Hoje Pedro Dias mora em Chicago, nos Estados Unidos, e vive uma realidade no Jiu-Jitsu bem diferente de quando começou. Nascido e criado na comunidade Santa Marta, em Botafogo, no Rio de Janeiro, Pedro ingressou no esporte como muitas crianças na mesma realidade social, por meio de projeto social.
Seu talento, ainda na infância, foi reconhecido por Leão Teixeira, o popular Zé Beleza, expoente do Jiu-Jitsu e um dos difusores da arte marcial brasileira como é praticada hoje. Na Gávea, Pedro aprendeu muito do que sabe hoje. Por isso, ele relembra da época com gratidão.
“Com o fim do projeto da Nova Geração em parceria com a antiga faculdade Gama Filho, meu pai não queria que eu parasse com o Jiu-Jitsu. Ele tinha um amigo que era porteiro na academia do Leão Teixeira, na Gávea. Fui convidado para um treino e fiquei lá até a minha faixa-marrom. Eu aprendi muito, como gestão de academia, treinar e dar aulas corretamente.”, disse Pedro.
Vice-campeão mundial na faixa-roxa e campeão do Europeu na faixa-marrom, Pedro Dias é atualmente um faixa-preta habituado com grandes palcos competitivos, mas cujo ingresso demandou muito esforço e dedicação. Em conversa ao VF Comunica, o atleta disse que, ao relembrar sua trajetória, os obstáculos que teve que superar para evoluir foram aqueles já corriqueiros para os atletas que não possuem recursos.
“Os maiores desafios foram os mesmos da maioria dos atletas, há dez anos atrás. Ter o mínimo, o dinheiro para a inscrição, captar um patrocínio, não ter apoio para fazer uma viagem para lutar, não ter dinheiro para pagar um preparador físico e manter uma dieta balanceada. Era sempre uma questão de lutar para ganhar, já pensando em usar o dinheiro da premiação para pagar uma próxima viagem.”, detalhou o faixa-preta.
Inspirado em Fernando Tererê e Marcelinho Garcia, Pedro Dias tem a prata conquistada na Pirâmide, na Califórnia, como um dos momentos mais especiais da carreira. Aquela oportunidade, primeira vez dele nos Estados Unidos depois de complicações com o visto, revelou que existem conquistas gratificantes que vão além de um título, só é preciso saber identificá-las.
“Quando eu fiquei em segundo lugar no Mundial, de faixa-roxa, foi a minha primeira vez nos Estados Unidos e a viagem foi muito corrida, tive uns problemas com relação ao visto e não consegui participar do Mundial no ano passado. Trabalhei no Carnaval daquele ano para ter dinheiro e tentar novamente o visto. Eu fiz sete lutas e perdi por apenas um erro. Foi muito marcante por tudo que eu passei. A solidariedade dos parceiros de treino também foi muito especial para mim. Não foi a medalha em si, mas a ocasião. Por tudo que aconteceu antes.”, comentou.
Antes de se estabelecer no exterior, Pedro Dias precisou aprimorar outras áreas da vida além do desenvolvimento como atleta. Acostumado a driblar dificuldades para alcançar metas, Pedro entrou na contramão e achou uma forma de se desenvolver enquanto o resto do mundo paralisava com a pandemia. Do limão, ele fez uma limonada.
“Por incrível que pareça, o maior divisor de águas foi durante a Covid. Eu estava nos Estados Unidos, na Virgínia, e continuei treinando porque lá não fechou tudo, é uma região country, com leis próprias. Eu acabei tendo mais tempo para desenvolver novas habilidades. Melhorei o meu inglês, fiz cursos de administração e business, aproveitei o meu tempo fora dos tatames.”, explicou.
Para a temporada de 2025, Pedro está motivado a participar das grandes competições como atleta, com a missão de entregar um bom Jiu-Jitsu para vencer e captar a atenção de pessoas certas. Daqui a algum tempo, ele não descarta a possibilidade de migrar para o MMA e desbravar novos territórios como artista marcial.
“Ano que vem quero lutar tudo, me sinto bem e saudável. Eu tenho esse compromisso comigo mesmo, de mostrar um bom Jiu-Jitsu. Quero reproduzir o que faço dentro da academia na competição. Pretendo abrir a minha academia também e, no futuro, penso em entrar para o MMA.”, enfatizou Pedro.