Após uns dias no Brasil, o professor Suyan Queiroz atendeu o telefone da reportagem de GRACIEMAG já no aeroporto de Orlando, nos EUA. “Estou indo lutar o Mundial Master e volto para o Brasil, passo as festas de fim de ano e depois volto aos Estados Unidos. Não é fácil, tem que gostar muito, meu irmão”.
Faixa-preta quinto grau, Suyan sempre gostou muito. E teve a carreira no Jiu-Jitsu sempre marcada pelas competições. Foi após o Mundial de 1998, por exemplo, ao conquistar sua medalha mais valiosa, que o aluno da academia Carlson Gracie conquistou a faixa mais escura, após faturar o ouro na marrom, peso leve.
Competidor desde os 11 anos, Suyan jamais perdeu o apetite pelos torneios e os grandes eventos da IBJJF, e segue influenciando positivamente seus jovens alunos – e até sua prole. Enquanto isso, vai acumulando uma coleção impressionante de medalhas de ouro na divisão master, não apenas nos EUA onde reside mas em outros países.
O professor GMI radicado em Utah, onde comanda a First BJJ, explicou sua receita e destrinchou lições e reflexões para quem curte competir.
GRACIEMAG: Você completou 35 anos de Jiu-Jitsu, professor. Ainda lembra do primeiro torneio?
SUYAN QUEIROZ: E quem esquece? A minha primeira competição foi um evento interno na academia, quando eu era um faixa-branca muito novo, de 11 anos apenas. Hoje estou com 46. De lá para cá muita água rolou, mas quando olho para trás e vejo todo o sacrifício que fiz para chegar até aqui, quando lembro que graças ao Jiu-Jitsu eu consigo oferecer do que há de melhor para a minha família… Isso renova a chama, sabe? E assim me sinto na obrigação de nunca parar de treinar forte, de não parar jamais de competir. Afinal, foi isso o que me trouxe aonde estou.
No seu caso há uma motivação extra, certo? Lapidar e manter o filhão, Matheus, pronto para os torneios na faixa-marrom…
Exato, um dos motivos que me leva a continuar competindo é o meu filho, que está com 21 anos. Quero passar para ele a grande lição, de não há como você conquistar nada na sua vida sem pagar o preço. No caso do Jiu-Jitsu, o preço é o dia a dia no tatame, sempre aperfeiçoando a técnica um pouco mais. É preciso abrir mão muitas vezes de se divertir com amigos para estar ali no treino. Quem entende que aquele sacrifício é por um objetivo maior será um campeão. Agora, mesmo se o título ou a medalha não vier, há uma certeza que carrego comigo: todo sacrifício é válido, e traz um aprendizado maior que a gente só entende se lutar por ele. Eu também disputo campeonatos em prol desse aprendizado, que não é apenas técnico. É algo gigante.
O que você sente ao competir? Ainda bate a adrenalina?
Sim, a adrenalina é infinita. Lembra muito a do primeiro torneio. A diferença é que o atleta experiente consegue canalizar a vontade para obter a vitória. O que mais sinto no entanto é um grande prazer. Mesmo nos treinos diários, meu coração fica cheio de vontade, de dedicação e amor por estar no tatame todos os dias melhorando, afinal é assim que eu ajudo meus alunos a melhorarem também – em todos os aspectos, não apenas como praticantes mas como pessoas, seres humanos. Já ao pisar no tatame nos torneios, sinto que experimento uma renovação da minha juventude. A cada competição, vejo que consigo mostrar as pessoas ao redor que ao me manter ativo como atleta, levo uma felicidade interior que no fim do dia contagia a todos.
Qual é a grande lição para competidores que sempre funciona? A orientação do córner que até hoje mexe com você?
“Mantenha o foco, calma. Impõe seu jogo!”. Vale para qualquer atleta faixa-branca e ajuda os campeões mais cascudos. No fim a vontade de vencer está dentro do lutador, não tem jeito.
Qual é a sua receita para driblar as dores e contusões?
Creio que a experiência te dá o caminho. É preciso ser inteligente com seus treinos, entender que treinamento é para aperfeiçoar sua técnica e resistência, mas nem sempre você deve usar 100% da sua força física. Usar a força somente na hora da luta. Se você treina todo dia igual luta de campeonato você provavelmente terá muitas lesões durante a carreira, e isso o fará aposentar bem mais cedo do que deseja. Pegue leve, mantenha a constância.
Como você avalia os erros e acertos do passado? Alguma frustração ou derrota nos tempos de adulto pode ter alimentado ainda mais essa chama de competir?
Minha medalha especial, o título mais valioso foi no Mundial da IBJJF de 1998, como faixa-marrom. Mas minha maior frustração veio no ano seguinte: bronze no Mundial 1999, já como faixa-preta. Eu estava muito bem naquele ano, mas deixei o resultado na mão do árbitro e não pude seguir em frente no meu sonho de ser campeão mundial na faixa-preta. Ficou a lição.
Quando o imparável Suyan vai deixar de competir?
Enquanto meu senhor Deus continuar me dando saúde, eu não paro. Esse processo árduo, que é o treinamento com dieta, com viagem, concentração, competição e resultado positivo ou negativo, é duro mas viciante. Enquanto Deus permitir, estarei lutando para deixar um legado positivo para todos à minha volta.