O que aprendemos com os campeões absolutos da IBJJF

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Ronaldo Jacaré resiste ao golpe de Roger, no épico Mundial 2004. Foto: Gustavo Aragão

Torneio criado em 1996 pela Federação de Jiu-Jitsu, o Campeonato Mundial da modalidade consagrou um seleto grupo de faixas-pretas que, após muito suor derramado no kimono e nos tatames, gravaram seu nome na história ao vencer a categoria absoluto, que permite atletas de todos os pesos.

Em razão da pandemia do coronavírus, a edição 2020 do Mundial da IBJJF, inicialmente agendado para o fim do mês de maio, não foi realizada. Portanto, a lista de campeões absolutos da competição conta com 14 craques que contemplam a seleta lista.

Confira os lutadores que mais venceram o absoluto faixa-preta do Mundial da IBJJF, pela ordem (de títulos primeiramente, e por ano em caso de igualdade). E nos diga nos comentários: quem será o próximo rei absoluto do Jiu-Jitsu?

1. Marcus Vinicius “Buchecha” de Almeida (2012/13/14/16/17/19)

O aluno de Rodrigo Cavaca, nascido em São Vicente, São Paulo, demorou a se decidir entre o surfe e o Jiu-Jitsu, mas sua opção se mostrou acertada. Promissor desde os 19 anos, Marcus Vinicius Buchecha tornou-se o primeiro faixa-preta a vencer três vezes o absoluto consecutivamente, tornando-se hexacampeão mundial absoluto em 2019. Peso pesadíssimo com agilidade de um atleta leve, Buchecha fez de sua meia-guarda uma arapuca, capaz de frear os melhores lutadores de sua geração. A partir de um jogo completo, que alia força, explosão, técnica e muita raça, Buchecha passou a não temer nenhuma técnica dos adversários, em pé ou no chão. Adepto de posições tradicionais aliadas a berimbolos modernos, Buchecha confunde qualquer oponente.

2. Roger Gracie (2007/09/10)

Professor carioca radicado em Londres, o esguio faixa-preta de Carlos Gracie Junior fez fama como o lutador mais eficiente do esporte – no Mundial 2009, por exemplo, o “Cobertor Gracie” asfixiou todos os seus oponentes no torneio. Primeiro tri mundial absoluto, Roger ficou famoso por seu jogo clássico, quase perfeito na defesa e mortal no ataque – seu estilo: cair por cima, passar a guarda e montar. Depois de vencer também o absoluto do ADCC, Roger decidiu se desafiar e migrou para o MMA, chegando até o UFC e mais tarde garantindo o cinturão do One Championship. Roger se aposentou em 2017, após estrangular o campeão Marcus Buchecha no Gracie Pro, em luta casada.

3. Alexandre “Xande” Ribeiro (2006/08)

Irmão mais novo do craque Saulo Ribeiro, Xande desceu de Manaus, a capital do Amazonas, disposto a igualar os títulos do irmão. E o superou, em quantidade de ouros em Mundiais. Com uma guarda quase impassável, Xande trouxe para o tabuleiro do Jiu-Jitsu um componente tático capaz de surpreender sempre – inclusive o velho rival Roger Gracie, derrotado por ele nas finais de 2006 (Rio de Janeiro) e 2008 (Califórnia).

4. Amaury Bitetti (1996/97)

Filho de lutador e formado no famigerado time de competição de Carlson Gracie, o passador de guarda Bitetti conquistou os principais títulos da arte suave em seu tempo, em duelos marcantes com seu arquirrival, Fabio Gurgel. Duro em pé e muito tático – chegou a não lutar a divisão de peso para garantir o absoluto –, o atleta da zona sul do Rio de Janeiro era um dos grandes expoentes do Jiu-Jitsu nos anos 1990, tendo atuado também em lutas de vale-tudo e no UFC.

5. Marcio “Pé de Pano” Cruz (2002/03)

Orgulho da favela de Mata Machado, o guardeiro Marcio Pé de Pano aterrorizou seus contemporâneos com um jogo de pernas que alternava raspagens, triângulos e outras armas que compunham o arsenal do peso pesadíssimo de língua afiada. Pé de Pano aliava um jogo finalizador com divertidas provocações aos rivais, como o amigo Fernando Tererê, e ajudou a atrair popularidade ao Jiu-Jitsu. Como outros craques que reinaram no absoluto, Marcio também lutou no UFC.

6. Rodrigo “Comprido” Medeiros (1999/2000)

Campeão completo desde as faixas coloridas, o lutador carioca formado por Romero “Jacaré” Cavalcanti ficou conhecido por apagar o brilho de outras estrelas do Jiu-Jitsu na virada do século, quando domou o ímpeto de craques como Fernando Margarida, Roberto Roleta e Nino Schembri, e se sagrou bi absoluto.

7. Ronaldo “Jacaré” Souza (2004/05)

Capixaba de Cariacica “exilado” em Manaus após uma infância cercada por amigos barra-pesada, Ronaldo Jacaré teve trajetória fulminante no Jiu-Jitsu, atraindo olhares de toda a comunidade desde a faixa-roxa. Seu jogo, de derrubar, cair no cem-quilos e finalizar quem passava pela frente, chegou ao ápice nos combates épicos contra Roger Gracie, em 2002 (ainda na faixa-marrom), 2004 e 2005. A final do absoluto com Roger em 2004, em que Jacaré resistiu a um armlock e venceu a luta com o braço esquerdo deslocado, é considerada por muitos a melhor luta do Mundial de Jiu-Jitsu de todos os tempos.

