Terminadas as gravações do “TUF Brasil 3”, programa que estreia no próximo 19 de março na TV Globo, Fabio Gurgel tem curtido uma rotina um pouco menos atribulada.
Enquanto o Pan da IBJJF não chega, o treinador de Jiu-Jitsu da Alliance aproveita para arrumar a casa, e no seu caso isso significa resolver de vez um probleminha no ombro esquerdo que ele vinha protelando há tempos. Agora não teve jeito, e a artroscopia está marcada para esta semana.
Entre uma aula e outra no QG da equipe em São Paulo, Fabio bateu um papo com GRACIEMAG. Entre as pautas, a mudança anunciada pela IBJJF para o Mundial de Jiu-Jitsu 2015 em relação à divisão dos faixas-pretas, quando somente ex-campeões mundiais na preta, lutadores ranqueados e medalhistas de ouro na faixa-marrom no ano anterior terão vaga assegurada no evento. (Relembre os detalhes da novidade aqui, em artigo de Erin Herle.)
O General da Alliance disse aprovar a novidade, e explica a seguir por quê.
GRACIEMAG: A mudança anunciada para o Mundial de Jiu-Jitsu de 2015 foi pedida por alguns professores, certo? A medida é justa, na sua visão?
FABIO GURGEL: Basta pensarmos num exemplo simples: você gosta de nadar, certo? Você se imagina se inscrevendo no próximo Mundial de Natação sem nunca ter disputado nada e cair na piscina na raia ao lado do Cesar Cielo? Não é assim, né? Todos os esportes e modalidades possuem mecanismos para que isso não ocorra, e até agora o Jiu-Jitsu não tinha. A gente já tinha debatido isso outras vezes, os professores e o pessoal da Federação. Era comum você olhar para as áreas de luta nos Mundiais e ver o Rodolfo lutando contra um cara que nunca ninguém viu, o Buchecha fazendo as primeiras lutas contra um desconhecido. Isso ocorria inclusive nas primeiras fases do absoluto. Na minha opinião, e na de outros professores que a IBJJF escutou e atendeu, o Mundial precisa ser uma vitrine do esporte, o palco para o povo aplaudir os faixas-pretas do Jiu-Jitsu mais técnicos e preparados da atualidade. A medida é, portanto, extremamente benéfica para o esporte e para os competidores. Há o que melhorar, claro, mas toda mudança tem de partir de um ponto. Ao meu ver essa novidade vai tornar o Mundial mais atraente para todo mundo: plateia, atletas, academias.
E quem sabe para a TV, né? Se o esporte quer crescer e ser visto, nada melhor que um campeonato com a nata para cair no gosto dos diretores de programação, fãs etc.
Exatamente. Quem enxerga a medida por um lado negativo, sempre buscando encontrar uma teoria conspiratória, para mim está equivocado. Já li até alguém falar em boicote. Isso é uma viagem. Na verdade, como primeira consequência a Federação vai perder dinheiro, pois serão menos inscrições no Mundial 2015. Se o lance fosse faturar, era mais simples deixar a faixa-preta abarrotada de atletas. Claro, a medida vai valorizar os abertos e os campeonatos locais, que dão pontos no ranking? Sim, certamente. Mas isso também é importante para o esporte crescer localmente. É bom para o Jiu-Jitsu de Manaus ter um campeonato grande; é bom para Houston e suas academias contarem com um campeonato por lá. A IBJJF está apenas escutando os professores, e quem quiser participar vai ajudar o esporte. Quem quiser ficar de fora apenas reclamando, sem propor nada, não vai colaborar.
Você tem uma leva de alunos faixas-pretas, alguns jovens promissores, que perigam ficar fora do Mundial 2015. O que vai recomendar a eles para que não percam a oportunidade de estar lá?
Esse jovem faixa-preta vai ter de correr os campeonatos todos, e lutar mais, para se mostrar digno de estar no palco principal. Se ele mora no Brasil, tem o Campeonato Brasileiro para ser campeão, e abertos como o Manaus Open, Rio Open, Brasília Open, São Paulo Open e no Nordeste. Nos EUA hoje há realmente mais campeonatos, e isso é um ponto que pode ser ajustado, a quantidade de Opens aqui no Brasil. Mas acredito que o plano seja expandir e espalhar mais abertos nas grandes cidades do Brasil. Outra ideia que pode ser benéfica é tentar, no futuro, criar um mecanismo de proporcionalidade. Por exemplo: a Europa ter tantas vagas na faixa-preta, a Ásia ter outras tantas, e por aí vai.
Agora o campeão mundial de fato, e não o atleta que “fechou” mas ficou em segundo, ganha passe livre para todos os Mundiais. Ficou mais delicado fechar?
Não acredito. Acho que os caras que chegam a esse nível de fechar um Mundial provavelmente já são muito bem ranqueados ou campeões anteriormente. Talvez no futuro a coisa mude, mas hoje o Jiu-Jitsu ainda é um esporte entre equipes, e lutar acaba criando situações dentro dos times.
Qual é a maior necessidade do Jiu-Jitsu, hoje?
A briga de todos nós, o que ainda estamos lutando para descobrir, é como ajudar o atleta a ganhar dinheiro. Essa devia ser a principal preocupação da comunidade do Jiu-Jitsu hoje, de todos, e não atacar a IBJJF. Os atletas hoje têm basicamente o patrocínio como fonte de renda, mas isso ainda não é suficiente para todos. Um patrocinador aparece hoje mas amanhã pode sumir. O esporte precisa ser rentável, precisa ter uma massa de consumidores que sustente o esporte, mas ainda não existe. Estamos ainda crescendo.
E como foram as gravações do “TUF 3” com Sonnen x Wand? Você vai participar dos treinos do brasileiro? Como evitar que o Wanderlei caia naquela guilhotina que pegou o Shogun na luta do dia 31 de maio?
Foi uma experiência ótima, mais uma vez. Os novos talentos são muito bons, uma garotada excelente. O treino do Wand será em Las Vegas, então não sei como vai ser. Já trocamos uma ideia sobre Jiu-Jitsu para esta luta. Não acho que a guilhotina será um problema para o Wanderlei, acredito que ele tem armas para defender esse tipo de golpe sem problemas. O aspecto mais forte do Sonnen em relação ao Jiu-Jitsu é como ele bota para baixo; o índice de finalizações dele é mínimo. O caminho para o Wand então é este: treinar no chão para se ajeitar e levantar mais vezes, não ficar por baixo e manter a luta em pé, onde ele gosta de estar.