Dez anos como professor separam o início de Melqui Galvão como formador de atletas até o destaque no cenário do Jiu-Jitsu. Natural de Manaus, o faixa-preta formado por Ronnie Melo seguiu a linhagem Gracie no seu método de ensino, adicionando lições que teve como investigador de polícia. O resultado veio nos tatames, com ascensões meteóricas de nomes como Fabrício Takaka, Diogo Reis e do filhão Mica Galvão, que vem dominando sua categoria nos principais eventos desde os anos de juvenil. Mica, hoje faixa-marrom, promete sacudir o peso pesado como faixa-preta em breve.
Para entender melhor a fórmula de sucesso de Melqui, conversamos com a fera sobre sua abordagem mental e física nos treinamentos, e sobre os desafios constantes que impõe aos alunos. O professor, claro, não esqueceu de contar sobre a garagem em Manaus que abrigou, nos primeiros anos, o seu peculiar “laboratório” esportivo de Jiu-Jitsu. Confira, nas linhas a seguir.
GRACIEMAG: De onde você crê que surgiu essa vocação de formar campeões? É alguma coisa na água de Manaus?
MELQUI GALVÃO: Olha, creio que as coisas aconteceram meio por acaso. Sou investigador de polícia, e a própria polícia civil me destacou como professor de um projeto social de Jiu-Jitsu. Comecei a dar aulas em 2011. Já em 2013, reparei que tinha afinidade com o ensino, que poderia ajudar alguns garotos da cidade – e não só ajudar a distrair a mente deles mas talvez até fornecer uma profissão a eles no futuro. Comecei a estudar e me empenhar para trabalhar da melhor forma possível e levar meus atletas aos pontos mais altos da arte suave, e as competições foram importantes nesse trabalho.
Que pilares do Jiu-Jitsu você costumava ensinar na polícia?
Disciplina, superação, calma e paciência. É o que o Jiu-Jitsu nos ensina. No dia a dia, em situações de risco, é preciso saber respirar e procurar uma saída. Esses são os melhores ensinamentos que se pode levar para a vida profissional. O trabalho policial traz altas cargas de estresse e, se não houver controle emocional, acidentes podem acontecer. No meio dos policiais e no grupo de operações especiais, vi que as pessoas que se destacavam não eram aquelas que tinham o melhor porte físico, e sim as que possuíam a melhor mentalidade. Vi muitos casos assim em cursos, nos quais os caras são levados ao extremo do sacrifício. Um cara por vezes está bem condicionado fisicamente, mas não aguenta tanto quanto outro que não tem o mesmo porte, mas é muito forte e bem treinado mentalmente. Trabalho muito essa parte mental com os meus atletas e vejo isso como um diferencial.
Como você vê a mudança de atletas, que migram para outras academias em busca de mais profissionalismo?
É uma coisa cada vez mais comum, as pessoas querem ter resultados, condições de tocar uma carreira sólida. Depende muito do ambiente. Comecei a ensinar numa academia muito pequena, na garagem de uma vizinha, mas todos tinham o mesmo objetivo. Eu queria fazer meus alunos campeões, eles queriam se tornar atletas profissionais, viver do esporte, e nós conseguimos bastante coisa, mesmo partindo do nada. Agora, se você vai a uma escola em que as pessoas não têm essa mentalidade, independentemente de ser grande ou pequena, não acredito que aquele ambiente seja capaz de instigar o aluno a ser um atleta de sucesso, que vence campeonatos de grande importância. É uma atitude normal, portanto, você troca o que está insuficiente. Mas também não deve ser uma desculpa. Devemos fazer nossa parte e se, apesar disso, não estiver sendo suficiente, podemos pensar em migrar para outra equipe para buscar melhorar, sim.