8. José Mario Sperry (1998)

Economista de formação e piloto amador, o hoje empresário Zé Mario Sperry consagrou-se no absoluto em 1998, após uma guerra épica com Roberto Roleta. Forte em pé e um trator ao passar a guarda no chão, Sperry provou ser uma das garras mais afiadas do time Carlson Gracie naquele ano – seu rival, Roleta, teve parte do kimono rasgado tamanha a força da pegada poderosa de Zé Mario. Sperry ganharia ainda mais fama mundialmente nos torneios sem kimono em Abu Dhabi e no Pride japonês.

9. Fernando “Margarida” Pontes (2001)

Faixa-preta paulista dono de um jogo imprevisível e ofensivo, Fernando Margarida ficou famoso no Jiu-Jitsu por finalizar e furar as maiores defesas do esporte. Jovem e dono de uma guarda habilidosa e passagens criativas, conquistou seu maior título da carreira, no absoluto em 2001, ao superar na final o altamente técnico Saulo Ribeiro. O lutador paulista foi o primeiro a vencer o peso (meio-pesado) e o absoluto faixa-preta no mesmo Mundial.

10. Rodolfo Vieira (2011)

Garoto prodígio da GFTeam no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, o jovem “rolo compressor” formado pelo professor Julio Cesar Pereira elevou a arte de amassar a um novo nível. Com braços de troncos e uma base em pé forte capaz de ludibriar as raspagens quase inevitáveis do rival Bê Faria, Rodolfo finalizou meio mundo na década de 2010. Conquistou o sonhado absoluto em 2011, em grande estilo, após final contra Bernardo. Hoje o craque do Jiu-Jitsu segue carreira firme no UFC, usando seu Jiu-Jitsu no MMA. 

11. Bernardo Faria (2015)

Passador de guarda temido e dono de uma das meia-guardas mais complicadas do Jiu-Jitsu, o mineiro de Juiz de Fora é famoso por apostar sempre no mesmo jogo – dando muita pressão nos rivais. O faixa-preta formado pela BTT de Juiz de Fora e adotado pela Alliance consagrou-se no absoluto em 2015, numa campanha quase perfeita em que obrigou o craque Leandro Lo a batucar, num armlock inescapável.

12. Leandro Lo (2018)

Campeão mundial nos pesos leve, médio e meio-pesado, o octacampeão mundial Leandro Lo é unanimidade. Com seu jogo solto e imprevisível, com habilidades fora da curva tanto passando quanto na guarda, Leandro é favorito em qualquer torneio que participa, independente do peso ou adversário. Único título que faltava na sua carreira, o absoluto parecia inalcançável. A subida de categorias foi influenciada pelo sonho do título no aberto, o que fez Leandro atuar como super pesado em 2018. Na final do peso, porém, encarou Mahamed Aly e lesionou o ombro após uma queda assustadora. Sem o título no peso, Leandro rumou à final do absoluto, com vaga garantida mais cedo no mesmo dia, para encarar Marcus Buchecha. Machucado, Leandro não tinha condições de lutar e Buchecha ficaria com mais um título. Antes de pisar no tatame, porém, Buchecha combinou com o árbitro Rodrigo Totti: “Levanta a mão dele”. O resto é história. Leandro nos deixou de forma brutal na madrugada do dia 7 de agosto de 2022. O faixa-preta foi assassinado após ser baleado na cabeça por um policial militar durante uma festa, no Clube Sírio, em São Paulo.

13. Fellipe Andrew (2021)

Atleta da Alliance formado pelo professor Rodrigo Cavaca, líder da Zenith, Fellipe Andrew foi pego de surpresa com a decisão da IBJJF de consagrá-lo campeão absoluto do Mundial 2021, após Felipe Preguiça, campeão do torneio, falhar no exame antidoping. Como o finalista Nicholas Meregali fora desclassificado por apontar o dedo médio em direção à torcida adversária após a semifinal, Andrew, terceiro colocado, foi legitimado campeão. 

14. Nicholas Meregali (2022)

Nicholas Meregali conquistou seu primeiro título absoluto na faixa-preta com méritos de sobra. Num fim de semana quase perfeito, o guardeiro finalizou as três lutas que disputou no aberto para chegar à final. Após despachar Seif-Eddine e Wallace Costa, com ezequiéis bem tramados na guarda aberta, o astro finalizou Fellipe Andrew no armlock para confirmar a vaga na finalíssima. Momentos antes de disputar a decisão do aberto, Meregali foi derrotado por 6 a 4 por Erich Munis na final do superpesado. No entanto, o desfecho no absoluto foi outro. Em duelo acirrado, Nicholas derrotou Erich por uma vantagem, após o empate por 0 a 0 nos pontos, e assumiu o trono da modalidade. Nicholas Meregali se tornou apenas o segundo gaúcho a realizar a façanha. Antes dele, apenas o lendário José Mário Sperry, em 1998, alcançara o feito.

15. Victor Hugo (2023)

O astro cearense Victor Hugo Costa foi o grande nome do Campeonato Mundial 2023. O pupilo de Xande Ribeiro assumiu o trono deixado por Nicholas Meregali e foi coroado na Pirâmide de Long Beach, na Califórnia. Victor Hugo finalizou Erich Munis com um plástico leglock na final do aberto e conquistou o título mais almejado da modalidade. Com a vitória sobre Erich, o cearense conseguiu um feito raro que nem mesmo Xande alcançou em seus tempos áureos. Victor Hugo se tornou apenas o terceiro lutador a vencer por finalização na final do absoluto. Antes, apenas Roger Gracie e Rodrigo Comprido tinham liquidado a fatura na grande decisão do aberto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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