Faixa-preta de Jiu-Jitsu e judô, e instrutor de artes marciais nas forças de segurança de Minas Gerais, nosso GMI Paulo “Peposo” Cury é um dos grandes estudiosos da defesa pessoal para policiais.
Além de lecionar técnicas de abordagem e defesa nas corporações, o líder da Peposo Team, que também é bacharel em Direito, analisa constantemente as técnicas de Jiu-Jitsu mais usadas nas abordagens policiais e em suas atividades de rotina.
Confira nas linhas abaixo as impressões de Paulo Peposo sobre o tema, que vem ganhando o mundo, e quais as medidas defendidas pelo professor sobre o assunto.
GRACIEMAG: O policial brasileiro sabe abordar suspeitos, Peposo?
PAULO PEPOSO: Vejo o combate corpo a corpo das forças policiais contra cidadãos infratores dentro das expectativas mundiais. É baixo o índice de letalidade quando se trata de imobilização corpo a corpo, não há violência excessiva por parte dos policiais. Situações onde há excesso de força por certos policiais na hora da abordagem são exceções à regras, devem ser analisadas nas suas especificidades, dentro de cada caso de procedimentos policiais.
Como o Jiu-Jitsu protege os policiais e cidadãos?
Há de considerar que todo o estudo de combates corpo a corpo das forças policiais visam à imobilização do infrator, respeitando a dignidade humana em detrimento do crime cometido por ele. As forças policiais devem atuar de forma imparcial, visando a proteger a integridade pessoal da vítima e do cidadão infrator. Dito isso, o Jiu-Jitsu utilizado pelas forças policiais de Minas Gerais, que eu acompanho de perto, minimiza a resistência por parte do cidadão infrator, por se tratar de uma arte onde há inúmeras possibilidades de imobilizar sem usar de força excessiva – e sem colocar o policial em risco. A contenção do infrator é mais eficaz, rápida e minimiza os risco de machucados e lesões para ambos os lados.
Quando há excesso, é muitas vezes falta de treino de Jiu-Jitsu?
Cada caso é um caso. A força utilizada pelos agentes públicos depende muito das qualificações dos cidadãos infratores e dos agentes, e dos contextos que cada situação exige. As forças policiais têm passado por vários estudos técnicos em relação a técnicas de defesa policial, contudo a falta de conhecimento técnico de defesa pessoal por alguns agentes públicos pode sim contribuir para o uso de força exacerbada.
O Jiu-Jitsu segue como uma ferramenta indispensável no treinamento de forças policiais?
Certamente. O Jiu-Jitsu bem trabalhado é uma ferramenta indispensável para agregar à formação de policiais. Com a Defesa Pessoal Policial, a melhor forma de imobilizar cidadãos infratores resistentes, notamos que o Jiu-Jitsu se mostra a arte mundial mais eficaz no solo, pois utiliza de técnicas precisas de imobilização dos membros superiores, inferiores e, se necessário, de técnicas controladas de estrangulamento para minimizar a reação da agressão e dessa forma preservar a vida do infrator.
Tivemos recentemente o caso de George Floyd nos EUA. O que ocorreu ali, na sua visão?
A técnica empregada pelo policial Dereck Chauvim foi desproporcional, arbitrária, abusiva e violenta, pois não havia necessidade de empregar a técnica do estrangulamento indireto, no caso utilizando o joelho para interromper o fluxo sanguíneo da artéria carótida do cidadão imobilizado. A técnica foi mal utilizada, pois há outras formas de imobilizar o cidadão infrator estando em decúbito ventral (de barriga no solo), como inserir o joelho nas escápulas e o outro joelho próximo ao tórax, desse modo impedindo a mobilização dos membros superiores do cidadão infrator, preservando o pescoço. Foi então uma aplicação de amador, afinal ao aplicar técnicas de Jiu-Jitsu no solo não há necessidade de imobilizar um cidadão por muito tempo. Toda técnica de defesa pessoal usada de forma incorreta, em qualquer arte marcial, torna-se perigosa para ambos os lados. Mas, se usada de forma correta, será benéfica para todas as sociedades.
Na sua opinião, o que falta para o Jiu-Jitsu ser treinado por todas as forças de segurança?
Há um descaso das políticas públicas para com os investimentos nas artes marciais, e falta reconhecimento de sua relevância na formação policial adequada. Sempre fui um visionário da luta e tenho compromisso crescente com o bem-estar social. Busco inclusive desenvolver projetos sociais com o objetivo de conscientizar crianças e adolescentes, desde cedo, quanto à real função da luta e de suas técnicas enquanto práticas de defesa pessoal. O Jiu-Jitsu na verdade combate a violência. Procuro ensinar o uso da força com moderação de acordo com as necessidades e circunstâncias, nunca para machucar ou agredir o próximo. É um trabalho constante nosso pela saúde, pela qualidade de vida, em busca de parcerias adequadas com educadores e especialistas da área da saúde mental.