O mito Roger Gracie, 36 anos, está satisfeito com sua estrada profissional, e agora só quer mesmo ensinar, nos seus seminários e academias espalhadas por Londres. Recentemente, a equipe GRACIEMAG teve a oportunidade de andar pelo Rio com Roger após seu feito na luta de despedida, quando finalizou Marcus Buchecha na superluta do Gracie Pro.
Roger provou novamente ser um cara normal, que mostra a foto dos dois filhos no celular, sai com os amigos, treina e repõe as energias com um copão de açaí e um prato de tapioca com queijo. O que então fez dele o melhor competidor de Jiu-Jitsu da história recente? O repórter Marcelo Dunlop foi descobrir.
GRACIEMAG: Qual é a maior lição que a carreira de Roger Gracie deixa para a comunidade do Jiu-Jitsu?
ROGER GRACIE: Acho que sobre a importância da constância dos treinos. Não tem jeito: se você quer ser bom, tem que treinar duro. Isto é, com os caras mais duros da sua academia. Dificilmente chega lá quem foge dos treinos mais complicados ou deixa de enfrentar os caras mais duros da sua categoria nos torneios. Mas “treinar duro”, repare, não quer dizer treinar para se estourar. É preciso treinar com inteligência. Eu não acredito em se preparar para um desafio de uma hora para outra.
Tenho amigos que passam um mês sem treinar, ou até mais tempo, e quando marcam uma luta tentam compensar se arrebentando nos treinos até o limite. Para mim isso encurta a vida do atleta, e prejudica o cara tecnicamente também. Eu procuro treinar todos os dias, uma horinha, e fico satisfeito. Claro que tem vezes que você está viajando, ou precisa se ausentar, mas quatro vezes por semana é tranquilo. Sem falar que se eu passo mais de uma semana sem treinar Jiu-Jitsu eu quero matar um! (Risos). A gente fica mal-humorado, nervoso… Quando fico sem treinar aumentam as dores também, ombro, joelho. Com esse meu método de treinar sempre uma horinha meu corpo nunca reclamou, e jamais operei nada.
O quanto incomodou você ler que “Roger Gracie era o azarão” contra o Buchecha, como muitos veículos publicaram antes da luta em julho?
Eu, azarão… Foi legal mostrar que esse pessoal estava enganado, né? Acharam que eu estava velho e acabado, mas na verdade o que ocorreu é que eu parei de competir cedo, para investir no MMA. E nunca parei de treinar, estudar e acompanhar o Jiu-Jitsu.
Mas vamos e venhamos, sua atuação naquele primeiro Metamoris contra o Marcus Buchecha não foi das melhores da sua carreira… O pessoal não lembrava que você estava doente naquela luta, mal tinha treinado.
E não só isso, além de eu ter pego uma virose perto da luta, eu estava na pior fase da minha vida no Jiu-Jitsu. Não sei o que era, talvez por ter ficado meio afastado do kimono para apurar o boxe, mas meu Jiu-Jitsu estava horrível. Ao rolar com os meus alunos, sentia dificuldades que jamais tinha sentido. Aí fui treinar com o Victor Estima na Inglaterra, ele bem mais leve que eu, e bati no pescoço rápido. Fiquei pensando: “Eu hein”. Depois fui treinar com o também peso médio Otavio Sousa na GB: não só não consegui passar a guarda como ainda fui raspado toda hora. Não estava entendendo o que acontecia comigo, mas aí entra o segredo, né? Não desanimar. Desistir jamais, não deixar o mau desempenho te atormentar. E voltar no outro dia, continuar treinando. Em algum tempo, recuperei a forma técnica e voltou o tempo certo das posições, e a confiança.
Sobre a luta com o Buchecha, muita gente acreditava que ele te botaria para baixo, depois das quedas que ele distribuiu no peso e absoluto no Mundial 2017…
Eu confiava nos meus treinos em pé, mas também achava isso possível (risos). Eu já tinha posto na cabeça que ele de repente me derrubaria e cairia por cima. Eu estava preparado psicologicamente para cair embaixo dele. É preciso ter sempre um plano B, estar preparado para as situações ruins. Por isso treinei tanto a defesa ao longo da minha vida, e treino até hoje: reposição de guarda, saída do cem-quilos, defesa das costas, defesa do triângulo…
Qual é o maior pecado que um jovem lutador que quer ser campeão pode cometer?
Ficar copiando posição do YouTube e não treinar o básico. Talvez seja o maior erro da molecada hoje, que se empolga com berimbolo e afins e esquece do resto.
O que você quer da vida, a partir de agora?
Quero ser um ex-competidor saudável, mantendo meus treininhos e com as academias cheias e muita gente se beneficiando do Jiu-Jitsu como foi meu caso.
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