Joia da equipe Gracie Barra Westchase no Texas, a fera Matheus “Mascote” Chedid tem tido uma temporada inesquecível, e sonha em chegar voando na elite do esporte.
Após ser condecorado com a tão sonhada faixa-preta, o craque da equipe liderada por Ulpiano Malachias ensinou macetes para jovens lutadores e falou com o GRACIEMAG.com sobre suas metas para 2024.
GRACIEMAG: Você ainda lembra de seu primeiro treininho?
MATHEUS CHEDID: Tenho muitas lembranças especiais desse dia. Comecei a treinar aos 12 anos, então faz algum tempo, mas me recordo de como foi estranho usar um kimono pela primeira vez. E, ao mesmo tempo, de como eu me apaixonei pelo esporte logo na primeira aula! O meu primeiro sparring era outro aluno completamente desengonçado, mas extremamente divertido. Acho que foi naquele momento que eu me apaixonei pelo esporte. Eu sei que já queria me inscrever na academia na mesma hora.
Como foi seu tempo de faixa-azul, quando muita gente desiste e outros se tornam fenômenos?
Foi ali que comecei a me tornar um atleta e realmente comecei a entender os conceitos do Jiu-Jitsu. Tive ótimas experiências nessa faixa e foi nela em que eu tive meus primeiros campeonatos internacionais. Creio que foi de fato um ponto de virada na minha carreira.
Como foi parar na GB Westchase?
Eu treinei desde o meu começo no Jiu-Jitsu na mesma academia, a Octógono, até a minha faixa-marrom. Meu mestre, Fred Blum, trabalhou durante muitos anos com o Ulpiano na Gracie Barra, e por causa disso eles têm uma amizade de longa data. Certo dia, Ulpiano mandou uma mensagem para o meu mestre perguntando se ele tinha algum atleta que gostaria de uma oportunidade de viver do esporte nos EUA. Meu mestre, mesmo com diversas opções, me escolheu dentre todos os alunos para me dar essa oportunidade, e pude seguir meu sonho e evoluir como pessoa. Eu decidi encarar o desafio de frente e agora estou vivendo algo com que apenas sonhava há alguns anos. Está sendo incrível, e não vou desapontá-los!
Que dica você dá para os novatos aproveitarem ao máximo cada faixa?
Há diversas dificuldades que precisamos superar em cada uma das faixas. Logo, a dica mais importante que posso dar é focar em pequenas evoluções. Todo pequeno detalhe que a gente aprende é um fator importante no desenvolvimento do Jiu-Jitsu, cada pequeno detalhe vai pouco a pouco nos ensinando a entender mais sobre os diferentes aspectos de cada posição. Além disso, aprender novidades toda semana acaba por ser um grande motivador durante toda a nossa jornada no Jiu-Jitsu.
Quais são suas metas para 2024?
Estrear na faixa-preta com grandes exibições. Minha principal meta é competir no Mundial da IBJJF, tanto de kimono quanto sem kimono, e experimentar como é lutar no mais alto nível do esporte, no palco sagrado da Pirâmide. Venho sonhando com esse momento há muito tempo e vou fazer o meu melhor para mostrar o meu Jiu-Jitsu.
O que de melhor você aprendeu com seus mestres?
Meus mestres sempre foram exemplos para mim em tudo, passei toda a minha adolescência dentro do tatame e formei a minha personalidade e princípios baseado nos exemplos deles. Hoje, o Ulpiano me ensina como assumir as responsabilidades da vida adulta e de como olhar para o futuro. Todos eles sempre me ensinaram muito sobre o esporte e sobre a vida. Sobre como ser uma boa pessoa dentro e fora do dojo. Pois, no fim da história, isso é o que importa. Então faço o que posso para criar um legado do qual vou me orgulhar, e isso aprendi com eles.
Que luta foi a mais memorável de sua trajetória até agora?
Não poderia ser outra além da minha primeira superluta nos EUA, em janeiro de 2023. Fui convidado para competir no Elevate Submission Series e estava muito ansioso para a luta naquele dia, pois não era muito habituado com lutas casadas na época. Felizmente consegui focar a minha mente e logo no começo da luta consegui realizar um armlock voador que simplesmente explodiu nas redes sociais. Sem dúvida nenhuma, é a minha finalização favorita dentre todas as minhas competições.
O que aprendeu de mais valioso ao disputar lutas sem pano depois de anos treinando apenas de paletó?
Quando eu cheguei aos EUA tinha pouca experiência e uma deficiência técnica em diversos aspectos do jogo sem kimono. Porém dei a sorte de estar em uma das melhores academias do mundo nesse ramo, e hoje estou dividindo o tatame com diversos competidores de alto nível, como o Pedro Marinho e muitos outros. Venho aprendendo muito e evoluindo o meu jogo graças a ajuda de todos os companheiros de treino. Sem dúvidas o que aprendi de mais valioso é que não existe um motivo para nos limitarmos a uma modalidade específica – Jiu-Jitsu vai ser sempre Jiu-Jitsu, independente de se estar usando kimono ou não, e eles sempre vão se completar e adicionar mais opções para o seu jogo.
Adaptou-se rápido ao estilo de vida nos Estados Unidos?
O processo de mudança para os EUA é bem complicado e vem com diversos pontos positivos e negativos. Hoje sou capaz de focar completamente no meu trabalho como atleta, enquanto no Brasil eu não tinha essa possibilidade e era necessário conciliar a vida de atleta com outro trabalho.
E a saudade?
Pois é, o lutador que vem do Brasil paga o preço de precisar estar longe das pessoas que ama e de viver em uma cultura diferente. Felizmente tenho o Ulpiano e diversos parceiros de treino que sempre são extremamente solidários e isso ameniza o impacto da situação, mas é um sacrifício necessário, estar longe de pessoas tão especiais para mim, como minha esposa e minha família. Porém, eles nunca deixam de me incentivar, mesmo de longe. Prova disso foi durante a minha graduação para faixa-preta, quando meu pai viajou para o Texas apenas para poder estar presente na minha graduação, e isso é o tipo de momento que não tem preço. Tudo o que faço é para deixar as pessoas que amo orgulhosas, e sei que vou deixar um legado positivo. Quando eu olhar para trás um dia, quero saber que fiz o meu melhor. Cada passo da jornada conta.