Aos 28 anos, Bernardo Faria chegou enfim ao topo da cadeia alimentar do Jiu-Jitsu, ao conquistar o ouro duplo na faixa-preta, no superpesado e absoluto, no último Mundial de Jiu-Jitsu. Para realizar tal feito, o astro da Alliance fez seis lutas no total, e aprendeu muito com elas.
Na final do peso, por exemplo, deu aula de resistência contra João Gabriel Rocha (Soul Fighters), ao suportar sem mudar a face uma chave de pé arrochadíssima, na vitória por 8 a 2. No absoluto, Bê provou que o trabalho duro pode anular qualquer um, como ele demonstrou ao finalizar o perigoso Leandro Lo (Cícero Costha), na semifinal, com um armlock. Na final, infelizmente o adversário, Alex Trans, não conseguiu lutar, por conta de uma lesão no joelho.
O que ele aprendeu com tudo isso? GRACIEMAG foi descobrir, em papo direto de Nova York, onde o mineirinho reside e treina.
GRACIEMAG: Qual foi a sua luta mais complicada nesse Mundial de Jiu-Jitsu? O que você aprendeu com ela?
BERNARDO FARIA: Bom, fiz seis lutas no Mundial – no absoluto, precisei vencer caras como Roberto Tussa, Erberth e Leandro Lo; no peso, passei por caras como Pedro Moura, Igor Silva e João Gabriel. Finalizei cinco delas, só não finalizei a final da categoria, que ganhei de 8 a 2. Acredito então que a mais complicada tenha sido a final da categoria, sim, contra o João. Foi uma luta em que havia bastante pressão em cima de mim, pois eu sabia que se perdesse isso poderia manchar toda a excelente campanha que fiz este ano. Seria muito frustrante vencer peso e absoluto no Pan, o absoluto do Mundial e perder logo na última luta. Acima de tudo, sabia que eu lutava contra um grande campeão que é o João Gabriel. Não sei se todos sabem, mas no ano passado ele venceu um adversário muito mais forte do que eu, Buchecha e Rodolfo juntos, o câncer. Então é fácil imaginar o quanto que ele é duro e determinado. O João venceu o câncer em 2014 e estava na final do Mundial no outro ano. O cara é um grande lutador mesmo, tenho muito respeito por ele.
Ele arrochou uma chave de pé sinistra, mas você nem piscou. Qual é a lição para não sentir o pé?
Tenho uma boa resistência no pé. Não gosto de falar que não bato no pé, porque estaria mentindo. Chega a um ponto que todo mundo bate, porque senão pode acontecer o que houve com o Luiz Panza no WPJJC, tem um ponto que pode quebrar a canela. Eu bato sim no pé, mas não é comum. A posição tem de estar mil por cento encaixada e ajustada. Então, ali na final o João fez certinho, mas senti que dava para resistir e foi o que fiz. Senti que, apesar de estar pegando, não estava naquele ponto de que ia quebrar.
No absoluto, você fez uma luta fenomenal contra o Leandro Lo. Qual é o seu segredo para amansar o Lo, um feito que poucos conseguiram?
Eu o conheço muito bem e sei as principais qualidades dele, que são o gás e o ritmo que ele impõe. Acredito que umas das minhas melhores qualidades também está no meu gás, pois eu treino muito. Então, também não costumo cansar. Procuro sempre fazer o mesmo que ele faz, que é atacar o tempo todo e colocar bastante ritmo na luta. E como tenho vantagem de ser mais pesado, procuro não dar espaço nenhum para ele quando estou por cima, tento ficar o mais colado nele quanto possível. Mas às vezes nem acredito que estou conseguindo lutar tão bem com ele, acho o Lo muito bom, para mim ele já é um dos melhores da história do Jiu-Jitsu. Quantas pessoas você já viu vencendo o Mundial quatro anos seguidos em três categorias diferentes? Acho que só ele e Saulo, né?
Você mais uma vez fez uso daquele leglock por cima, na meia-guarda, que ninguém consegue impedir e o público nem consegue ver. Qual é o macete?
Venho fazendo essa posição desde 2009, ano em que me mudei para São Paulo para treinar na Alliance. É uma posição que o Fabão Gurgel faz muito bem, eu aprendi com ele e faz seis anos que venho praticando. O que tem me ajudado muito nela é que tenho tentado bastante encaixá-la nos treinos sem kimono também. Sem kimono é muito mais difícil, pois escorrega. Mas aí quando tenho o kimono, realmente tenho sentido bastante facilidade para deixar a posição 100% ajustada. O segredo é ajustar: tem de ajustar em um ponto que mesmo que o cara saiba que ela está vindo, já não dê mais para defender… Das minhas últimas 15 lutas, eu finalizei sete delas dessa maneira.
O que pretende mudar e o que pretende não mudar na sua rotina, agora que conquistou seu maior sonho no esporte?
Não vou mudar nada, estou com saúde e motivado. Vou continuar tudo que estou fazendo. Faz um ano mais ou menos que minha rotina está bem pesada, pois estou trabalhando em alguns projetos on-line. Então, além de todo o meu treinamento e aulas que dou, ainda fico acordado até 2h ou 3h da manhã trabalhando no computador. Mas sempre balanceio isso e procuro dormir oito horas por dia. Treino em dois horários por dia, mesclando Jiu-Jitsu, wrestling e preparação física, e ainda dou uma ou duas horas de aula por dia. Acredito que esses projetos nos quais estou envolvido têm ajudado o meu lado psicológico, pois estou muito motivado com tudo o que vem acontecendo na minha vida. Estou numa fase bem equilibrada, treinando o certo, sem exageros. Além do mais, minha preparação física hoje está a cargo do melhor preparador do mundo, o Kevin Paretti. Então, estou dormindo bem, me preparando bem e tenho uma mulher maravilhosa do meu lado, a Rayra. Atualmente sou aluno do Marcelinho, tenho parceiros de treinos duríssimos. É o conjunto disso tudo que tem me dado excelentes resultados.