Hoje instrutor das forças armadas no Qatar, o faixa-preta carioca Rodrigo da Conceição Barbosa nasceu num celeiro de craques do Jiu-Jitsu, o morro do Cantagalo que consagrou os ídolos Fernando Tererê, Jackson Sousa, Alan Finfou, entre outros colecionadores de ouro. Mas no caso de Aquiles, ou Akillis como ele mesmo grafa, quem teve a feliz ideia de convidá-lo a treinar não foi nenhum faixa-preta consagrado, mas uma faxineira casca-grossa que viu nos tatames uma ótima atividade para o filhão.
Patrícia da Conceição, então funcionária da academia de Ricardo de la Riva, conversou com o mestre, que na hora deu uma bolsa para o sorridente molecão de 8 anos. O amor pela arte foi automático, e aos 14 anos Rodrigo “Akillis” já tinha um apelido, disposição e um sonho: viver do e para o Jiu-Jitsu no futuro.
Nossa equipe conversou com o faixa-preta de Alexandre “Gigi” Paiva sobre sua trajetória, e para onde ele ainda quer ir como profissional do Jiu-Jitsu. Confira e boa leitura.
GRACIEMAG: Você ainda lembra de seu primeiro treininho, Rodrigo?
RODRIGO CONCEIÇÃO: Ah, claro. Irmão, minha infância foi muito difícil, eu fui criado pela minha mãe sozinha, e ela foi a primeira pessoa a me ensinar a jamais desistir. Minha avó teve nove filhos, e como minha mãe era a mais velha ela era a líder da família, jogava em todas as posições. Passamos muita dificuldade, ela me teve muito jovem, mas tudo começou a melhorar para mim ali pelos 8 anos, quando ela trabalhou como faxineira na academia De la Riva. Como o mestre gostava muito dela, me deu uma bolsa. E foi paixão à primeira vista, eu logo vi que o Jiu-Jitsu seria o melhor diferencial na minha vida. Pela influência do Tererê, que na época era o ídolo do morro, eu decidi aos 14 anos, já faixa-amarela, ir treinar com o pessoal da Alliance. Graças a Deus, ao meu mestre Alexandre Paiva e aos meus colegas no Jiu-Jitsu minha vida então mudou para sempre.
Você tem um grande sonho no Jiu-Jitsu que ainda não realizou?
O sonho que eu tinha como faixa-preta era poder dar uma vida melhor para a minha família, e sinto que já estou realizando. Vivíamos em circunstâncias complicadas na nossa comunidade, e por meio do Jiu-Jitsu conseguimos perseverar. Não foi fácil, nada é simples como nos filmes, mas chegamos lá. Meu segundo maior sonho é um dia ser campeão mundial na faixa-preta, estou batalhando para concretizar esta meta também.
Se algum jovem leitor nosso for morador do morro do Cantagalo, e estiver passando por uma época difícil, o que você diria a ele?
Eu diria a todos os jovens de comunidades, da minha ou de qualquer lugar do mundo, que uma vida saudável e compensadora é possível sim, através do esporte. É preciso querer superar os obstáculos e evitar com sabedoria o caminho errado, mas eu e tantos outros campeões de Jiu-Jitsu somos exemplos de que é possível tomar a direção certa. É preciso ter um sonho e alimentar esse sonho. Procure um projeto social, um professor que teve uma origem parecida com a sua, e não desvie do caminho. É assim que hoje procuro retribuir, com meu projeto no Cantagalo. É meu jeito de devolver um pouco o que Deus e o Jiu-Jitsu fazem por mim.
Imaginava estar hoje morando com a esposa e ensinando em Doha, capital do Qatar?
Sinceridade? Não, e nem era minha obsessão morar fora do Brasil. Mas fomos abençoados com esse convite, graças a amigos como o professor Elan Santiago, e embarcamos com a família. A vida aqui é muito boa. Ensinar em outro país não é moleza, pela questão da língua e toda a saudade do pessoal, mas é bem possível se adaptar e conhecer novas culturas. Eu curto muito o que estou fazendo, pois é uma honra poder espalhar o Jiu-Jitsu que aprendemos para outros povos. Eu tenho meu filho no Brasil, e tantos familiares, mas encaramos esta missão com a garra de sempre, com muita responsabilidade, fé e cabeça boa.