Um é bicampeão mundial de Jiu-Jitsu na faixa-preta, o outro é campeão do ADCC. Ambos são finalizadores por excelência e representam a arte suave do Brasil no octógono mais famoso do mundo. Com essa bagagem, GRACIEMAG escalou Serginho Moraes e Rani Yahya para uma entrevista especial.
Na atividade de hoje, os lutadores entram como repórteres e entrevistam um ao outro, usando suas experiências pessoais como base para extrair boas perguntas. Ambos com lutas marcadas, Serginho e Rany falaram sobre a migração da luta agarrada para os treinos e preparação com golpes traumáticos, a adaptação dos treinos de Jiu-Jitsu para o MMA, as expectativas para o futuro na organização e sobre a nova geração que pode surpreender nos próximos anos.
Confira a entrevista dupla abaixo!
Serginho x Rany
Serginho Moraes: Quando você decidiu migrar para o MMA, qual foi a sua maior preocupação para conseguir se sair bem na nova modalidade?
Rani Yahya: O que me motivou a entrar no Jiu-Jitsu foram as lutas do Royce no UFC e do Rickson no Japão. Desde aquela época, eu já me interessava pelo MMA. Meu sonho era lutar no maior evento do mundo. Mesmo competindo no Jiu-Jitsu, eu sabia que uma hora ia migrar para o MMA. A maior dificuldade, sem dúvida, foi a transição. Não tinha mais pontos ou vantagens, no MMA você tem que buscar uma posição de superioridade o tempo todo para definir a luta. Outra dificuldade é na questão do ritmo, do condicionamento físico. No MMA você não pode parar nem um instante, já no Jiu-Jitsu de competição, você consegue dar uma controlada na luta. Dá aquela respirada, olha para o juiz, para o placar, dá uma amarrada… O MMA é mais dinâmico.
Você foi campeão de grandes eventos como o mundial de Jiu-Jitsu e o ADCC. Como você compara esses torneios ao UFC? Sente a mesma adrenalina, pressão etc?
Eu sempre ficava muito nervoso nas competições de Jiu-Jitsu. Nas minhas primeiras lutas de MMA, eu também ficava muito nervoso. Cheguei a procurar psicólogos, tomei remédio controlado, mas depois de um tempo eu abandonei tudo isso. O MMA me tornou uma pessoa melhor, passei a ter um estilo de vida mais natural, comecei a meditar, a fazer yoga, e consegui controlar a ansiedade. Hoje me sinto mais tranquilo quando vou lutar. Pressão sempre existe, mas hoje sei me controlar melhor.
Seu próximo adversário (Luke Sanders – UFC Licoln / 25 de agosto), gosta da trocação. É um adversário que casa bem com o seu estilo de luta?
Meu oponente gosta de partir pra cima o tempo todo. Ele tem um ótimo condicionamento físico. Mas ele comete erros na luta. E um erro contra um lutador de Jiu-Jitsu pode ser fatal. Então, pretendo explorar isso. Essa luta casa bem sim. Mas eu acredito que todo oponente nós temos que adaptar o nosso estilo a ele. Então, tenho analisado muito o jogo do meu adversário e estudando como adaptar o meu estilo e impor o meu jogo. Ele pode até saber o que eu vou fazer, mas ele não sabe como eu vou fazer.
Você passou por um momento difícil ao perder a sua mãe antes da última luta, mas teve uma das melhores performances da sua carreira. Como conseguiu superar um trauma como esses e ter uma grande performance?
A luta sempre foi a minha válvula de escape. Sempre que eu estava estressado, ia para o tatame treinar. Nesse caso da minha mãe, foi muito difícil, muito duro pra mim, cheguei até pensar em cancelar a luta. Mas acho que se eu cancelasse seria pior pra mim. E ela não ia querer isso, ela gostava muito de me ver lutando. E quando ela estava na UTI e depois veio a falecer, eu dupliquei a minha concentração na luta e investi toda a minha energia para ter uma grande desempenho e depois homenageá-la. Fiquei muito feliz que deu certo.
Antigamente, um atleta de Jiu-Jitsu sonhava em ser campeão mundial para migrar para o MMA. Hoje, vemos poucos atletas migrarem. O que você acha que mudou? E quem da nova geração pode se sair bem no MMA?
Rani Yahya: O Jiu-Jitsu de competição está se distanciando bastante do Jiu-Jitsu que aplicamos no MMA. No Jiu-Jitsu de alto nível, a regra tende a ser explorada ao máximo e isso diferencia muito do Jiu-Jitsu que é aplicado no MMA. E hoje, os atletas do Jiu-Jitsu estão tentando viver mais dentro da modalidade, sem ter que buscar outras alternativas como lutar MMA. Hoje, muitos campeões do Jiu-Jitsu dão aulas, seminários e hoje eles vivem bem assim. Mas dessa nova geração, acho que o Rodolfo Vieira e o Bruno Malfacine podem se dar bem. Eles já estão lutando e se destacando.
Rani x Serginho
Rani Yahya: Você sempre buscou muito o Jiu-Jitsu em suas lutas de MMA. Qual foi maior dificuldade para conseguir adaptar o seu estilo no MMA?
Serginho Moraes: Sempre busquei levar a luta para a minha área, que é o Jiu-Jitsu. A maior dificuldade para me adaptar é saber encurtar a distância na luta em pé para levar para o chão sem se expor. Sabemos que na trocação tem muito golpe de encontro, e um golpe bem dado pode te nocautear. Então, para conseguir achar esse caminho e se sentir confortável para encurtar a distância e levar o oponente para o chão, leva um certo tempo.
Uma das maiores dificuldades para quem vem do Jiu-Jitsu é trabalhar a parte em pé para encurtar e levar a luta para o chão. Como foi para você essa transição?
Essa transição levou tempo, mas foi muito boa. A equipe que eu escolhi para me dedicar ao MMA tem como ponto forte a trocação. O André Dida, que é o líder da equipe, vem da mesma escola do Rafael Cordeiro, do Maurício Shogun, do Wanderlei Silva entre outros. Então, ele têm uma grande experiência nisso e me fez entender qual era o melhor caminho para conseguir explorar o meu estilo.
Seu adversário na próxima luta (Ben Saunders – UFC São Paulo/22 de setembro) também é bom de chão. Acha que ele vai arriscar lutar no chão com você?
Ele gosta de chão, vamos ver se ele vai tentar levar a luta para a minha área. Está na hora de alguém buscar a luta de chão comigo (risos). Tenho fé que nessa luta vai rolar.
Sente falta de competir de kimono?
Eu sinto muito falta sim. E talvez eu até volte a competir de kimono. Não quero ficar só na vontade, quero fazer isso acontecer de verdade.
Como você lida com os wrestlers? Caso não consiga ficar por cima, como trabalha de costas no chão?
Como todo bom lutador de Jiu-Jitsu, estamos sempre prontos para fazer guarda. Já teve até lutas que eu puxei para a guarda. A guarda tem que estar sempre afiada, pronta para dar uns botes. Estou sempre treinando para capitalizar quando o wrestler tentar fazer o ground and pound. Aí é a hora de tentar atacar uma finalização.