Atleta de alto rendimento no Jiu-Jitsu e MMA, nosso GMI Felipe Nilo trocou a academia pela clínica esportiva, se tornando uma referência no ensino do Jiu-Jitsu como terapia para crianças e jovens com necessidades especiais. Focado no tratamento de crianças com autismo, síndrome de Down, paralisia infantil e outros casos similares são o foco do professor, que do kimono o seu jaleco em suas sessões de tratamento.
GRACIEMAG conversou com o professor e absorveu mais detalhes sobre o uso da arte suave como tratamento, e a aula de Felipe, como em todas as boas histórias sobre o Jiu-Jitsu, ensinaram tanto ao faixa-preta quanto as lições que são passadas aos seus valentes alunos. Confira!
Além do seu trabalho exemplar com alunos no espectro autista, você também ensina crianças e jovens com paralisia cerebral. Qual o maior desafio ao ensinar Jiu-Jitsu para esses alunos?
Conseguimos através do Jiu-Jitsu avanços incríveis nestas crianças. No caso dos alunos com paralisia cerebral, o maior obstáculo é a superar o comprometimento motor e cognitivo delas. Como faixa-preta, enxergo todo desafio como uma barreira a ser enfrentada e superada. Quanto maior o desafio mais longe nossas crianças e adolescente chegarão através do Jiu-Jitsu e da terapia.
Como que você se preparou e estudou para atender um nicho tão específico e delicado como este?
Além de faixa-preta e professor de Jiu-Jitsu, sou formado em terapia ABA (Applied Behavior Analysis ou Análise de Comportamento Aplicada), que é uma ciência da psicologia que se aplica muito no tratamento de crianças com autismo, mas que por sua abrangência técnica poder ser bem usada em outras frentes. Contudo, para fazer esse trabalho é essencial o amor e a empatia. Temos muitos oportunistas nesse ramo de tratamento para crianças com necessidades especiais. Buscar o estudo, a capacitação e ter amor pela causa são fatores essenciais.
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Quais são as respostas e avanços que os pais e responsáveis podem esperar da inclusão do Jiu-Jitsu na vida desses jovens?
Os aspectos de melhora são amplos. Vou colocar o nosso aluno Lucas Carneiro (em aula no vídeo acima) como exemplo. Ele tem paralisia cerebral, nasceu com 26 semanas apenas, pesando 900g. Ficou um tempo internado em UTI ao nascer. Mesmo com essas complicações, ao analisar hoje o desenvolvimento dele após treinar Jiu-Jitsu como terapia, vemos com clareza seus avanços. Existe um olhar clínico para analisar, logicamente. Quando ele cai não bate mais a cabeça no chão. Ele desenvolveu um reflexo de defesa, fortalecendo a musculatura para evitar esse tipo perigoso de choque. O equilíbrio dele teve uma melhora significativa, claro, não só com o Jiu-Jitsu, mas também aliado ao trabalho árduo de fisioterapeutas e demais profissionais da equipe multidisciplinar dele. Outro aspecto visível é a questão do foco. A atenção nas explicações, não só dele mas das demais crianças. O controle do contato visual, questões sensoriais também avançam muito, a coordenação motora ampla e fina. É uma gama enorme de benefícios trazidos pelo Jiu-Jitsu em forma de terapia.
Para fechar com uma lição, o que o professor Nilo aprendeu e mudou na sua vida após lidar com esses alunos? Qual a maior recompensa do professor em ver os avanços nos seus pequenos?
A satisfação é enorme. Hoje eu não tenho uma academia, e sim uma clínica esportiva no qual desenvolvemos esse trabalho. Quando comecei nesta vertente tive que trabalhar muito na minha humildade, quase como amarrar novamente uma faixa-branca na cintura. Sou uma nova pessoa. Acima de professor e terapeuta eu me torneio um ativista da causa. Luto pela inclusão desses jovens com unhas e dentes. A minha vida tem um propósito. Deus me colocou nesse meio. Auxiliar no desenvolvimento dessas crianças não tem preço. Meu sonho era viver da luta. Não só consegui isso como me tornei ainda mais útil à sociedade, trazendo esperança, transformação, superação para estas famílias. A maior recompensa é ver essas crianças sorrindo, felizes e se transformando a cada aula.