Era uma quarta-feira qualquer. Dia comum de trabalho. Saí em direção ao bairro do Flamengo, no Rio, para acompanhar a pesagem do Shooto Brasil 38, a convite de Dedé Pederneiras, treinador e organizador do evento, que foi realizado no último 19 de abril, na quadra da escola de samba Vila Isabel.
Com alguns atletas atrasados por conta do caótico trânsito carioca, e os presentes, em sua maioria, batendo o peso limite de suas respectivas categorias, tudo corria como planejado. Pela proximidade que me encontrava da academia Upper, sede da Nova União, procurei saber se haveria treino normal apesar das atividades. A resposta veio com Giovani Diniz: “Começa agora, 15h”.
Entrar na Nova União em dias normais é encontrar parte da elite brasileira do UFC em clima de total descontração. O potiguar Renan Barão brincou um pouco e se vestiu enfim para gravar o treino para o patrocinador. José Aldo, pela distância de sua luta com Anthony Pettis, avisou: “Hoje só vou ajudar meus companheiros”. Contudo, só no ajudar, o campeão peso-pena do Ultimate já mostrava do que é capaz. No recinto, Hacran Dias, Jussier Formiga, Raoni Barcelos e outros atletas da equipe iniciavam os trabalhos.
De um lado, Barão treinava com um jovem da academia para gravação do patrocinador. Mais próximo, Sérgio Bomba fazia seu treino trocando de adversário a cada dois minutos. No outro dojô, Jussier afiava seu jogo em pé e também dava trabalho aos sparrings no solo. Para onde você olharia em meio a tanta movimentação?
Depois de alguns minutos, Barão e Aldo ficaram frente a frente no treino. O campeão interino dos pesos-galos contra o campeão peso-pena do UFC trocavam socos rápidos. Aldo por vezes arriscava nas pernas de Barão, e este não se intimidou de ter o amigo e campeão da categoria acima puxando o jogo para o solo, chegando até a tentar um triângulo no manauara. Aldo conseguiu sair da posição. Será que Wineland terá a mesma sorte?
Do outro lado, Hacran e Raoni começaram sua etapa. Raoni, como sparring de Hacran, buscava com frequência as quedas. Fortes movimentos de quadril e tronco levavam Raoni a conseguir a queda, mas Hacran, que parecia ensaboado, se levantava com rapidez.
O treino corria forte, todos focados em suas etapas. Mas todos pararam ao ouvir um barulho diferente. Barão, ao buscar o chão contra um sparring bateu com a cabeça numa proteção da área de treino. Todos param. Barão se levanta, passa a mão na testa e quebra a tensão: “Não foi nada, a cabeça é dura!”. Depois do susto, os risos.
Chegou a vez de Thales Leites entrar para treinar. Após oito meses se recuperando de uma cirurgia no joelho, o peso médio, que já lutou até com Anderson Silva pelo cinturão do UFC, trabalhou bastante em pé e finalizou algumas vezes durante o treino.
Após o dia pesado de treinamento, o papo rolou solto entre os atletas. Entre brincadeiras, dicas de golpes compartilhadas entre si, futebol e até como uns e outros estavam vestidos no momento, o clima de companheirismo dentro da academia era evidente.
Seria esse entrosamento a base da fórmula de Dedé Pederneiras em sua fábrica de campeões?