A aclimatação de Diego Trindade, de volta ao Brasil após uma aventura pela China, segue de vento em popa. O competidor de Jiu-Jitsu sem kimono anda treinando forte em Brasília, e já mira duas competições grandes em setembro, o Manaus Open e o Sul-Brasileiro no Rio de Janeiro.
Diego ajudou a popularizar o Jiu-Jitsu na China, país com 1,4 bilhão de pessoas que ainda é um mercado e tanto para o crescimento da arte suave. O país teve algumas escolas com trabalhos consistentes, como a China Top Team do professor Ruy Menezes, desde 2003, e a GB em Xiamen.
Diego, professor na Excellence School of BJJ, contou o que aprendeu após cinco anos no país da Grande Muralha. Confira!
GRACIEMAG: O que fez você decidir encarar essa epopeia, e desbravar os tatames chineses?
DIEGO TRINDADE: Eu já tinha lutado alguns campeonatos no exterior e decidi que eu queria ter a experiência de morar fora do Brasil por um tempo. Sempre fui uma pessoa de grandes amizades e boa rede de contatos profissionais. Comecei as conversas e logo um amigo intermediou uma proposta de trabalho na China. Era um país de fato desafiador, mas nunca tive medo de desafios.
Quais foram os maiores desafios por lá?
Olha, nem sempre foi fácil. Com perseverança e dedicação consegui conquistar meu espaço na China. Primeiro precisei ganhar reconhecimento como professor, e depois como atleta. Mas houve uma série de aspectos positivos. Estar na China me permitiu viajar e lutar competições por toda a Ásia, como no ADCC Tailândia, o ADCC Singapura, o ADCC Coreia do Sul, ADCC Filipinas, ADCC Malásia e o Asian Open no Japão, entre outros. A experiência na China foi, assim, fundamental para o meu crescimento como pessoa, como professor e como atleta.
Poderia contar um pouco sobre esse crescimento pessoal?
Eu fui à China sem saber mandarim, por exemplo. Ao longo dos últimos anos, dei aulas para alunos chineses e também para praticantes de diversas nacionalidades. A China é assim, atrai gente de todo o globo. Com isso, aprendi que a linguagem corporal do Jiu-Jitsu brasileiro é universal. Em algumas regiões do interior da China, o Jiu-Jitsu ainda é uma arte muito nova. Para mim, foi desafiador e gratificante poder difundir o Jiu-Jitsu brasileiro em várias comunidades do outro lado do mundo. E pude verificar que, do outro lado do mundo, o grappling e o Jiu-Jitsu sem kimono estão de fato se desenvolvendo muito rapidamente. Isso me fez aprender também, e evoluir bastante nessa linha do esporte.
Quais são os seus planos para o seu time no Brasil?
Minha raiz é o Jiu-Jitsu com kimono, não tem jeito. Mas essa bagagem de no-gi que adquiri enquanto estive fora do Brasil me fez evoluir com atleta, professor e treinador. Nesse retorno ao Brasil, pretendo continuar concentrado no Jiu-Jitsu sem pano, pois acredito que este é o momento de um grande salto de crescimento na modalidade, aqui e lá fora. Serão ainda muitos eventos divulgando a modalidade, pagando bem aos jovens e mudando o cenário esportivo brasileiro também.
Brasil e China têm relações diplomáticas somente há 50 anos, e tudo por lá ainda parece ser um mistério para nós. O que aprendeu sobre o país, e sobre o Brasil?
A China é um país que investe e valoriza o esporte em geral. Com o Jiu-Jitsu não é diferente. Desde criança, atletas que se destacam recebem incentivo governamental, inclusive em dinheiro, para se dedicar aos treinamentos e à vida de atleta. Além disso, a China tem diversas academias com excelente estrutura, e cada vez mais atletas chineses vêm se destacando no esporte. Já existem alguns lutadores chineses no UFC, por exemplo. Com isso, mais e mais chineses vem se interessando pelo Jiu-Jitsu brasileiro. Enquanto estive na China, tive a oportunidade de treinar alguns atletas chineses com grande potencial. Mas o Jiu-Jitsu brasileiro ainda tem muito espaço para crescer na China.
E nos países vizinhos, o que você pôde conferir?
Nos outros países asiáticos o Jiu-Jitsu sem kimono e o MMA também só fazem crescer. A Tailândia possui centros de treinamentos de alto rendimento que atraem atletas do mundo inteiro, até pela sua tradição no muay thai. E belos países como Singapura, Malásia, Filipinas e outros estão em processo de evolução, com bastante espaço para novos instrutores.
O que você ainda lembra quando pensa em seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu?
Minha primeira vez nos tatames foi quando dois amigos me convidaram para conhecer a arte suave. Vi ali que de suave aqueles treinos não tinham nada, já que fui finalizado milhões e milhões de vezes e não entendi nada. De todo modo, aquilo me desafiou e me atraiu. Desde então, nunca mais parei. Sou a prova viva de que o faixa-preta é o faixa-branca perdidinho que nunca desistiu.
Do que mais se orgulha em sua trajetória no esporte?
Da minha persistência. Ao longo da minha trajetória no Jiu-Jitsu, eu conheci muita gente. A maioria ficou pelo caminho. Muitos se apaixonavam pela arte suave assim como eu, mas depois de um tempo desistiam, iam fazer outra coisa. Outros, por algum motivo da vida, não tiveram condições de continuar. Minha faixa-preta é um troféu que me fez ganhar o mundo e me deu condições de viver do esporte. Nunca foi fácil, mas eu sempre persisti, pois foi esta a escolha que fiz para minha vida lá atrás.
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