Nunca tive tanto assunto quanto em 2012. Foi muito interessante ver meus dois temas favoritos – Direito e MMA – deixarem de ser restritos a grupos específicos e tornarem-se assunto do dia-a-dia dos brasileiros, graças ao julgamento do “Mensalão” e a consolidação do UFC no Brasil.
Não por acaso, Joaquim Barbosa e Anderson Silva foram algumas das personalidades mais comentadas do ano. Ambos proporcionaram ao cidadão brasileiro um enorme sentimento de desagravo e ufanismo. A atuação do Supremo Tribunal Federal foi tão ou mais satisfatória para a população quanto o nocaute técnico aplicado por Anderson no falastrão Chael Sonnen.
Silva aceitou a aguardada revanche e calou de vez o americano que havia ofendido não só seu adversário (com baixarias indignas de um verdadeiro artista marcial), mas todo o Brasil. O país parou para assistir ao UFC 148 e ouviram-se fogos de artifício após o evento, como se fosse uma final de futebol.
José Aldo na galera
A popularidade do esporte foi tão intensa que o Brasil sediou três eventos do UFC em 2012. Em janeiro, o UFC 142 ou UFC Rio 2 contou com belas finalizações, o impressionante chute de Edson Barboza e uma cena antológica para o MMA nacional: a comemoração do campeão José Aldo após nocautear Chad Mendes na disputa do cinto dos penas. Aldo saiu do octógono, driblou os seguranças e, literalmente, foi para a galera, caindo nos braços de uma multidão enlouquecida. Isso é comemoração brasileira, Mr. Dana White.
Já o UFC 147, em Belo Horizonte, não teve um final tão feliz. O evento trazia a final do reality show “The Ultimate Fighter Brasil”, transmitido semanalmente na TV aberta e acompanhado pelo povão. Os lutadores Rony Jason, Cezar Mutante, Serginho Moraes, Tiago Bodão, Hugo Wolverine, Daniel Sarafian e Francisco Massaranduba caíram no gosto popular. Os técnicos Vitor Belfort e Wanderlei Silva dividiam torcidas e fariam a tão esperada revanche que os fãs antigos de MMA aguardavam desde 1998. Contudo, Belfort quebrou a mão às vésperas da luta e foi substituído no combate principal por Rich Franklin. Jason e Mutante sagraram-se vencedores do “TUF Brasil”, mas Wanderlei perdeu na decisão após quase nocautear Franklin no segundo round. O saldo do UFC BH foi agridoce.
Falando em reality shows, a presença do ex-jogador Ronaldo “Fenômeno” em quadro sobre perda de peso foi campeã de audiência em 2012. Um novo programa de preparação física também seria boa opção para Maurício “Shogun” Rua. O curitibano apresentou-se visivelmente fora de forma na vitória contra Brandon Vera (UFC on Fox 4) e na derrota para Alexander Gustafsson (UFC on Fox 5). Para fãs como eu, foi uma pena ver Shogun desperdiçando seu talento e valentia em combates nos quais estava sem fôlego logo após o primeiro round.
Veio então o UFC Rio 3 (UFC 153), para afastar qualquer sentimento desagradável da torcida brasileira. As lutas foram todas de alto nível, com direito a apresentações clássicas de Rodrigo Minotauro e Anderson Silva. O baiano Minota ressurgiu (mais uma vez) após a grave lesão no final de 2011 e levantou a massa ao finalizar Dave Herman com o mesmo Jiu-Jitsu eficiente que apresentava nos tempos do Pride. Já Anderson, sempre ele, relembrou sua luta contra Forrest Griffin ao proporcionar novo espetáculo na vitória contra Stephan Bonnar, na categoria de peso acima da que está acostumado a lutar. Baixou a guarda, esquivou-se à vontade, nocauteou e reafirmou-se como o grande gênio do esporte.
Se Anderson provou que um ícone deve fazer algo a mais do que apenas vencer, Jon Jones teve um ano apagado. Tido como o homem capaz de vencer o “Aranha”, o americano campeão meio-pesado apresentou-se de maneira burocrática nas vitórias contra Rashad Evans (UFC 145) e Vitor Belfort (UFC 152). Apesar de ser dominante em ambos os embates, venceu Evans na decisão dos jurados e quase foi finalizado no armlock por Belfort.
Novos reis
O ano de 2012 também foi o ano do aguardado retorno de GSP, em luta difícil contra Carlos Condit, e de novos campeões. Demetrious Johnson sagrou-se o primeiro detentor do cinturão da nova categoria peso mosca (até 56kg), ao vencer Joseph Benavidez no UFC 152. Ben Henderson precisou derrotar Frankie Edgar duas vezes (UFC 144 e UFC 150) para ser reconhecido definitivamente como campeão da disputada categoria dos leve (até 70 kg). Henderson ainda defendeu o suado título contra Nate Diaz no UFC on Fox 5, solidificando seu posto. E o brasileiro Renan Barão conquistou o cinturão interino da categoria galo (até 61kg) ao bater o eterno vice Urijah Faber, no UFC 149, na decisão. Naquele momento, o Brasil chegou a ter campeões em quatro das oito categorias de peso do maior evento de lutas do mundo. Domínio absoluto.
Adeus a Fedor
O filósofo Marshall Berman já dizia que tudo que é sólido desmancha no ar e a indigesta derrota de Júnior “Cigano” dos Santos, no último UFC do ano, retirou do Brasil o título do peso pesado. Após uma vitória tranqüila sobre Frank Mir no UFC 146, nosso Cigano concedeu a revanche a Cain Velasquez no UFC 155 e acabou sofrendo um duro castigo. Uma derrota para o excelente Velasquez não é demérito para ninguém e só o futuro dirá qual será o resultado de uma inevitável terceira luta entre eles.
Para os velhos admiradores, 2012 será lembrado ainda pela emocionante despedida da lenda russa Fedor Emelianenko. Fedor, que dominou a categoria peso pesado do MMA mundial, invicto de 2001 a 2010 (apesar de nunca ter lutado no UFC), brindou os fãs com um último nocaute sobre o também lendário Pedro Rizzo, sob o olhar admirado do Presidente Vladimir Putin. Do Svidaniya, Camarada Emelianenko.
Feliz 2013
Cada vez mais um evento de massa no Brasil, o UFC vai continuar seu domínio do mundo esportivo em 2013. E que venha o MMA feminino, novos e velhos ídolos, grandes rivalidades, superlutas históricas e momentos memoráveis. Ficamos na expectativa. E você, o que espera do UFC em 2013?