GRACIEMAG: Como foi o seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu?
MARCOS ESCOBAR: Eu sempre gostei de lutas e como muitos da minha geração, era fã de Mike Tyson, Rocky Balboa e Bruce Lee. Pratiquei kung fu e boxe chinês, e gostava muito de artes marciais – mas não conhecia o Jiu-Jitsu. Tive meu primeiro contato “indireto” com a arte uma vez, andando no clube do Fluminense, perto de onde eu morava. Estava acontecendo uma edição da Copa Company. Acho que o ano era 1988 e ali foi a primeira vez que cheguei a ver ao vivo o Jiu-Jitsu.
E como começou sua paixão pelo Jiu-Jitsu?
Creio que foi em 1993. Eu estava passando um carnaval em Rio das Ostras com amigos, e um dia na praia fomos brincar de luta na areia. Fui finalizado pelas costas por um amigo, com um mata-leão que desceu amargo. Eu simplesmente não entendi nada do que havia acontecido. Eu não sabia nem o que era dar três tapinhas. Só lembro que eu detestava perder, e ali sujo de areia decidi que precisava aprender aquela modalidade e saber como lutar daquela forma.
Onde começou a treinar?
Assim que voltei ao Rio, perguntei a um grande amigo que morava no meu prédio onde eu poderia ir para experimentar uma aula. Ele já era faixa roxa do mestre Fernando Pinduka e me recomendou duas academias na região: a academia do Dedé Pederneiras no Flamengo ou a do Leo Castello Branco, que acabara de abrir em Laranjeiras. Escolhi a do Castello que era mais perto e após aquela primeira aula me matriculei e nunca mais parei.
Que benefícios o Jiu-Jitsu te traz até hoje?
Acredito que toda e qualquer modalidade esportiva crie uma mudança positiva nas pessoas. Eu já praticava outras artes marciais, fazia polo aquático e sempre fui ativo e saudável. Mas o Jiu-Jitsu fez toda a diferença na minha vida, pois deu uma injeção inexplicável de disciplina, autoconfiança e responsabilidades.
Que tipo de responsabilidades?
Olha, eu passei a fazer questão de me cuidar. Aprender o que comer, ter horário pra cumprir treinos. Meus pais não precisavam me mandar à academia ou me dizer o que comer ou beber para continuar com saúde. Se eu já tinha uma disciplina de família, com o Jiu-Jitsu ela cresceu de forma exponencial e eu passei a saber o que fazer. Foi um desenvolvimento natural e involuntário. O Jiu-Jitsu faz isso conosco.
E vale lembrar que isso era o início dos anos 1990…
Exato, por essa época o esporte era ainda muito amador e bem menos desenvolvido do que nos dias de hoje. Então acredito que todo praticante de Jiu-Jitsu, de alguma forma, passa a se cuidar mais e a viver melhor e de maneira mais saudável. Acredito também, que venha daí o termo “Jiu-Jitsu lifestyle”.
Como o Jiu-Jitsu ajuda famílias inteiras a ter essa tal de qualidade de vida, professor?
Eu acho que saúde e qualidade de vida estão interligadas, mas não são a mesma coisa. Exemplo: você pode ser uma pessoa que adora o que faz. Ama seu trabalho, sua rotina e as pessoas ao seu redor. Não mudaria nada no seu dia a dia. Mas ao mesmo tempo você não se preocupa muito com exercícios, alimentação e suas horas de sono. Seu exames não andam muito bem. Eu diria que você tem uma boa qualidade de vida no que se refere a forma que você vive mas isso não reflete em sua saúde.
E pode haver o camarada saudável sem qualidade de vida, certo?
Isso. É a pessoa que odeia o trabalho, tem uma rotina corrida e está rodeada de gente com quem não se identifica nem curte. Apesar de comer bem, dormir bem e se exercitar, apesar dos exames estarem OK e a saúde lhe parecer boa, sua qualidade de vida não é. Acabamos de sair de um período delicado com a pandemia e as pessoas que não aprenderam ainda a importância de equalizar qualidade de vida com saúde deveriam começar a prestar atenção nisso.
Que ensinamentos você colheu com seus professores e usa até hoje para ajudar a vida dos alunos?
Graças a Deus tive professores e grandes parceiros de treino que, para mim, sempre foram excelentes modelos. Por isso são meus amigos. Além disso, tive um grande aprendizado na faculdade que junto com a experiência de vida, me deu uma visão diferenciada daquilo que eu fazia e queria para meus alunos. Eu estou sempre aprendendo, todos os dias! E sempre procurando melhorar para que meus alunos recebam o melhor produto final. Temos de ver nossa vida como uma balança! De um lado positivo e outro negativo. Se praticarmos mais coisas positivas, o lado positivo pesará mais. O mesmo acontece se praticarmos mais o lado negativo. Já o meio-termo não fará diferença nem moverá a balança. Temos sempre de tentar pesar mais pro lado positivo… Aí sim, teremos mudanças e resultados positivos em nossas vidas.
Quais os planos para o futuro da sua equipe Everyone Jiu-Jitsu, em Miami?
Hoje temos duas academias aqui na Flórida, uma em Miami e outra em Cooper City. São duas academias novas e que ainda estão se estruturando. Passamos maus bocados e sobrevivemos à pandemia que nos afetou demais. Mas hoje já consigo ver um futuro mais promissor. Nossas escolas estão bem montadas, temos um método bem estruturado, com pessoas empenhadas e capacitadas. Temos um trabalho e metodologia bem diferenciados, em especial com as crianças. O mais importante, no momento, é conseguirmos entregar o melhor Jiu-Jitsu possível para cada indivíduo e mudar a vida das pessoas de maneira extremamente positiva.
Há um vídeo com você que bombou na internet. Daquela luta sua com o novato BJ Penn. O que aprendeu ali?
Essa minha luta com o BJ foi uma história curiosa. Na minha cabeça, eu tenho na memória uma luta muito diferente e bem mais rápida do que realmente foi. Achava que eu havia tentado passar e ele me emborcou e pegou. Mas, quando assisti ao vídeo da luta anos depois, percebi que havia sido totalmente diferente. E eu não lembrava de nada daquilo que via no vídeo. Estranho, né? Já cheguei a fazer uma reflexão sobre isso… Na verdade não tenho muita lembrança daquele dia como um todo. Meu irmão me disse uma vez que eu passei mal e vomitei. Cheguei até a teimar com ele que não. Quando encontrei o BJ no Rio uma vez, ele me falou a mesma coisa (risos). Mas não lembro dessa indisposição mesmo. De qualquer forma, foi mais uma guerra pro currículo e mais uma amizade que levo pra vida.
O BJ é um cara sensacional, sempre alto astral e uma fera que não precisa de apresentações. Naquela época, o Jiu-Jitsu era bastante diferente. Lutávamos pela bandeira, íamos para “matar ou morrer” e dávamos nossa vida nos tatames. Boas lembranças, e se tivesse de fazer tudo de novo, faria da mesma forma. Com uma diferença: na certa eu defenderia melhor aquele single-leg!