Oito medalhas de ouro nas quatro mais importantes competições da temporada 2016/2017. É com este saldo que Tayane Porfírio fecha com chave de ouro sua estreia na faixa-preta de Jiu-Jitsu. A conquista dupla no grand slam da arte suave, com títulos em peso e absoluto no Brasileiro, Pan-Americano, Europeu e na última semana pelo Mundial de Jiu-Jirtsu de 2017 confirmaram o favoritismo total na fera da Alliance e a promessa de ainda mais conquistas pela frente.
Mesmo sob uma chuva de críticas na redes sociais, por conta de seu tamanho e peso, Tayane segue forte na missão de colocar seu nome na história do nosso esporte, e com o capricho de mostrar que não precisa valer-se apenas da força para vencer. O uso de sua guarda, por exemplo, foi crucial para a vitória no super-pesado sobre Vanla Luukkonen, em transição elástica que culminou no leglock. Já no absoluto, Tay bateu a duríssima Nathiely de Jesus, após aplicar uma americana.
Nós conversamos com Tayane, ainda em êxtase pelas conquistas no Mundial, e esta relembrou como chutou todas as pedras que teve no caminho para conquistar o mundo em Long Beach, na Califórnia. Confira a entrevista abaixo:
GRACEIAMG.com: Qual foi o filme que passou pela sua cabeça na hora que você conquistou o título Mundial?
Tayane Porfírio: Acho que todos os atletas tem uma história para contar. Minha infância foi um pouco conturbada. Não só a minha infância, até hoje tenho alguns problemas familiares. Ano passado, no Mundial, minha irmã tinha desaparecido uma semana antes do torneio e este ano eu prometi pra mim mesma que eu ia tentar fazer tudo diferente. Tive problemas no decorrer do ano com meu pai que ficou internado antes da viagem para o europeu também. Acho que o orgulho que minha mãe sente de mim é por eu não ter desistido fácil em momento algum, sempre tive uma cabeça forte, eu queria muito ser campeã mundial. Os sonhos são realmente possíveis. Eu não tenho vergonha da minha história e nem de onde eu vim. Eu sou do interior do Ceará e tenho muito orgulho de ser de onde sou.
Sobre o campeonato agora. Você, com apenas 22 anos, se tornou campeã peso e absoluto na faixa-preta. Tem um sabor especial?
A única coisa que sinto agora é alívio. Fico de janeiro até junho com o coração na garganta, sinto como se a qualquer momento eu fosse surtar, sabe? Porque é um sonho ser campeão mundial, né? E você conquistar esse sonho com ouro duplo é mais ainda, acho que o sabor é de realização.
Qual foi a luta mais complicada para você? Alguma delas foi mais difícil do que as outras?
Luta e luta, mas no Mundial acho que a luta mais difícil de todas foi com a Bia Mesquita. Todas as outras foram bem duras, mas com a Bia eu ganhei nas vantagens e é um pouco arriscado ficar apenas com vantagens na frente, porque a qualquer momento ela poderia fazer um ponto e vencer. Todas as lutas tem um grau de dificuldade, sou muito grande e às vezes é complicado lutar com as meninas menores. Eu me sinto bem melhor lutando na minha categoria.
A Gabi Garcia estava na arquibancada torcendo por você. Vale ressaltar algo para a campeã? Está ansiosa para um possível retorno dela em 2018?
Não tenho muito o que falar para a Gabi, mas sim da Gabi. Ela foi uma peça bem valiosa no Jiu-Jitsu, e por mais que daqui a 10 anos qualquer outra pessoa faça o que ela fez, não vai ser a mesma coisa. Ela fez muito pelo Jiu-Jitsu feminino e acho que a primeira coisa que devemos a ela é respeito!! Gosto muito dela e sempre irei admirar ela.
Quero muito que ela volte em 2018, sonho em dividir o pódio com ela!
Você acha que teria um desafio maior caso a Dominyka estivesse no torneio? Como você acha que seria uma luta com ela na final do absoluto?
Não vejo como desafio maior. Nosso maior oponente somos nós mesmas. Nossa mente, ansiedade e receios. Não sei como seria uma luta minha com a Dominyka, mas eu a enfrentaria como enfrentei todas as outras. Um fator determinante é o coração, a vontade de vencer, e isso eu tenho de sobra. Acredito que dentro do tatame é aquele momento que está valendo e quando esse dia chegar sem duvidas será um lutão.
Além do ouro duplo no mundial, vale lembrar que você alcançou o mesmo feito em todo o grand slam. O que uma conquista tão maiúscula quanto esse significa para você?
Estou tentado acordar do sonho que estou vivendo. É muito importante para mim, não por eu ter conquistado isso, mas por tudo que já passei para chegar aqui. Ver essas oito medalhas de ouro me faz olhar para trás e enxergar o quanto eu batalhei para chegar até aqui e o quanto tive que engolir humilhações calada. Engoli seco, chorei muito, mas hoje eu choro com o sorriso no rosto.
Mesmo com uma legião de fãs apaixonados, você sempre recebe mensagens mal intencionadas. Como a Tayane faz para se motivar em meio às críticas e qual o recado você deixa pra essas pessoas?
Hoje a atleta que eles tanto criticaram foi campeã mundial em um minuto de luta, ao chamar para a guarda e pegar no leglock. Antes de entrar pra lutar, quando anunciaram meu nome, todos ficaram calados. A única coisa que veio na minha cabeça foi que todos pensaram: “Luta de gordo. Com certeza vai ser 10 minutos de luta em pé.” Eu quero muito fazer diferente hoje, eu não esperava finalizar logo mas queria tentar mostrar que realmente posso ser boa naquilo que eu faço. Eu não peço para ninguém gostar do meu Jiu-Jitsu, respeito a opinião de todos. A única coisa que eu queria era respeito, acho que está faltando isso. Ninguém conhece minha história, ninguém viveu minha vida, eu não estou ali para provar para ninguém que sou melhor ou não, estou ali para vencer meus medos. Acho que me criticar não vai mudar a vida de ninguém em nada. Hoje sou campeã mundial graças a críticas, porque se não fossem por elas acho que minha vontade de vencer não seria tão grande assim.
E qual a dica da Tayane para os novos atletas que querem brilhar no Jiu-Jitsu, assim como você?
Primeira coisa é manter o pé no chão sempre, mas o mais importante é não tentar agradar ninguém. É ser você mesma, subir sem precisar pisar em ninguém, sejam honestos nas lutas porque isso conta muito. Deus vai te dar aquilo que realmente você merece!
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