Desde muito antes do UFC 156, o peso pesado paraibano Antônio “Pezão” Silva sempre foi subestimado.
Com seu tamanho descomunal e seus traços característicos (decorrentes de um tumor na glândula pituitária), sua simplicidade e seu jeito quase desengonçado, muitos o consideravam apenas uma atração de marketing. Comparavam-no a outros gigantes que se arriscaram, sem sucesso, no MMA – como Paulo César “Giant” Silva e Hong Man Choi. Nem mesmo a vitória sobre a lenda Fedor Emelianenko no extinto Strikeforce foi suficiente para tirar a desconfiança dos incrédulos.
Escalado para ser um mero coadjuvante no retorno de Alistair Overeem (após um ano de suspensão pelo doping mais evidente da história dos esportes), todos esperavam que “Pezão” fosse ser facilmente derrotado. Overeem não perdia nenhuma oportunidade de desdenhar e provocar acintosamente o brasileiro.
Mas, na noite de 2 de fevereiro de 2013, Pezão lavou a alma. A dele, a minha e a de muita gente. Após dois rounds em que esteve em desvantagem, Silva avançou sobre Overeem como um trem desgovernado no início do terceiro round, pressionou-o na grade, aplicou um fortissimo direto, seguido por uma sequência de uppercuts e obteve um nocaute espetacular. Nem o mais frio espectador conseguiu ficar sentado.
Foi um momento apoteótico. Aquela sequência de socos, era uma resposta de Pezão para cada frustração, cada crítica, cada provocação que havia recebido, não só de Alistair Overeem, mas durante toda a sua vida. Não deu para segurar o grito na garganta.
E junto com ele, fomos muitos de nós. Naquele momento, Pé era todas as crianças que já sofreram bullyng de valentões, todos os trabalhadores que já foram prejudicados por trapaceiros, todos os que se recusam a tomar o caminho mais fácil das drogas e optam por encarar os desafios honestamente, todos os nordestinos que sofrem preconceito, todos os adolescentes estranhos e desajeitados, todos os batalhadores humildes, todos os azarões, enfim.
Lavou nossa alma não só o nocaute, mas a resposta fenomenal de Pezão ao deixar de lado o discurso politicamente correto e dizer abertamente que a vitória foi pessoal sim e que o valentão “batia como um leão, mas apanhava como um gatinho”.
No UFC 156 em Las Vegas, o feito de Antonio “Pezão” Silva foi gigantesco como ele.