GRACIEMAG.com esteve presente na tarde dessa terça-feira no Instituto Benjamin Constant, para acompanhar o treino de Jiu-Jitsu de final de ano da criançada deficiente visual. Do lado de fora do dojô, familiares e convidados olhavam orgulhosos os 20 atletas do projeto.
Este ano, graças aos doadores, as crianças receberam uma cesta recheada de presente. Além dos alimentos, cada um deles ganhou um tênis, uma bermuda, uma camisa, um chinelo e, para vibração geral, dois kimonos.
Não bastasse todos os presentes recebidos, as crianças tiveram um ilustre convidado entre eles, o ator e faixa-preta de Jiu-Jitsu Raul Gazolla. Faixa-preta de Rodrigo Comprido, Gazolla se divertia com cada uma das crianças. Ora ensinava posições, como raspagens, dando pequenas dicas ao pé do ouvido, ora sentia a pressão da molecada no cem-quilos, como fez com o faixa-verde Dudu, campeão duas vezes na Copa América de Jiu-Jitsu.
E era chegado o momento mais aguardado por todos eles, a graduação e a entrega dos presentes. Felipe Costa, Michelle Matta, João Marcelo e Muzio De Angelis falaram do esforço e dedicação de cada um dos atletas. Mas foi Gazolla o que mais se emocionou:
“Fiquei muito bem impressionado com o nível técnico de vocês. Independente de qualquer deficiência que vocês tenham, ninguém tira de nós uma coisa que Deus nos dá, que é nossa força interior. Pessoal, basta mentalizar. O ser humano tem uma força enorme dentro de si. Mentalizem o que vocês quiserem, e irão conseguir. Eu comecei a treinar Jiu-Jitsu com 36 anos e hoje estou com 54, e essa foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Me ajudou em todos aspectos, fisicamente, emocionalmente e espiritualmente. O Jiu-Jitsu só vai trazer coisas boas a vocês, então nunca desistam. Parabéns a todos vocês e muito obrigado”, disse Gazolla debaixo de aplausos.
Ao todo, dez crianças foram graduadas. E não foi difícil perceber rapidamente o talento e habilidade de cada um deles para a arte suave. O faixa-branca Caleb, ao receber sua faixa, foi parabenizado não só pelo dom para a arte suave, mas principalmente por ser criança exemplar dentro e fora do dojô. Tímido, o pequerrucho exibia um imenso sorriso no rosto. “Estou me sentindo bem melhor agora com o Jiu-Jitsu. Ainda não competi, mas quero lutar em breve”, disse ao GRACIEMAG.com.
Não importa o tamanho da montanha, ela não consegue tapar o sol”
No meio da graduação, quem foi pego de surpresa foi o voluntário João Marcelo, então faixa-roxa. “Quero dizer a todos vocês que o João é a alma deste projeto. Pois é ele quem segura todas as pontas enquanto muitas vezes nem eu nem a Michelle podemos estar presentes. Então nós da equipe Brasa decidimos graduar você, João, faixa-marrom”, disse Felipe Costa. O mais novo faixa-marrom da praça teve que segurar as lágrimas ao ouvir sobre o projeto.
E havia mais gente interessante no treino. Dalila Serpa, chamava atenção, não só por ser a única mulher do grupo, mas principalmente pela pegada justa e guarda fechada. E se engana quem acha que ela só leva jeito para o Jiu-Jitsu. Além de praticante da arte suave e judô, ela é compositora e cantora.
No começo, quando foi treinar Jiu-Jitsu em outro local, ela encontrou um obstáculo conhecido no dia-a-dia dos deficientes, quem nem é precioso mencionar. “Quando eu cheguei para treinar lá, vi que as pessoas estavam com medo de treinar comigo por não saberem como agir com um deficiente”, disse Dalila.
Ela ficou chateada? “Claro que não. Fiz sim questão de mostrar a cada um deles que eu era capaz de treinar com todo mundo ali. Aí depois eles viram que não tinham porque me tratar diferente”, disse.
Ao final do treino, uma servidora pública que a tudo assistia comentou com o repórter.
“Não importa o tamanho da montanha, ela não pode tapar o sol. E foi exatamente o que vi aqui hoje. Todas essas crianças representam o sol que brilha em qualquer circunstância”.