O dia 5 de fevereiro de 2011 foi um marco da exposição do UFC no Brasil. Há dez anos, Anderson Silva e Vitor Belfort se enfrentaram na luta principal do UFC 126, em Las Vegas. Mal sabiam eles que aquele duelo seria um dos responsáveis por reavivar a paixão do povo que talvez não lembrasse mais de ter criado o vale tudo em idos de 1930, com os desafios organizados por Carlos Gracie.
Ídolos como Rickson Gracie, Rodrigo Minotauro, Wanderlei Silva e outros craques brasileiros já brilhavam no Japão em duelos de MMA no Pride, mas apenas os mais fanáticos conseguiam ter acesso a tais lutas, por fitas e poucas fontes na internet. Nada se comparou à luta de Silva e Belfort no Ultimate na questão de popularizar o esporte por aqui. Talvez não tenha sido o plano inicial da organização, ao colocar os compatriotas frente a frente no octógono e dividir torcidas, mas o tempero posto pelos personagens envolvidos foi na dose certa. Anderson, campeão do peso médio da época, chegou a treinar com Vitor no Rio de Janeiro, mas a intenção do fenômeno em novamente reinar como campeão da categoria azedou o clima nos bastidores e a rivalidade entre as feras nasceu ali.
Pela primeira vez, uma legião de repórteres brasileiros embarcou para o UFC para cobrir uma edição in loco. Antes do evento, Belfort deu uma série de entrevistas apimentando a disputa e Anderson, por sua vez, não perdoou e chegou à pesagem com uma máscara para ficar frente-a-frente com Vitor. O “mascarado” Anderson esquentou a encarada, Vitor não recuou e estava confirmada a rivalidade para o combate.
A luta principal marcou uma alta nos canais por assinatura e chegou a bater números do futebol no Ibope. Os primeiros minutos foram de muito estudo, Anderson realizou um giro para a esquerda em busca de evitar a poderosa canhota de Belfort, que esperava a hora certa do bote. O Aranha, por sua vez, queria trabalhar no contragolpe habitual e esse estudo durou alguns minutos. A primeira investida veio de Vitor, em combinação de socos, enquanto Silva caminhava desleixado para chamar o oponente. Daí em diante a luta mudou para o lado do paulista formado na Chute Boxe.
Anderson errou por pouco um chute na cabeça de Belfort, mas ao encontrar essa distância se colocou mais agressivo na luta. Belfort passou a tentar investir na média distância, o que facilitou a brecha fatal do Aranha: um chute frontal que furou a guarda de Belfort, ferroando-o certeiro no queixo. O fenômeno implodiu e foi ao solo totalmente fora de combate, o que levou o árbitro a encerrar a disputa ainda no primeiro assalto, aos 3 minutos e 25 segundos. Anderson mais uma vez coloca seu nome como um dos maiores pesos médios de todos os tempos e seu passe no Ultimate chega a níveis astronômicos.
Seis meses depois, Anderson voltou a lutar, desta vez no Brasil, após um hiato de 15 anos sem eventos do Ultimate por aqui. No UFC Rio 1 (UFC 134: Silva x Okami), realizado na lotada HSBC Arena (hoje Jeunesse Arena), na Barra da Tijuca, o Aranha nocauteou o japonês Yushin Okami, abriu as portas da organização em terras brasucas e o resto é história.