Atual campeão até 66kg do ADCC e dono do peso-pena no Mundial de Jiu-Jitsu, Rafael Mendes não quer saber de ser desbancado do trono. De olho neste objetivo, o lutador formado por Ramon Lemos tem treinado duro, deixou o paletó no armário e tem malhado firme também. Em bate-papo com Carlos Ozório, o monstro da Atos contou o que está preparando para o ADCC 2011, em setembro na Inglaterra.
Como está a preparação para o ADCC de Nottingham?
Desde que voltei ao Brasil, após o Mundial na Califórnia, estou treinando apenas sem kimono, não gosto de misturar os treinos – se vou lutar sem kimono não gosto de treinar com o pano. Venho de uma preparação muito forte para o Mundial, descansei apenas duas semanas, mas mesmo nesse período fiquei dando aulas todos os dias, no Canadá. Voltei rápido então à minha rotina de treinos.
Eu já sabia que este ano iria ser uma maratona, porque eu não poderia perder o preparo físico que havia conquistado para o Mundial, então não quis deixar meu corpo relaxar totalmente, não descansei muito de propósito. No Brasil, meu irmão Guilherme e eu montamos meu cronograma de treinos para o ADCC, com as posições que eu iria treinar e os tipos de treinos que seriam feitos, então estou somente seguindo o planejado hoje.
Como são esses treinos?
As primeiras duas semanas aqui em Rio Claro foram de adaptação, então treinei com Gui, Frazatto, Leandro Brassoloto (faixa-preta da Atos) e dois roxas, meu primo Eduardo Mendes e Jair Cofe. Com a ajuda deles me adaptei rápido, também porque gosto muito de treinar sem kimono, e quando você faz uma coisa que realmente gosta as coisas fluem naturalmente. Esta semana eu e Gui viemos para São José dos Campos, na academia Calasans Camargo, e estamos treinando com uma galera muito boa. Gui tem puxado os treinos para nós, nos ajudando tecnicamente, e o Claudio Calasans me ajuda também na parte em pé, corrigindo vários detalhes no meu jogo, sinto que estou evoluindo muito. Os treinos estão ótimos, e vamos seguir treinando com Calasans até o dia do evento, alternando entre Rio Claro e São José dos Campos.
Como tem sido a sua evolução técnica em pé?
Tenho a cabeça muito aberta em relação a treino, e procuro aprender e absorver o melhor de cada parceiro. Estou sempre ali para perguntar e acredito que isso me faz evoluir dez vezes mais rápido. Eu gosto de treinar com pessoas que me motivam, que me inspiram, e Calasans tem isso, eu sempre gostei muito de treinar com ele. Se Deus quiser seremos os campeões até 66kg e até 77kg do ADCC 2011.
O que o ADCC traz de diferente para o lutador?
O ADCC é um dos eventos que mais gosto de lutar, principalmente pelo prestígio e organização. Gosto do fato de os árbitros não serem lutadores, acho isso uma falha no Jiu-Jitsu ainda. Gosto muito do trabalho da Confederação, que tem posto os eventos em outro patamar, mas não entendo como os árbitros são atletas ainda em atividade. Posso estar lutando a final e quem está arbitrando é o cara que eu derrotei numa das lutas anteriores, ou até mesmo o professor de um adversário anterior. Não é nada contra os árbitros, nada pessoal, também não sei qual é a solução para isso, é apenas uma crítica construtiva que pode ajudar o Jiu-Jitsu a evoluir como esporte.
Como o seu jogo muda sem kimono?
Tirar o kimono e treinar para outras regras depois do Mundial dá uma motivação diferente. Eu me adapto rápido para o jogo sem kimono, o principal é esquecer as pegadas e as regras do Jiu-Jitsu, e treinar pensando somente no evento. Estou treinando posições para surpreender, mantendo o foco de tentar finalizar todas as minhas lutas. No último ADCC, em 2009 em Barcelona, só não finalizei na final contra o Cobrinha, este ano entendo que preciso estar ainda melhor. O gás também precisa estar em dia, afinal a última final durou quarenta minutos, logo no ADCC precisamos estar preparados para este tipo de situação. Meu preparador físico Thiago Mendes vem fazendo um excelente trabalho comigo e a galera da Atos. Por enquanto, lutaremos eu, Frazatto, André Galvão, Calasans e a Chris Cyborg, mas acho que ainda há chances para alguns atletas serem convidados, vamos ver.
Que regras do ADCC são mais instigantes ao seu ver?
A regra de não valer pontos na primeira metade da luta faz tudo ficar mais dinâmico, e incentiva ainda mais a busca pela finalização. Acredito que isso faz as lutas serem mais movimentadas e ocorrerem mais finalizações.
Quais os planos para depois do ADCC?
Gui e eu temos um tour de seminários pela Austrália em novembro. Deus nos abriu portas para que possamos trilhar seu caminho em diferentes lugares, então não podemos fazer errado. Nossa vida melhorou muito com o Jiu-Jitsu, éramos crianças quando começamos e trilhamos nossa vida em cima de nossa carreira no esporte, sempre buscando evoluir e tudo vem acontecendo da melhor maneira. Abdicamos de várias coisas, e agora prometo dar meu máximo nos tapetes do ADCC, lutar com muita garra e vontade de vencer. Aos fãs, peço que acompanhem nosso dia-a-dia no Facebook ou no site www.mendesbrosfans.com.