No último sábado, 3 de agosto, a poucas horas de sua luta no UFC Rio, o faixa-preta de Jiu-Jitsu Serginho Moraes, 31 anos, estava fazendo hora na praia da Barra da Tijuca quando optou por uma manobra arriscada.
Chamou o ambulante vendedor de espetinhos e pediu um de camarão.
Foi interrompido pelo treinador Fabio Gurgel em cima do laço, que não queria ver seu campeão da Cohab tomar um eventual nó no estômago.
A história ilustra o jeito despreocupado e de bem com a vida de Serginho (8v, 2d), um dos mais aplaudidos antes e depois de sua exibição no UFC 163, na HSBC Arena, quando finalizou Neil Magny ainda no primeiro assalto e recebeu o bônus de mais de 140 mil reais de melhor finalização da noite.
A montada alta seguida de triângulo, aliás, lembrou muito sua finalização em cima de Josh Martin, no Bellator 12, em 2009.
“É preciso ter muita confiança para montar e rodar caindo para baixo no triângulo, mas o Serginho faz essa muito bem. Quando um lutador monta, é muito comum o oponente reagir abraçando a cintura para se proteger dos eventuais socos. O que o Serginho faz então é laçar a própria perna por baixo, prendendo o braço do cara ali sem chance de escapar”, comenta Fabio Gurgel, córner do lutador.
“A pressão então fica esquisita e o adversário todo torto, pronto para batucar. E, se ele não conseguir passar para o triângulo por algum motivo, ele consegue a omoplata. Mas o normal é ocorrer o que aconteceu: primeiro o cara expõe o rosto, Serginho manda umas cotoveladas bem dadas e, quando o cara acusa o golpe e tenta esconder o rosto, o triângulo se apresenta”, explica Gurgel. Puro Jiu-Jitsu.
Serginho, que ensina Jiu-Jitsu em Curitiba, agora curte a vitória e a graninha extra, sem pensar em escolher oponentes para a próxima. “Quem o UFC escolher está ótimo. Nossa expectativa é apenas para que ele lute no card principal, como ele está cada vez mais querido no Brasil a gente acha que isso acontece já na próxima”, avalia Fabio.
Seja contra quem for, no entanto, o caminho para a vitória será parecido, se depender do professor da Alliance:
“O legal foi que a queda saiu naturalmente. Eles clincharam no meio da trocação, foi até o cara que abraçou o Serginho. E, como o Neil Magny conhece o Jiu-Jitsu, ele acaba aceitando a luta de chão. O que foi fatal”, analisa o treinador. “Um dos méritos do Serginho foi ter migrado do kimono para o MMA sem perder os ajustes. Ele continua treinando, continua ensinando Jiu-Jitsu, e pudemos perceber que ele mantém suas posições afiadas. É um lutador de chão muito justo, que perde muito poucas posições. Com e sem kimono, quando ele chega a uma posição vantajosa ele é muito firme, estabiliza e não desperdiça”.
Segundo Gurgel, Serginho vai continuar priorizando o chão, mas sem a ingenuidade de achar que hoje, no UFC, é possível um faixa-preta finalizar sem dar um soco sequer:
“É utopia… É como achar que alguém vai entrar lá, dar um tapa e entrar na baiana. Ou dar um pisão e baianar. É a evolução natural do esporte, não tem jeito. O lutador de Jiu-Jitsu tem de saber trocar e socar mesmo se quiser agarrar. Tem de saber derrubar, treinar wrestling. Ele vai precisar bater no cara no chão para controlar a posição e aguardar a brecha. Não adianta achar que vai lutar submission no octagon. Serginho entende isso, sabe onde precisa melhorar. Com os pés no chão, ele vai longe ainda, nos próximos cinco anos”, aposta Gurgel.
E você, leitor? Quer ver Serginho lutar com quem no UFC agora?