treinos? Qual é o macete para não cansar?
Um erro que ocorre muito nos treinos é a falta de entendimento entre os diferentes treinadores. Então, primeiro de tudo, o preparador físico não pode querer aparecer mais que o atleta. Não pode haver ciúmes entre os diferentes treinadores e o técnico tem de coordenar isso bem, para que tudo seja feito em prol do atleta. Se o treino for feito certinho, o lutador vai estar no gás. Então, se a planilha de treinos indicar dez rounds naquele dia, tudo bem, mas o atleta não vai aguentar mais nada, preparação, Jiu-Jitsu, nada. O principal é o treino estudado, com ciência, para não pecar pelo excesso nem faltar nada. Tudo é periodização.