Fera nas cozinhas e nos tatames, Anthony Bourdain nos deixou aos 61 anos, em junho de 2018. Conhecido por suas peripécias na cozinha e por ser um fominha de treinos de Jiu-Jitsu, Anthony foi personagem nas nossas páginas, na edição número #228 de GRACIEMAG.
Conversamos com Bourdain sobre as mudança que o Jiu-Jitsu proporcionou na sua vida, as dificuldades e recompensa de evoluir no Jiu-Jitsu e o prazer de se tornar melhor no dojô.
Confira nas linhas abaixo e guarde esta boa memória do chef americano que se encantou com a nossa arte suave. E para ler mais conteúdos de qualidade como este, assine a GRACIEMAG.
O glutão e o Jiu-Jitsu
Mestre-cuca consagrado após o polêmico livro “Cozinha confidencial – Uma aventura nas entranhas da culinária”, o americano Anthony Bourdain, 59 anos, tem hoje um aliado e tanto para aguentar a maratona de viagens e comidas exóticas que fazem parte do seu estilo de vida como apresentador de TV. O astro da premiada série da CNN “Parts Unknown”, após saborear a feijoada brasileira, a caipirinha e os galetinhos cariocas, agora caiu de amores pelo Jiu-Jitsu brasileiro. Que ele treina perto de casa, com Igor Gracie.
Ex-fumante, Bourdain começou a mudar de vida quando casou com Ottavia Bourdain, que já não era nenhuma mocinha quando caiu de amores pelo treininho de kimono. Começou a desafiar o marido a dar um treino que fosse, e rapidamente o chef caiu de amores por aquela arte apimentada, mas cheia de prazeres. O repórter Ivan Trindade conversou com o faixa-azul de Igor Gracie sobre as durezas e os aprendizados nos tatames.
GRACIEMAG: Como foi o início desse relacionamento com o Jiu-Jitsu?
ANTHONY BOURDAIN: Minha esposa Ottavia estava treinando muay thai e MMA, com foco mais na parte em pé. Ela então migrou para a academia de Renzo Gracie para estudar mais o jogo de solo. Naquele tempo, quando escutei falar em “grappling”, aquilo me pareceu a última coisa que eu gostaria de fazer na vida. Até que Ottavia me escalou para um desafio, uma piada para a TV. Seria uma aula particular com o professor Igor Gracie, para um quadro cômico num programa de TV. Ela deveria convocar as pessoas menos atléticas que conhecia para experimentar o Jiu-Jitsu. Como eu nunca havia entrado numa academia antes na vida, eu fumava e estava obeso, ela achou, não sei por quê, que eu era a pessoa certa. Fiquei agradavelmente surpreso por ter sobrevivido ao treino. E mais surpreso ainda porque eu gostei daquele tal de Jiu-Jitsu!
O que foi mais duro no seu início de jornada?
A pior parte foi sobreviver ao aquecimento nas primeiras aulas. Eu queria treinar com qualquer pessoa, como qualquer pessoa. Então, melhorar meu gás e minha resistência foi um belo desafio. Em seis meses, porém, eu consegui desenvolver a parte cardiorrespiratória, com paciência. Outra parte complicada foi ter de aturar a garotada de 22 anos, rapazes com nível de wrestling universitário excelente, jogando o peso no meu peito no cem-quilos. Foi dureza. Passei um bom ano tomando amasso diariamente de caras mais jovens, mais rápidos, mais magros e mais técnicos.
Como o Jiu-Jitsu alterou seu estilo de vida?
Perdi 16 quilos com o Jiu-Jitsu. Enquanto eu enfrentava aquela garotada, eu perdia 16 quilos. Hoje não tomo mais remédio para baixar o colesterol ruim, e estou na melhor forma de toda a minha vida. Treino todo dia, não importa em que cidade do planeta eu esteja. O Jiu-Jitsu passou a ser um item central na minha rotina. Escolho locações para o meu programa preferencialmente perto de uma boa academia de Jiu-Jitsu. Obviamente, precisei dar uma mudada no meu ritmo de bebedeiras e comilanças, em especial longe das câmeras.
O que a faixa-azul, recebida em 2015, significou? E aonde você quer chegar?
Merecer minha faixa-azul foi a tarefa mais difícil que já executei na vida, de longe. Me exigiu um esforço árduo e consistente como eu nunca havia feito na vida. Mas foi apenas um início. Fiquei extremamente feliz ao ser graduado faixa-azul, em especial por ter sido pelas mãos do Igor. Que, além de não dar faixas facilmente, é filho do grande mito Rolls Gracie. Isso me dá uma responsabilidade ainda maior, sinto a necessidade de ser um bom faixa-azul.
Já sonha com a faixa-preta?
Não, minha meta ainda não é a faixa-preta. Minha meta é continuar aprendendo, continuar treinando e ser menos ruim a cada dia.