No último dia 19 de março, o peso-pena mais abusado do UFC teve um encontro marcado com os fãs no Rio, num pub tipicamente irlandês desses que há em qualquer grande cidade. (Veja o vídeo no meio da nota.)
Dois meses antes, contudo, GRACIEMAG antecipou como Conor McGregor seria recebido num bar por um legítimo fã brasileiro de Jiu-Jitsu e MMA. A crônica fictícia, publicada na edição 216, foi obra do comentarista Mauro Ellovitch.
Releia a crônica a seguir e comente: o que você diria ao desafiante ao cinturão de José Aldo, se sentasse com ele para trocar ideias? Ideias de alto nível e sem baixo calão, claro.
“Num pub com McGregor”
Sentados em uma mesa de um típico pub irlandês em Boston, o cronista e Conor McGregor conversam sobre a luta principal do UFC Fight Night: McGregor vs. Siver:
– Bela vitória, Conor. Você fez a luta contra o Siver parecer fácil.
– Obrigado, mate (expressão correspondente a “companheiro”, muito usada pelos irlandeses)! Você viu como eu consegui encaixar socos e chutes aproveitando minha envergadura?
– Vi. Você mandou uma boa variação de golpes que passavam a guarda do rival alemão, além de mostrar uma ótima noção de distância e posicionamento. Parecia treino. Fiquei com a impressão de que, se você tivesse imprimido um ritmo maior, dava para ter acabado no primeiro round ao invés do nocaute técnico no segundo round.
– Pois é. Mas eu quis valorizar a luta. Meus fãs pagaram uma nota no ingresso e eu queria dar espetáculo. Aliás, sempre dou espetáculo. Vamos beber mais uma rodada de cerveja em homenagem ao meu show!
Ambos pedem mais uma caneca e dão um grande gole.
– Bem convencido, hein? Muitas pessoas te criticam por causa dessa prepotência.
– Não é prepotência se você realmente acredita. Boa parte do meu jogo se baseia na autoconfiança, em acreditar que eu sou mesmo o melhor lutador da categoria. Se você não tiver confiança em si mesmo, quem mais terá?
– OK, mas você precisa ficar se vangloriando o tempo todo? Muitas pessoas, especialmente os brasileiros, já estão te odiando pela arrogância das suas declarações.
– Isso eu não consigo entender. Se eu acho que sou o melhor e venho ganhando de forma convincente, por que não falar? Vocês brasileiros gostam do “coitadinho”, do que se faz de humilde. Boo-hoo (faz uma expressão irônica de choro). As pessoas deviam admirar quem tem uma postura vencedora! E que se veste bem. Vamos beber mais uma rodada de cerveja em homenagem ao melhor lutador do UFC!
Ambos pedem mais uma caneca e dão um grande gole.
– Cara, o que são esses ternos com gravata borboleta que você usa? E esse cabelo?
– Novamente é questão de imagem e autoconfiança, mate. Você precisa ter muita segurança para usar esse estilo. E, como diz uma expressão que eu aprendi no seu país: “As minas pira!” (fala a expressão com um bizarro sotaque gringo e ambos caem na risada).
– Além de elogiar a si mesmo, você fica provocando e menosprezando os adversários. Aí já é uma jogada de autopromoção, não é?
McGregor dá uma piscada.
– O UFC também é um negócio. Não adianta só você ser um bom lutador, você tem de vender a sua luta. As pessoas tem que querer ver você ganhando ou apanhando. É isso o que eu quero. Quero ver meus fãs gritando meu nome e os fãs do Aldo gritando: “Uh, vai morrer! Uh, vai morrer!” Vamos beber mais uma rodada de cerveja em homenagem aos fãs!
Ambos pedem mais uma caneca e dão um grande gole.
– Nesse ponto, você pode ser a melhor coisa que já aconteceu para promover o José Aldo. Se ele vencer, ele vai se…
– Ele não vai vencer! Eu sou o melhor! Eu vou matar ele! (começa a pular e derruba metade da cerveja da caneca)
– Tá bom! Tá bom! Calma… Como eu estava dizendo, se ele te vencer, vai se tornar um astro do grande público. Me desculpe, meu amigo irlandês, mas acho que o Aldo bate mais forte e tem o jogo mais completo do que você.
– O que é isso? Eu tenho sido dominante. Arrasei Diego Brandão, Dustin Poirer e o Siver. O Aldo fez lutas duras contra Chad Mendes, Ricardo Lamas, Chan Sung Jung e Frankie Edgar.
– Mas eles eram todos top 5 da categoria. Até hoje você não enfrentou alguém como eles. E você só foi dominante em pé. Ninguém viu sua defesa de quedas contra um wrestler ou seu jogo de chão contra um especialista em Jiu-Jitsu.
– Mas vão ver. Não sou só um Chael Sonnen. Faço muito mais do que provocar. Eu sou tecnicamente muito melhor. Vou provar a todos que eu não sou só imagem!
– Então, agora sou eu quem propõe um brinde: Vamos beber mais uma rodada de cerveja em homenagem a José Aldo versus Conor McGregor e ao merecido reconhecimento da categoria peso-pena!
Ambos pedem mais uma caneca e dão um grande gole.”
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