Rodolfo Vieira é um monstro.
Cinco vezes campeão mundial como faixa-preta e já um membro do hall da fama aos 24, Vieira é o arquétipo do passador com pressão.
Ele é uma força a que poucos no circuito de competição têm chance de resistir.
No Mundial 2014, ele teve um desempenho impensável, finalizando todos os seus oito oponentes no absoluto e no peso, até chegar a final do aberto.
Diferente de Roger Gracie, que em 2009 finalizou todos os seus adversários da montada, Rodolfo Vieira usou um vasto leque de finalizações.
Ele pegou Bernardo Faria duas vezes – primeiro com uma chave de pulso e depois com um armlock -, mas também distribuiu estrangulamentos das costas, relógios e muito mais.
Não obstante, Rodolfo foi incapaz de atingir sua meta completa em Long Beach.
Novamente, ele se deparou com Marcus Buchecha na final do absoluto e não logrou desenvolver seu jogo.
A derrota por 2 a 0 para o tricampeão mundial absoluto levou o placar histórico dos dois para 5 a 1 a favor de Buchecha.
Depois que terminou a luta, uma pergunta flutuava sobre as cabeças de quem acabara de assistir a mais um capítulo da maior rivalidade do Jiu-Jitsu atual.
Por que é que Rodolfo não consegue exercer seu jogo de pressão contra Buchecha?
GRACIEMAG buscou alguns dos professores mais renomados do Jiu-Jitsu para ajudar a resolver esse quebra-cabeças.
Por baixo, Rodolfo trabalhou para raspar logo.
Xande Ribeiro, bicampeão mundial absoluto, é entendido do assunto de derrotar adversários maiores, conforme fez em combates contra Roger Gracie.
Ele opina que a resposta pode estar dentro da mente de Rodolfo: “Ele tem que acreditar na sua habilidade no judô. Em cada torneio, Rodolfo tem um desempenho quase perfeito, enquanto o Buchecha passa por uns maus bocados, levando pontos, mas depois se recuperando pra vencer. O que muda quando eles se encontram é que o Buchecha sempre sabe o que ele vai fazer. Rodolfo precisa estar disposto a lutar por dez minutos seguidos e arriscar sem medo de que as coisas deem errado. Só assim ele vai chegar a posições de controle e vencer”.
Fabio Gurgel, tetracampeão mundial e líder da Alliance, equipe eneacampeã mundial, analisa as qualidades de Buchecha como lutador e aponta o que Rodolfo precisa fazer para superá-lo: “Buchecha tem conseguido derrotar Rodolfo com sua imprevisibilidade. Ele é um cara que une técnica, explosão e velocidade que fazem a luta se inclinar pro lado dele. Quando o oponente acha que ele vai puxar pra guarda, ele tenta uma queda, por exemplo. Sem dúvida, as chances de Rodolfo residem em jogar por cima, então o jogo em pé é vital pra ele”.
Tricampeão mundial e líder da Gracie Barra, Marcio Feitosa entra na conversa concordando que Rodolfo deve ficar por cima. “Ele tem que trabalhar melhor no seu jogo em pé. Ele tem quedas fortes, mas ele foi pego de surpresa na última vez com a estratégia do Buchecha de anular seu judô. Uma vez que esteja no chão, Rodolfo precisa confiar em suas passagens. Ele tem muitas passagens com pressão e precisa acreditar nelas.”
A pressão foi o nome do jogo
André Galvão, líder da Atos JJ e bicampeão mundial, já competiu contra Rodolfo e Buchecha e conhece os perigos que cada um pode levar a seus adversários. Ele diz que uma combinação de fatores está fazendo que Buchecha ganhe a corrida contra Rodolfo. “Primeiro, eu acho que é psicológico. O Buchecha está muito confiante no momento, com suas últimas vitórias nos encontros deles. Eu acho que o treinamento é um fator importante. O Buchecha está tirando melhores resultados do treino dele, além do fato de que ele é mais forte, mais rápido e mais alto que o Rodolfo. Este é o momento do Buchecha, mas o Rodolfo não pode desistir. Ninguém é perfeito.”
Professor de Buchecha desde sempre, o campeão mundial Rodrigo Cavaca entra na discussão avaliando a maior qualidade de seu pupilo: “Desde a faixa-azul, ele arrisca tudo com o que quer que lhe venha à cabeça durante a luta. Muitas vezes ele cometeu erros e precisou se recuperar. Um exemplo recente foi a final do absoluto do WPJJC 2014, quando ele tentou uma guilhotina e terminou com o Rodolfo em sua meia-guarda, a posição mais forte de passagem do Rodolfo. Ele teve de lutar a luta toda para se recuperar e vencer no fim”.
Por fim, o professor de Rodolfo, Julio Cesar, fecha a conversa, por ora, com sua perspectiva sobre a matéria: “O Rodolfo se decepciona com os resultados porque ele sempre treina com o melhor resultado em mente. É sempre uma luta dura. Na última vez, eu acho que lhe faltou mais treino de judô em Abu Dhabi; faltou-nos uma atuação melhor do árbitro. Uma coisa é certa: ele nunca vai desistir até que consigamos reverter essa situação. O Buchecha é aquele cara que nunca chega para um combate com o mesmo jogo da luta anterior. Tudo que podemos fazer é erguer a cabeça e treinar mais duro”.