Toronto, sede do UFC 129, garantiu recentemente um honesto 26º lugar num ranking das cidades mais violentas. Do Canadá. Ou seja, deve apresentar índices que deixam o povo de Zurique parecendo um bando de bárbaros. Ainda assim, os canadenses estão uma pilha de nervos por esses dias.
Na quinta-feira, um pessoal andou se esfaqueando num bar aqui perto. O noticiário tem sempre novos detalhes sobre a estudante chinesa morta enquanto falava na webcam (o crime foi filmado e o acusado é um local bem-apessoado, pacato, de boa família, jamais poderia imaginar, dizem os vizinhos). E no aeroporto, o oficial bonachão da alfândega, que diz ensinar judô, de repente se exaltou e ameaçou algemar um rapaz que tocou no passaporte enquanto ele o analisava. Mestre Jigoro Kano não aprovaria nem um pouco sua reação, mister. Deve ser tudo culpa do frio, que pediu late check-out e invadiu a primavera. Vai passar.
Os jornais de Toronto trazem todos os dias na capa fotos de caras se embolando, clinchando, e se socando na arena. Nada do UFC, é o hóquei no gelo que está pegando fogo nos playoffs. MMA, por enquanto, só mesmo nas mídias alternativas, em doses cavalares: rádios, em centenas de postes no centro e nas camisetas dos transeuntes – homens e garotas.
Para não dizer que os jornais estão mudos, o diário “The Globe and Mail” fez uma notinha simpática sobre Mark Hominick, noticiando que o desafiante ao título dos penas conseguiu um patrocínio de um time de futebol, o Hamilton Tiger-Cats – maior rival do Toronto Argonauts. Se ele receber vaias ao entrar, você já sabe o motivo.
Após algum custo, eis que encontro a primeira foto de Georges St-Pierre numa capa. Uma GRACIEMAG do mês passado? Uma outra revista esportiva de menor status? Não exatamente, foi numa publicação gratuita para apreciadores da loja “The Beer Store”, ou seja, profundos estudiosos do MMA.
Na matéria, Dana White faz conta. Pudera, foram 55 mil ingressos vendidos para o UFC do próximo sábado – 42 mil esgotados com uma hora de venda. Uma bilheteria de aproximadamente 11 milhões de dólares. O presidente do UFC, que tem em mãos estudos comprovando ser Toronto seu mercado mais rentável no planeta, não está de bobeira.
“Estou aqui com 55 mil bilhetes vendidos, e não consigo parar de pensar: quantas pessoas ainda estão atrás de ingressos?”, soltou White na reportagem. “O Canadá é demais, e vocês sabem que não puxo o saco de ninguém. Se eu pudesse, realizaria um evento aqui todo fim de semana”. O difícil seria realizar um evento com um programa parecido. No evento principal, St-Pierre contra um rival à altura, Jake Shields. O atropelador José Aldo contra um canadense duro. E Randy Couture, pensando em se aposentar, e escalado contra a fera Lyoto Machida. Não teria ingresso que chegasse.
O artigo escrito por Mark Keast lembra outros números curiosos, como os três (!) jornalistas que cobriram a primeira coletiva em Toronto sobre o Ultimate, há coisa de cinco anos. Jogados num bar, GSP e Hominick papearam com cerca de 50 fãs. Hoje, cada evento do UFC conta com pelo menos 200 jornalistas, e há os incontáveis fãs que povoam a mente de White.
Um evento desse porte e os jornais daqui ainda insistem em reportagens irrelevantes, como as eleições nacionais (no dia 2) e o casamento real inglês que, segundo os súditos da Rainha deste lado do oceano, vai acarretar um prejuízo de 6 bilhões de dólares na Inglaterra, graças ao feriado forçado.
Deve ser mau-humor por causa do frio. Vai passar.
UFC 129
Rogers Centre, Toronto, Canadá
Sábado, 30 de abril de 2011
Georges St-Pierre x Jake Shields
José Aldo x Mark Hominick
Vladimir Matyushenko x Jason Brilz
Lyoto Machida x Randy Couture
Mark Bocek x Ben Henderson
Card preliminar na Spike TV
Nate Diaz x Rory MacDonald
Sean Pierson x Brian Foster
Card preliminar (um Canadá x EUA informal)
Yves Jabouin x Pablo Garza
Claude Patrick x Daniel Roberts
Ivan Menjivar x Charlie Valencia
Jason MacDonald x Ryan Jensen
John Makdessi x Kyle Watson