Na terra onde Renzo e outras feras da família Gracie escolheram para morar, o Jiu-Jitsu não haveria de se esconder dos holofotes. Foi o que o público presente de 13.306 fãs testemunhou na noite desse sábado, durante o ótimo UFC realizado em Nova Jersey.
Para deleite dos entusiastas da arte suave, as finalizações, as transições no solo e as defesas altamente técnicas comeram solto na lona do Octagon – inclusive na luta principal, para azar do valente Lyoto Machida, finalizado pela segunda vez na carreira (a outra foi contra Jon Jones, em 2011).
Para você, amante de Jiu-Jitsu, não deixar passar nenhum detalhe do que ocorreu no UFC em Nova Jersey, listamos as cinco principais lições extraídas das ações de sábado no evento de Dana White. Que ainda por cima teve como um dos árbitros centrais o campeão mundial de Jiu-Jitsu Vitor “Shaolin” Ribeiro, que viu tudo de pertinho.
1. Abrace a perna mas não sangre!
A defesa de katagatame de Jimy Hettes durante arrocho sinistro de Diego Brandão (Hettes segurou a própria perna e virou de lado) já valeu o ingresso, mas o confere entre os pesos-penas não parou por aí. Os dois lutadores alternaram quedas, reposições de guarda, defesas variadas do pescoço e boas pancadas. Até que uma orelha machucada nos fez lembrar a frase manjada nas academias de Jiu-Jitsu: “Se quer nadar com os tubarões, trate de não sangrar”. Um modo cascudo de incentivar os novatos a segurar firme e não abandonar os treinos, se seu desejo é ser daqui a alguns anos um dos “tubarões” da academia. Hettes não teve culpa, mas não adiantou ajoelhar e implorar para o médico: ao deixar sangrar, foi decretada a vitória por interrupção para o brasileiro.
2. Quem disse que o jogo de guarda é defensivo?
Peso-galo invicto com 11 lutas, o “mestre do funk” Aljamain Sterling buscava contra o japonês Mizugaki sua batida perfeita, e conseguiu, no terceiro round. Sterling, faixa-roxa de Matt Serra, usou sua guarda fechada, fugiu o quadril e encaixou um lindo e inapelável triângulo de mão. Técnica das mais simples, mas até japonês bate nesse golpe, acredite. Reveja o lance em nossa conta no Instagram, aqui.
3. Musa de 21 aninhos comprova: levar ao chão também dá dinheiro
Antes do UFC em Nova Jersey, o lutador Diego Brandão soltou uma frase curiosa: “Levar luta para o chão no UFC hoje não dá dinheiro”. (Relembre aqui.) É possível que realmente a arte suave venha sendo cada vez mais desvalorizada pelo público e pelos cartolas, como disse Brandão, mas não foi o que se viu no evento de sábado. A bela Paige VanZant, 21 aninhos, não fugiu do jogo de solo da louríssima Felice Herrig e, durante três assaltos, as duas fizeram uma das mais eletrizantes e comentadas lutas do UFC em Newark. Levar para o chão foi para lá de recompensador para Paige. O importante ao ir ao chão é saber o que fazer por lá, como nos ensinou a bela atleta peso-palha.
https://www.youtube.com/watch?v=z0ZrX0quCWg
4. Jacaré, a transição e o improviso
Muitos treinadores costumam repetir: não improvisem, não tentem golpes que você não treinou, mantenham o plano de jogo traçado antes da luta. Pois o UFC foi obrigado a improvisar. Ao saber no dia 10 de abril que Yoel Romero contundira o menisco, o evento escalou o valente Chris Camozzi, vítima antiga de Ronaldo Jacaré. O remendo ficou evidente quando Jaca atropelou Camozzi novamente. Foi ruim? Não para os fãs do bicampeão mundial de Jiu-Jitsu. Jacaré quedou com facilidade, passou a guarda com os pés apoiando na grade e exibiu uma transição maravilhosa para o braço no momento em que Chris tentava virar de quatro. Luta improvisada ou não, sempre vale a pena ver Jaca em ação, certo?
5. Rockhold x Machida: canse o oponente antes de finalizar
Já com quatro finalizações no card, sem falar do duelo inenarrável no solo entre os craques Beneil Dariush e Jim Miller (por favor, organizadores, Jim no ADCC SP já!), o fã de Jiu-Jitsu não podia querer mais nada. No entanto, chegou a luta final da noite e Luke Rockhold estava impossível: após castigar Lyoto Machida no ground and pound no primeiro assalto, o americano montou novamente no brasileiro no segundo round, até enfiar os ganchos e finalizar pelas costas. Como se fosse simples.
A lição que ficou foi aquela que Kron Gracie nos ensinou em 2014, no artigo de capa da edição #204: finaliza mais facilmente aquele que deixa o rival exausto primeiro. Ou, nas palavras do filho de Rickson: “No começo, o adversário pode resistir e endurecer, mas quando começar a cansar, ou ele vai ficar um passo atrás na luta, ou não vai saber para onde ir, ou vai desistir”.
Por fim, claro que ninguém queria ver Machida batucar. Mas, se era para acontecer, que bom que tenha sido pelas mãos de um faixa-preta de Jiu-Jitsu que sempre gostou de treinar (e competir) de kimono, como Rockhold.
http://www.youtube.com/watch?v=43LC8JD8jkw
UFC: Machida x Rockhold
Prudential Center, Nova Jersey, EUA
18 de abril de 2015
Luke Rockhold finalizou Lyoto Machida no estrangulamento pelas costas aos 2min31s do R2
Ronaldo Jacaré finalizou Chris Camozzi na chave de braço aos 2min33s do R1
Max Holloway venceu Cub Swanson via guilhotina aos 3min58s do R3
Paige VanZant venceu Felice Herrig na decisão unânime dos jurados
Card preliminar
Beneil Dariush venceu Jim Miller na decisão unânime dos jurados
Ovince St. Preux nocauteou Patrick Cummins aos 4min54s do R1
Gian Villante venceu Corey Anderson por nocaute técnico aos 4min18s do R3
Aljamain Sterling finalizou Takeya Mizugaki no triângulo de mão da guarda, aos 2min11s do R3
Tim Means finalizou George Sullivan no katagatame aos 3min41s do R3
Diego Brandão venceu Jimy Hettes por interrupção médica (orelha estourada) ao fim do R1
Chris Dempsey venceu Eddie Gordon via decisão dividida dos jurados