Reta final dos treinos na Alliance em São Paulo, Brasil. No dojô, Rubens Cobrinha e Lucas Lepri duelavam num treino frenético, dando tudo para chegarem bem no Mundial em Long Beach. Do lado deles, semblante desanimando, Michael Langhi puxava um faixa-azul bem levinho para manter a forma. Era o drama de Langhi, um drama que ficou encoberto pela equipe. Até agora.
Depois do Pan, o ombro de Michael Langhi passou a sair do lugar a toda hora, culpa de uma lesão ocorrida já no fim de novembro. Mesmo assim, todos os seus companheiros continuaram acreditando e incentivando no bicampeonato, enquanto ele mesmo cogitava desistir.
“Eu não tratei o ombro como deveria, não fiz o que deveria, e paguei o preço. Lutei o Europeu com uma infiltração”, conta ele, por telefone, enquanto aguarda no aeroporto de Dallas uma conexão para São Paulo, aonde não vê a hora de chegar para comemorar com a namorada e a família.
“Só Deus sabe o que passei. Fiquei um mês e meio sem treinar Jiu-Jitsu, o programa foi muito fortalecimento do ombro com meu preparador, Edson Ramalho, e muita fisioterapia no ombro. Para me movimentar de kimono e fazer repetições de posições, só com o pessoal faixa-azul. Tenho que agradecer muito ainda ao Bruno Malfacine (campeão mundial no galo), que interrompia os treinos fortes o Mundial para treinar posições comigo”, conta o bicampeão Langhi, que só tem uma explicação para tudo ter dado certo: “Foi Deus mesmo”.
“Para se ter uma ideia, o ombro não doeu em nenhuma das cinco lutas. Sabe quando foi doer? Quando levantei o braço para comemorar. Dá pra acreditar?”.
Dá, claro. Langhi começou a campanha rumo ao bi finalizando as duas primeiras lutas rapidamente. Já no domingo… “Foi aquela dureza que conversei com você antes da viagem, todo mundo se trombando, todos candidatos ao título. Primeiro venci Rafael Formiga por duas vantagens, terminei com o triângulo encaixado. Depois passei pelo Gilbert Durinho, que estava invicto desde a nossa final no Mundial passado, é um monstro. A tática então foi essa, tentar poupar o ombro até a final. E na decisão, dar tudo pelo ouro. Só ia perder ali se me arrancassem o ombro fora”, diz.
Sobre a final, Langhi é só elogios ao oponente, o tricampeão mundial Celsinho Venícius.
“A base dele é muito boa, e minha tática era tentar desequilibrá-lo e conseguir a vantagem. Os árbitros não deram a a vantagem mas o movimento convenceu assim mesmo. O Celsinho dispensa apresentações, não tem o que falar dele. Foi um prazer lutar com ele, e vencendo ainda por cima foi fantástico. Enfim, no fim das contas o Mundial 2010 foi mais uma provação na vida, mais uma lição e que demonstrou a força da mente na hora de competir”, encerra ele, que opera no próximo dia 24.