Texto: Luiz Dias*
De maneira geral, todo aluno quando entra numa academia traz aquele kimono novo e amarra sem jeito a sua faixa-branca, começa aprendendo a amarrar a mesma e dar o nó correto. No início tudo é novidade, muitas coisas para aprender, como rolamento, fuga de quadril, e por aí vai. Porém, dentro de pouco tempo, aquela faixa-branca para muitos começa a incomodar. Muitos estão mais preocupados em passar para a faixa seguinte do que aprender as técnicas corretamente e assimilar os detalhes para potencializar seus movimentos fundamentais.
Na maioria das artes marciais, quando você começa a treinar, você é um “faixa-branca” e alguns vêem esta faixa como uma graduação sem valor, ou melhor, faixa-branca nem é uma graduação. Sentem até vergonha em dizer que são faixas-brancas. Mas o faixa-preta é um faixa-branca que não desistiu. Ninguém nasce faixa-preta. A faixa-branca já é uma graduação. Quem não treina não pode dizer que é um faixa-branca.
A faixa-branca do lutador avisa aos mais graduados que aquele lutador ainda está no início do seu aprendizado, então, os mais graduados treinam mais cadenciados, durante o treino dão dicas, ensinam o caminho correto. Os faixas-brancas devem lutar dentro do que já sabem, tentando dar bastante giro, lutando sem amarração, vivenciando e aprendendo a dinâmica da luta, o tempo certo dos golpes e movimentações, a hora de explodir e a hora de concentrar energias para futuros giros.
A faixa-branca tem que trazer humildade ao aluno, saber que tem muito para aprender ainda e respeitar os mais graduados. É comum o lutador pesquisar posições na internet, o que pode ser interessante, mas antes de tudo deve-se demonstrá-las ao professor e pedir sua opinião quanto à sua aplicação nos treinos. Existem finalizações que podem causar lesões graves quando mal executadas ou sem a supervisão de um instrutor atento à utilização de determinado golpe.
Acredito que o tempo de faixa-branca deve ser bem aproveitado, vivenciado sem pressa. Este início é o momento exato para se aprender de maneira bem sólida os fundamentos que durante todo a sua vida de lutador, inclusive na faixa-preta, você irá usar. Como buscar finalizações elaboradas se a base não está sólida? Como fazer posições avançadas se movimentos fundamentais não são executados como deveriam? São os detalhes que fazem a diferença numa luta.
Fazer as pegadas certas, usar o próprio corpo no movimento certo são alguns exemplos. Preocupar-se com a técnica é essencial, você pode ser forte, mas ao lutar com alguém com a mesma intensidade de força física esta diferença acaba e será a técnica de cada um que causará o desequilíbrio, mostrando o vencedor da luta, seja em um treino de academia ou num campeonato.
A busca da graduação é um sentimento legítimo. Qual lutador não quer ganhar a faixa-preta? Quem não deseja vencer um Campeonato Brasileiro ou Mundial? Muitos querem ser professores e formar outros faixas-pretas, contudo, todas essas metas ou sonhos a serem alcançados têm um ponto em comum. Todos esses caminhos começam na base da formação do lutador, no início do seu aprendizado, nos fundamentos da nossa arte suave, justamente na faixa-branca.
* Luiz Dias é faixa-preta e líder da nossa GMI Equipe G.A.S. Jiu-Jitsu, no Rio de Janeiro.