Texto: Rafael Ribeiro*
Vamos considerar que você treina duas ou três vezes por semana. Não faz preparação física, tampouco tem o acompanhamento de um nutricionista e de um fisioterapeuta. Quais são as chances de, nessas condições, você vencer atletas como Marcus Buchecha, Isaque Bahiense, Marcio André, Mahamed Aly, entre tantos craques da elite do Jiu-Jitsu competitivo mundial?
Veja, eu não afirmei que você, que treina de maneira recreativa, vai perder. Sempre há uma chance de vitória, a história do esporte mostra isso. Porém, temos que considerar as chances e probabilidades com a máxima frieza. Os atletas que mencionei vivem para competir. O trabalho deles é treinar e são pagos para isso. Eles treinam em média seis horas por dia. O que pode chegar a 36 horas de treinamento semanais.
Ou seja, para querer disputar o Mundial lutando contra esses atletas fenomenais, você no mínimo tem que ter estruturas de treinamento e de dedicação semelhantes às deles, concorda?
Imagine a seguinte situação: você trabalha o dia todo, tem família e filhos, e ainda precisa treinar em alto nível. É uma situação bastante complicada, dividir o foco entre atividades completamente distintas, enquanto o seu adversário pensa exclusivamente em treinamento.
Portanto, para você ter um projeto realístico de vida competitiva, é preciso entender claramente que existem níveis competitivos e ainda saber definir com precisão em qual desses níveis você está. Esse tipo de autoconhecimento será um divisor de águas na sua trajetória vitoriosa no mundo das lutas.
Para facilitar a sua compreensão, defino a seguir cinco diferentes perfis de praticante de Jiu-Jitsu. Esses perfis vão ajudar você a se encontrar na escala evolutiva de desempenho competitivo, confira:
1. O praticante comum
É aquele lutador que frequenta a academia sem nenhum tipo de cobrança por resultados competitivos. Quando os colegas se animam para competir todos juntos, ele passa um mês treinando mais forte e até participa de um torneio local. Mas isso é algo esporádico, sem um planejamento prévio que envolva toda a temporada.
2. Recreacional
Aquele que treina com um certo grau de preocupação com a performance. Alimentação saudável e preparação física, além dos treinos de tatame. Esse é aquele lutador que sempre disputa as competições locais e algumas até fora do seu estado.
3. Amador
Aqui a vida já é de profissional e tudo começa a ser feito com planejamento. O lutado faz preparação física, tem nutricionista e fisioterapeuta, ambos desportivos, faz em média dez treinos por semana, somando os treinos de tatame, os drills e o treino físico, luta todos os campeonatos que pode e tem calendário estruturado com o objetivo final nos quatro grandes eventos da IBJJF (Europeu, Pan, Brasileiro e Mundial adulto ou master), mas não recebe salário para isso. Geralmente são os professores da modalidade e líderes de equipe. Aqui se enquadra grande parte dos integrantes das categorias master. Têm apoios pequenos de empresas e até para viagens, mas o seu sustento diário não provém das competições.
4. Profissional
Realiza tudo que um amador faz, porém, é pago para isso. Geralmente são aqueles atletas da categoria adulto, tanto na faixa-marrom como também na faixa-preta, já conhecidos pelo público e que sempre estão nos pódios das competições (sejam elas pequenas, médias ou grandes). Conseguem se manter de renda entre patrocinadores, premiações, aulas e também de seminários. Diferente dos amadores, os profissionais têm essa última fonte de renda bastante estabelecida no mercado. Mas vivem com o orçamento sempre no limite e assim sendo não conseguem investir como gostariam no aumento da performance.
5 – Profissional de elite
São aqueles profissionais que estão sempre no topo dos campeonatos grandes. Os campeões mundiais da IBJJF e de grandes eventos com premiações altas em dinheiro. O que difere do profissional, além dos resultados, é a maneira que eles se propõem a fazer suas missões. Tudo planejado nos mínimos detalhes. A preocupação com a renda já não importa mais, portanto, a dedicação é exclusiva para o treinamento. A performance aqui também é alavancada por profissionais que fazem coaching. Neste estágio, a consciência de que todo e qualquer detalhe do dia a dia pode fazer total diferença é o diferencial. A partir desses cinco perfis, avalie e se classifique: qual é o seu nível competitivo atual? Analise a sua resposta e trace uma meta que você realmente tenha boas chances de alcançar. Após a conclusão da sua primeira meta, reavalie. Você alcançou o objetivo primário? Teve outros objetivos alcançados nessa trajetória? Onde você pode mudar para alavancar os seus resultados e suas próximas metas? Boa sorte na jornada!
* Rafael Ribeiro é preparador esportivo de atletas amadores e profissionais, com foco em MEC (Modalidades Esportivas de Combate) e surfe. Ministra cursos de extensão e pós-graduação. Atualmente é responsável pela preparação esportiva dos atletas profissionais de Jiu-Jitsu Michael Langhi e Isaque Bahiense. Instagram: @rafaribeirojj